Trabalhadores da Beira em "braço de ferro" com o município
Arcénio Sebastião (Beira)
23 de junho de 2018
Mais de 200 trabalhadores da empresa de transportes da Beira, no centro de Moçambique, temem ser despedidos por tentarem reaver direitos garantidos pela antiga direção da companhia.
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Na cidade da Beira, mais de 200 trabalhadores da empresa municipal de transportes públicos podem ser despedidos pelo Conselho Municipal devido a um braço de ferro entre os colaboradores, que não contam ainda com um sindicato, e a antiga direção, da qual não se conhece o paradeiro. Ligada aos despedimentos está uma dívida de mais de setenta milhões de meticais, cerca de um milhão de euros, aos ex-trabalhadores da extinta TPB - Transportes Públicos da Beira.
Entre os trabalhadores estão motoristas, mecânicos e gestores de rotas trespassados da extinta TPB, que passou a se chamar TMB - Transporte Municipal da Beira e é atualmente gerida pela edilidade. No processo de transição os mesmos assinaram novos contratos com a nova direção sem que houvesse garantias de indemnização pela interrupção dos contratos anteriores ou de pagamento dos salários em atraso.
Moçambique: Trabalhadores da Beira em "braço de ferro" com o município
Sete meses depois, os empregados viram-se abandonados pela antiga direção que se comprometera a cumprir os compromissos antes assumidos pelo Ministério dos Transportes.
Direitos
Os trabalhadores teriam iniciado uma greve reivindicando indemnizações, salários atrasados e várias regalias que gozavam na extinta TPB. "Todos os nossos direitos adquiridos ficaram para trás, as pessoas passaram para este lado com novos contratos que são contratos de um ano. Nenhuma cláusula diz que deve ser renovado o contrato. Portanto, se o patrão quiser, pode despedir todos os trabalhadores e a nossas regalias ficaram lá atrás. Quem vai resolver?", desabafou José Carlos, um dos afetados.
O Ministério dos Transportes e Comunicações teria, na altura, entrado em acordo com os ex-trabalhadores no sentido de pagar os salários em atraso e indemnizações num prazo de seis meses. Mas depois deste período o acordo não foi cumprido e o ministério obrigou a nova direção a responsabilizar-se pelas despesas.
Ao todo, são mais de 46 milhões de meticais de indemnizações, o equivalente a mais de 660 mil euros; 6 milhões de meticais de salários atrasados, perto de 85 mil euros; 2 milhões de meticais referentes ao pagamento de décimo terceiro salário, ou seja, cerca de 28 mil euros; e mais de 150 mil meticias, perto de 2 mil euros de subsídios de morte, assegurou um outro trabalhador.
De acordo com este trabalhador, que preferiu não se identificar, representantes do Ministério dos Transportes disse que depois que os colaboradores assinassem os novos contratos o assunto seria resolvido. "Cá fomos obrigados a assinar novos contratos e então o ministério mandou-nos a resposta de que não existe dinheiro para indemnização dos trabalhadores, mas que deu orientações ao município que continuasse a pagar os salários anteriores que vínhamos ganhando na TPB", revelou.
"O problema é do Ministério dos Transportes"
Decepcionada com a decisão tomada pelos trabalhadores, a edilidade lançou um concurso público para a contratação de motoristas em substituição dos grevistas. O diretor da empresa municipal TMB disse à imprensa que foram feitas várias reuniões com os trabalhadores e lhes foi informado que "os problemas da antiga empresa quem deve dar solução é o Ministério dos Transportes".
Ainda de acordo com Alberto Meque, "o Ministério dos Transportes respondeu aos trabalhadores de forma convergente com o despacho que deram ao município e isto começou a criar convulsões na empresa".
Moçambique: Os mototáxis de Nampula
Com a crise no transporte público na província de Nampula, os mototáxis multiplicaram-se. A atividade surgiu há mais de cinco anos, mas recentemente alastrou-se em várias cidades. Há vantagens e desvantagens.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mototáxis conquistam os jovens
O serviço de mototáxi está a ganhar espaço em Nampula. A atividade veio reduzir o drama da crise do transporte público em quase toda a província. Esta é mais uma nova forma de ganhar a vida, que tem conquistado muitos jovens nos últimos anos.
