Moçambique: Tudo a postos para intercalares em Nampula
Sitoi Lutxeque (Nampula)
23 de janeiro de 2018
Citadinos dizem estar preparados para uma votação consciente no seu candidato nesta quarta-feira (24.01). Polícia e o STAE também asseguram que tudo está preparado e que a questão dos cadernos eleitorais foi solucionada.
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Sete horas desta quarta-feira (24.01.) é a hora em que as assembleias de voto começarão a funcionar para a eleição intercalar. O escrutínio visa escolher o sucessor de Mahamudo Amurane, edil da cidade assassinado em outubro passado, por pessoas até agora não identificadas.
Ainda com o sentimento de dor pela perda do edil, os citadinos garantem afluir em massa às mesas de voto para fazerem a escolha certa do novo líder da edilidade de Nampula.
Pedro Fernando é um deles: "Vou votar, porque quero alguém que me possa representar da melhor maneira ao nível da cidade e que sobretudo possa resolver as nossas preocupações. Todos os candidatos apresentaram os seus manifestos eleitorais e eu já escolhi o meu candidato. Não vou votar de forma emocional, mas sim a favor do pelo projeto para Nampula".
STAE pronto para qualquer eventualidadeSão cinco os candidatos que disputam o cargo de presidente do Município de Nampula. Carlos Saíde do MDM, Amisse Cololo da FRELIMO, Paulo Vahanle da RENAMO, Filomena Mutoropa do PAHUMO e Mário Albino Muiquissince do AMUSI.
Ganhe quem ganhar, o mandato vai ser curto, uma vez que as eleições autárquicas em Moçambique já estavam marcadas para 10 de outubro, daqui a pouco menos de nove meses, quando Mahamudo Amurane foi assassinado.
Os órgãos da administração eleitoral esperam que este ato se traduza numa verdadeira festa democrática, pois segundo António Chipanga, primeiro vice-presidente da CNE, a Comissão Nacional de Eleições, todas as condições estão criadas.
Até em caso de cortes da corrente elétrica Chipanga garante: "Caso haja apagão, esperamos que não haja, temos alternativas [lanternas] para que de imediato se dê continuidade [a votação]. Portanto, o trabalho não ficará afetado pela falta de energia."
Sobre as irregularidades relacionadas com os cadernos eleitorais, que já haviam sido denunciadas pelos partidos políticos, Lino Principe Uataia, diretor provincial do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) de Nampula diz o seguinte: "Dos dados que nós temos, penso que este problema já foi ultrapassado e até aqui não temos nenhuma notificação de qualquer força politica nesse sentido. Então, penso que todas as condições, relativamente a esse aspeto já foram ultrapassadas."
Polícia garante segurançaSão 401 mesas das assembleias de voto para atender 296 mil eleitores. O número pode ser elevado, mas haverá uma total segurança para evitar tumultos e desordens, como prometeu Zacarias Nacute, porta-voz da Polícia da República de Moçambique em Nampula.
Nacute diz que "a Polícia está extremamente equipada e reforçada para responder a todos os casos de desordem pública que possam ocorrer durante o processo de votação."
E o porta-voz assegura igualmente que há efetivos policiais suficientes para o efeito: "Estão no terreno não só os nossos oficiais operativos, mas também os oficiais burocráticos. Eles foram engajados para a garantia da segurança. Aproveitamos para apelar aos munícipes da cidade de Nampula a permanecerem neste clima de civismo."
Para a eleição intercalar desta quarta-feira (24.01.), foram credenciados 1200 observadores nacionais e internacionais, além de cerca de 150 jornalistas nacionais para a cobertura integral do processo.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.