O preço do produto aumentou mais de 300% para o consumidor na província de Manica. Autoridades apelam para o cumprimento de normas e bom senso dos vendedores, mas ameaçam tomar medidas em caso de incumprimento.
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O consumidor da província de Manica, no centro de Moçambique, está a acostumar-se com a ideia de fazer as festas de final de ano sem tomate. O preço do produto chegou a subir mais 300% em Chimoio. Isso se deve a escassez do produto nos mercados da região.
Tomate importado da África do Sul e do Zimbabué estão a ser vendidos ao consumidor na província e, como artigo importando, torna-se extremamente caro. Uma caixa de tomate de 30 kg que antes custava 650 meticais, o equivalente a 9 euros, agora chega a custar 2 mil meticais, o equivalente a mais de 28 euros.
Os moradores contam que está ser difícil cozinhar pratos com tomate nos últimos dias devido ao preço exorbitante.
"Antigamente comprávamos quatro tomates por apenas 10 meticais, mas atualmente compramos por 30 meticais. Enquanto uma bacia de 20 kg custa 1 mil a 1,2 mil meticais. Antigamente custava 300 a 350 meticais”, disse Isabel Chinhoca, moradora de Chimoio.
Os vendedores do mercado 25 de Junho - o maior mercado grossista de venda de tomate em Manica - explicam que ficaram sem tomate e tiveram de importar o produto dos vizinhos África do Sul e Zimbabué para abastecer a região centro.
"Aqui já não tem tomate por causa da seca. O nosso tomate perdeu valor, os consumidores já não consideram comprá-los, pois preferem o tomate importado de outros países”, diz a vendedora Sarifa Vieira.
Trabalho de convencimento
Tomate vira artigo de luxo em Manica
Como os vendedores compram o produto caro dos fornecedores, acabam revendendo a um preço ainda mais alto. A Inspeção Nacional das Atividades Económicas (INAE) tenta fazer com que os comerciantes baixem os preços do produto.
"Vieram nos mobilizar aqui no mercado para baixarmos os preços, mas isso é impossível. O que o Governo deve fazer primeiro é ligar para o mercado grossita do Zimpeto em Maputo, para baixarem lá e cá uniformizamos os preços”, sugere Vieira.
O diretor provincial da Indústria e Comércio de Manica, Ronaldo Naico, diz que "há um pequeno aumento” do preço do tomate em relação a quadra festiva do ano passado.
"A estratégia que estamos a adotar é de visitar os locais de produção, trabalhar com os agentes económicos visando direcioná-los a comprar o tomate onde existe. Acreditamos que poderemos tornar o preço de tomate acessível aos nossos consumidores”, disse.
Naico informou que foi criada uma comissão que está no terreno a verificar os preços praticados pelos comerciantes e a inspecionar os produtos fora do prazo: "Nós estamos a pautar pela sensibilização e pela boa colaboração. Nós queremos que o agente económico cumpra as normas de boa convivência comercial. Agora, se o agente económico reincidir, nós iremos tomar medidas”, garante o diretor.
Ciclone Idai: Viver numa tragédia
Centenas de milhares de pessoas precisam de ajuda urgente no centro de Moçambique, depois do ciclone Idai. Enquanto buscas por vítimas continuam, desalojados sobrevivem como podem.
Foto: DW/B. Jequete
Famílias refugiam-se no asfalto após ciclone
Depois do ciclone Idai, 40.000 pessoas precisam de ajuda na província de Manica, centro de Moçambique. Milhares ficaram sem casa e dezenas de famílias preferem acomodar-se no asfalto da EN6 do que ir para os centros de acomodação do Governo. Dizem que aqui é mais seguro, porque alguns centros estão lotados. Trouxeram para aqui os pertences que conseguiram resgatar, incluindo pilões para o milho.
