Moçambique: Transportadores pedem novo aumento da tarifa
Conceição Matende
23 de março de 2022
As consequências da guerra na Ucrânia estão a fustigar a vida dos moçambicanos com o aumento do preço dos combustíveis. Produtos alimentares ficaram mais caros e os transportadores reclamam uma nova tarifa. Já há greves.
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Os preços dos transportes semicoletivos de passageiros aumentaram há poucos meses, mas agora, com a subida do preço dos combustíveis, os transportadores públicos pedem um novo aumento.
O motorista Carlos Ceguenza diz que, com o litro do diesel a custar mais de 70 meticais (cerca de um euro) e o da gasolina a mais de 77 meticais, será impossível obter lucros se as taxas dos semicoletivos não forem alteradas.
Segundo Ceguenza, o preço é "muito elevado", o que gera transtornos aos transportadores. "Os nossos carros, são [movidos] a gasolina, usamos praticamente quase todo o dinheiro [das taxas cobradas aos clientes] para comprar combustível."
O Governo moçambicano justifica o encarecimento dos combustíveis com o aumento do preço do crude no mercado internacional, devido à guerra na Ucrânia.
Uma decisão que gerou uma onda de protestos em Moçambique.
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Transportadores em greve
Nas cidades de Nampula e Tete, os transportadores paralisaram os seus serviços. Já em Lichinga, os profissionais do setor optam por outra via.
O coordenador do Parque de Estacionamento dos Transportes Públicos de Chiuaúla, Assimide Assane, diz à DW que em Niassa estão a sensibilizar os transportadores para não aderirem à greve e esperar pelo resultado das negociações entre a Associação dos Transportadores e o Governo.
"Não vamos imitar o que as outras províncias estão a fazer. Aqui em Lichinga nunca nos manifestámos. Outras províncias gostam de fazer manifestação. Mas nós nunca fizemos", declarou Assimide Assane.
Produtos alimentares mais caros
Enquanto os transportadores públicos procuram uma saída para o impasse, há outra preocupação: O preço de produtos alimentares básicos aumentou, também por causa da subida dos preços dos combustíveis.
O aumento já se sente nos armazéns, porque o preço do frete aumentou, diz o comerciante Furcane Hamede.
"O diesel aumentou 9 meticais [cerca de 13 cêntimos de euro] por litro e é por isso que os produtos também já subiram - o óleo, o trigo, o sabão, todas essas coisas. Trazemos produtos de Nampula e outros de Nacala-Porto", disse Hamede antes de apontar uma solução para atenuar o preço dos produtos junto à população moçambicana.
"Estamos a pedir que, na fábrica, reduzam o preço para que possamos comprar a um preço baixo e vender barato, porque nesse momento não conseguiremos comprar óleo de cozinha, porque o preço está muito elevado. A população está a reclamar, eles querem que os preços sejam reduzidos."
O aumento no preço do óleo de cozinha é também um resultado da guerra na Ucrânia, que é o maior produtor mundial de óleo de girassol. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou na semana passada para um possível "colapso do sistema alimentar mundial" se o conflito não cessar.
Moçambique: Propriedades e instituições ligadas às "dívidas ocultas"
O processo denominado "dívidas ocultas" envolve não apenas pessoas de muitos quadrantes políticos e sociais, mas também empresas, propriedades e instituições.
Foto: Romeu da Silva/DW
O julgamento das "dívidas ocultas" decorre no Tribunal Judicial da Cidade de Maputo
O processo decorre no Tribunal Judicial da Cidade de Maputo desde 23 de Agosto de 2021. A sexta sessão revelou que arguidos e declarantes adquiriram residências luxuosas e criaram empresas de lavagem de dinheiro. A sociedade moçambicana ficou a conhecer a extensão da lesão que sofreu por causa das dividas ocultas.
Foto: Romeu da Silva/DW
Tudo começou no bairro de Sommerschield
Tudo começou no bairro de elite da Sommerschield, onde fica a sede do Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE). Não se trata do edifício na foto, já que é proibido fotografar o edifício do SISE. Mas foi nas suas instalações que foi desenvolvido o projeto de proteção da Zona Económica Exclusiva (ZEE), que acabou endividando o Estado em cerca de 2,2 mil milhões de dólares.
Foto: Romeu da Silva/DW
Lavagem de dinheiro
No julgamento, o Ministério Público (MP) acusou o réu António Carlos do Rosário de ser proprietário de vários apartamentos neste edifício chamado Deco Residence. O MP refere que do Rosário comprou, em 2013, três apartamentos, no valor de 500 mil dólares cada. O valor foi transferido pela IRS para a Txopela Investiments, de que era administrador.
Foto: Romeu da Silva/DW
Tribunal confisca apartamentos
Alexandre Chivale, advogado do réu António Carlos do Rosário, ocupava um apartamento aqui na Deco Assos. Foi obrigado a abandonar a unidade e a entregar a chave ao Tribunal de Maputo. A área residencial está a ser construída ao longo da marginal, uma zona que passou a ser muito concorrida.
Foto: Romeu da Silva/DW
Apartamento Xenon
António Carlos do Rosário também terá "metido a mão" neste imóvel. Na acusação consta que, em 2015, a Txopela transferiu 2,9 milhões de dólares para a Imobiliária ImoMoz para a compra de apartamentos neste edifício, que antes funcionava como cinema Xenon.
Foto: Romeu da Silva/DW
Alerta lançado pela INAMAR foi ignorado
A INAMAR é uma empresa que se dedica à inspeção naval. No processo da contratação das dívidas, a INAMAR avisou que os barcos da empresa pública EMATUM, que custaram 600 milhões de dólares, foram construídos à revelia das normas. Por causa das irregularidades, a INAMAR chumbou as embarcações. E alertou as autoridades relevantes, que ignoraram o relatório.
Foto: Romeu da Silva/DW
Casa de câmbios transformada em "lavandaria"
A Africâmbios transformou-se numa casa na lavagem de dinheiro. Alguns funcionários foram obrigados a abrir contas, usadas pelos seus superiores para a transferência de dinheiro da empresa Privinvest, igualmente envolvida no escândalo. O proprietário da Africâmbios, Taquir Wahaj, fugiu e é procurado pela justiça moçambicana.
Foto: Romeu da Silva/DW
Presidência e reuniões do comando conjunto
A presidência da República, perto da edifício da secreta moçambicana, acolheu algumas reuniões do Comando Conjunto e Operativo onde estiveram os ministros da Defesa, Filipe Nyusi, atual Presidente da República, Alberto Mondlane, ministro do Interior e elementos do SISE. Há muita pressão para que o antigo Presidente Guebuza e Nyusi sejam ouvidos como réus e não como declarantes no caso.
Foto: Romeu da Silva/DW
MINT fazia para do Comando Conjunto
O Ministério do Interior, assim como o Ministério da Defesa, eram considerados cruciais no projeto de Proteção da Zona Económica Exclusiva. O tribunal tem na lista de declarantes o antigo ministro Alberto Mondlane para prestar declarações e o papel que este Ministério teve na contratação das dívidas ocultas.