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“Moçambique tem que aprender exemplos positivos de Angola”

19 de maio de 2025

Daniel Chapo visita Angola este fim de semana. Especialista alerta para necessidade de Moçambique aprender com os exemplos positivos de Angola em vez de copiar os erros de défice democrático do regime angolano.

João Lourenço e Daniel Chapo
Os presidentes João Lourenço e Daniel Chapo lideram dois partidos históricos: o MPLA e a FRELIMO, respetivamente. “A nível da África Austral, são dois países de língua oficial portuguesa cujos movimentos de libertação continuam a governar”, segundo as palavras de Muhamad YassineFoto: Li Xueren/Constancio Sitoe/Xinhua/picture alliance

A visita oficial do Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, a Angola, a decorrer nesta sexta-feira e sábado (15 e 16.05), é aguardada com expetativa, tanto pelo setor político, como pelos agentes económicos. O chefe de Estado moçambicano desloca-se ao país irmão e deve certamente reunir-se com o seu homólogo João Lourenço para identificar oportunidades de investimentos e de negócios a desenvolver em Angola em vários domínios.

Muhamad Yassine, especialista em Relações Internacionais, recorda, em entrevista à DW África, que Angola e Moçambique, sendo países irmãos que partilham uma longa história em comum, são também dois países geridos por dois partidos irmãos. São respetivamente o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), que dominam os seus países ininterruptamente desde a independência.

Ao longo dos últimos 50 anos sempre se apoiaram mutuamente, adianta Yassine. "Não nos esqueçamos que, na última crise pós-eleitoral em Moçambique, Angola e o MPLA foram os primeiros a reconhecer a vitória de Daniel Chapo. Angola foi também o país que impediu a entrada no seu território do líder da oposição Venâncio Mondlane", recorda ainda Yassine.

DW África: Considera que há necessidade, nesta visita, de Moçambique aprender com os exemplos positivos de Angola em vez de copiar os problemas do regime angolano, que têm a ver com o notório défice democrático?

Muhamad Yassine (MY): Moçambique tem que aprender os exemplos positivos da Angola. O presidente Daniel Chapo é uma pessoa jovem que prometeu que, com a entrada dele no poder, vai fazer diferente para ter resultados diferentes. O que sabemos é que a Angola faz a mesma coisa para ter os mesmos resultados. Ou seja, a repressão política em Angola por nosso pão de cada dia. Que não vá o governo do Moçambique nesta viagem aprender mais uma forma de reprimir o seu povo, igual ao que Angola está a fazer agora.

DW África: De uma forma geral, o que é que se pode dizer sobre as relações entre Angola e Moçambique, considerados dois países irmãos?

MY: Bom, é preciso olhar primeiro para as relações de irmandade diplomáticas entre Moçambique e Angola. Não esquecer que a nível da África Austral são os dois países de língua oficial portuguesa e são também os dois países cujos movimentos de libertação continuam a governar.

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DW África: Quer dizer que as relações entre os dois partidos, a FRELIMO em Moçambique e o MPLA, são muito estreitas e ambos os partidos se apoiam mutuamente.

MY: O papel da Angola normalmente na questão de Moçambique tem sido crucial, primeiro para a estabilidade do partido do poder e, segundo, para alívio de certos problemas económicos que o Moçambique tem tido. O mais interessante para a visita de Daniel Chapo, no meu entender, é, entre parênteses, um agradecimento partidário a Angola por ter sido um dos primeiros países a reconhecer a vitória de Daniel Chapo.

DW África: Portanto, Angola, de certa forma, contribui para a estabilização do regime de Moçambique. E isso ficou bem claro na última crise institucional e pós-eleitoral que houve em Moçambique, não é assim?

MY: Se for a reparar, no processo de pacificação resultante das últimas eleições, Angola impediu a entrada do candidato da oposição, Venâncio Mondlane, um elemento que pudesse trazer perturbação social em Angola, mostrando, mais uma vez, a lealdade de Angola em relação ao partido do poder em Moçambique. E esta é uma lealdade partidária, acima de tudo.

DW África: Falando no intercâmbio económico, Angola tem muito a oferecer a Moçambique? Em que áreas é que poderá beneficiar da experiência angolana?

MY: Angola é, sem dúvida, em África, um dos países com uma longa experiência na gestão de recursos naturais. Aí há uma sintonia do ponto de vista de gestão e governação dos mesmos recursos. Mas é preciso também recordar que, no passado, Angola foi um dos pontos de entrada para o acordo de Moçambique com a ProInvest. É preciso recordar que Moçambique passou por um período longo, com uma dívida não declarada de cerca de 2 mil milhões [de euros] com a ProInvest, por uma orientação feita por Angola. E acredito que Moçambique não tem interesse de voltar a cometer o mesmo erro.

Mas sim com interesse de olhar para as zonas francas que Angola tem, para ver como elas são geridas e também aprender da experiência angolana em relação à gestão dos recursos naturais, em especial porque Moçambique entra agora [na exploração do] gás e petróleo.

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