Foto: DW/B. Jequete
Há casas inundadas até hoje
A extensão da devastação do ciclone Idai é grande. O Governo moçambicano estima que o ciclone destruiu uma área superior a 3.000 quilómetros quadrados. Mais de 90 mil casas foram afetadas; 50 mil ficaram totalmente destruídas. Muitas casas, construídas em zonas pantanosas, continuam inundadas quase duas semanas depois da passagem do ciclone. As autoridades tentam drenar as águas, mas é difícil.
Foto: DW/B. Jequete
Pobres ainda mais pobres
Milhares de pessoas estão em vários centros de acomodação. Quem tem casas de alvenaria foi menos afetado pelo ciclone do que outros cidadãos, com casas precárias, que perderam praticamente tudo e vieram para aqui. Rosa Ferro, uma anciã no centro de acomodação de Matarara, no distrito de Sussundenga, diz que nunca viu algo assim: "O ciclone Idai devastou tudo o que tínhamos. Reduziu-nos a zero."
Foto: DW/B. Jequete
Cada um por si, Deus por todos
No centro de acomodação de Matarara, muitas vezes o lema é "cada um por si e Deus por todos". Cada família cozinha o que tem, e as que não têm comida, na sua maioria, não são servidas quando chega a hora da refeição.
Foto: DW/B. Jequete
Apoio a vítimas vai chegando
O apoio às vítimas do ciclone Idai tem chegado à província de Manica. Tanto apoio de fora, como de dentro de Moçambique. A rede italiana de organizações não-governamentais AIFO acaba de apoiar as vítimas do Idai com víveres e material escolar. A AIFO desembolsou dois mil euros para a compra de donativos para desalojados em dois centros de acomodação.
Foto: DW/B. Jequete
40 toneladas de ajuda
Uma associação de caridade constituída por empresários em Manica, chamada "The All Heart Foundation", já disponibilizou 40 toneladas de produtos básicos, incluindo alimentos, para as vítimas do ciclone Idai nas províncias de Sofala e Manica. Mussa Laher, representante da associação, disse estar a receber o apoio de outros empresários, que ficaram sensibilizados com a causa.
Foto: DW/B. Jequete
Chima com feijão
Nos centros de acomodação, a chima com feijão é o prato mais cozinhado. Não há outra alternativa. As doações que mais chegam aqui são precisamente a farinha de milho e o feijão. Quem não consegue comer, porque está doente, passa fome.
Foto: DW/B. Jequete
Buscas continuam
As buscas por sobreviventes continuam tanto na província de Manica, como na província de Sofala. Só em Manica morreram, pelo menos, 148 pessoas devido ao ciclone Idai. 60 pessoas continuam desaparecidas, segundo o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC). Vários parceiros de cooperação têm dado apoio nas buscas. Os abutres também têm ajudado a encontrar cadáveres.
Foto: DW/B. Jequete
Utentes da EN6 já respiram de alívio
A EN6, que liga as províncias de Manica e Sofala, já está desbloqueada. Foram feitos desvios, para que os carros pudessem passar. Até domingo passado (24.03), a passagem era feita através de barcaças ou moto-táxis, que cobravam taxas altíssimas.
Foto: DW/B. Jequete
Água dura em pedra dura…
Ninguém pensava que o projeto de ampliação e reabilitação da EN6 acabaria assim. Depois do ciclone Idai, a fúria das águas destruiu quase todas as infraestruturas. Até as pontes tombaram.
Foto: DW/B. Jequete
Sem aulas
A Escola Primária e Completa de Inchope ficou sem tecto devido ao ciclone Idai. Todos os documentos ficaram ensopados, incluindo os processos dos alunos e certificados. Mais de 3 mil alunos estão sem aulas.
Foto: DW/B. Jequete
Perigo de vida
As dezenas de pessoas que estão a viver na EN6 fizeram do asfalto o seu pátio de sua casa. Debulham o milho ou estendem a roupa paredes meias com as viaturas - e correm perigo de vida. Se uma viatura perde a direcção, pode varrer as cabanas à beira da estrada e matar alguém.