Foto: DW/S. Lutxeque
Estacionamentos "ilegais"
Na cidade de Nampula, nas principais ruas e centros de concentração populacional estão instalados parques de estacionamento "ilegais" de mototáxis. Não há nenhuma identificação. Mas é possível reconhecer esses locais através da concentração de jovens com motorizadas, sempre prontos a servir os cidadãos.
Foto: DW/S. Lutxeque
Risco de saúde em troca de dinheiro
Há muitos riscos na atividade dos mototaxitas. Os condutores desafiam o sol, a chuva e até chegam mesmo a partilhar os passeios nas ruas com os peões e vendedores, mas também a estrada com viaturas. No final, o que se pretende é lucrar e a saúde só fica acautelada mais tarde, com dinheiro no bolso.
Foto: DW/S. Lutxeque
Crise no transporte
Devido à insuficiência de transporte público na cidade Nampula, aliada à superlotação e ao encurtamento de rotas, muitos cidadãos optam pelos mototáxis. Há muitas vantagens para o passageiro, uma delas é chegar mais rápido ao destino, sem paragens ou desvios de caminhos.
Foto: DW/S. Lutxeque
Melhor opção contra o desemprego
Amade Wahari tem 34 anos, é casado e pai de cinco filhos. Há três anos o mototáxi é a fonte de sustento da sua família. Por dia consegue entre 400 a 500 meticais. Mas não esconde a sua indignação: "Passamos muito mal com a polícia. Quase diariamente são confiscadas as nossas motorizadas, até mesmo com documentos e tudo que é necessário", revelou.
Foto: DW/S. Lutxeque
Conduzir em zonas perigosas
A cidade de Nampula, a terceira maior do país, apresenta buracos em algumas estradas. Uma delas é a rua Dom Manuel Viera Pinto, no bairro de Namicopo, onde há um grande índice de criminalidade. Mas os mototaxistas arriscam-se até altas horas. Aliás, nesta rua está o maior centro de concentração de mototáxis. Cidadãos e condutores lamentam a situação e pedem ações de combate ao crime.
Foto: DW/S. Lutxeque
Viver de motorizada sem conduzir
Não só os jovens ganham dinheiro como mototaxistas, mas há quem viva de mota sem conduzir. Jeremias é um dos cidadãos que consegue fazer dinheiro através da montagens de motocicletas, que depois serão vendidas em lojas. Peça por peça, Jeremias "faz"’ motorizadas e no final ganha de 400 a 500 meticais por veículo montado.
Foto: DW/S. Lutxeque
Preços das motas disparam
Por causa da crise económica que o país atravessa desde 2015, os preços dos produtos e serviços subiram. Os estabelecimentos comerciais também não ficaram alheios à esta realidade e, por isso, o preço da motorizada duplicou nos últimos dois anos. Em 2016, uma motorizada de marca LIFO XY-49-10 custava 19 mil meticais, mas atualmente pode chegar a 40 mil meticais.
Foto: DW/S. Lutxeque
Proliferação de oficinas de motas
Na cidade de Nampula, cresce o número de oficinas de reparação de motorizadas. Muitas delas chegam mesmo a funcionar em passeios ou estradas, sob o olhar das autoridades que pouco, senão nada, fazem para pôr fim ao problema. Este cenário foi, em parte, originado pelo aumento do número de motociclistas e mototaxistas.
Foto: DW/S. Lutxeque
Criminalidade "motorizada"
Os ladrões estão a usar as motas para praticar assaltos. O roubo de motorizadas é também outra estratégia cada vez mais frenquente no mundo do crime, na cidade de Nampula. Semanalmente, a polícia recupera dezenas de veículos roubados. As autoridades admitem o aumento da criminalidade, sobretudo no populoso bairro de Namicopo, mas garantem que ações de combate estão em curso.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mortes causadas por mototaxistas
As autoridades policiais de Nampula dizem que os mototaxistas têm contribuído para as mortes nas estradas, devido à falta de conhecimento das regras de condução. "O departamento de Polícia de Trânsito continua a sensibilizar os mototaxistas, para que obedeçam as normas de trânsito, ou seja, não devem levar mais de um cidadão", disse Zacarias Nacute, porta-voz da polícia em Nampula.