Moçambique: UE preocupada com famílias afetadas por ciclones
Lusa
17 de outubro de 2020
O embaixador da União Europeia (UE) em Moçambique alertou para a vulnerabilidade das famílias que ainda não conseguiram reconstruir suas casas mesmo após mais de um ano da passagem do ciclone Idai, em março de 2019.
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"A nossa preocupação está naquelas famílias que ainda estão em lugares temporários e zonas de reassentamento. Esta deve ser a nossa prioridade", declarou António Sanchez-Benedito, o embaixador da União Europeia (UE) em Moçambique, após uma visita à região centro do país. O ciclone Idai provocou 604 mortos e afetou mais de 1,8 milhões de pessoas.
O programa de reconstrução pós-ciclone, que prevê reabilitar e construir mais de 15 mil casas, vai obedecer ao grau de vulnerabilidade de cada família, priorizando, entre outros, "as mulheres grávidas de baixos rendimentos, crianças órfãs e chefes de família, idosos desamparados e doentes crónicos".
Entretanto, o diplomata diz estar satisfeito com o avanço dos trabalhos, mas afirma ser necessário garantir que as novas construções sejam resilientes, tendo em conta a vulnerabilidade do país face a calamidades naturais.
Reconstrução é um processo longo
"Eu gostaria que o processo fosse mais flexível, mas a reconstrução é um processo longo e que precisa de uma série de garantias", declarou António Sanchez-Benedito.
Segundo dados oficiais, a UE comprometeu-se a desembolsar um total de 200 milhões de euros para as zonas afetadas por ciclones no último ano em Moçambique, além de ter disponibilizado um apoio de emergência orçado em 19 milhões de euros logo após os desastres.
Dos 200 milhões, 70 milhões de euros já foram disponibilizados para projetos em curso e espera-se que nos próximos meses a UE assine dois protocolos com Governo para os restantes 130 milhões de euros.
Do total, segundo Sanchez-Benedito, 100 milhões de euros serão doados e a outra metade será um crédito concessionário, sendo que a estratégia é aplicar o dinheiro em diferentes áreas.
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Valores já disponíveis
Até julho deste ano, segundo dados do Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclones em Moçambique, estavam disponíveis através de vários parceiros cerca de 100 milhões de dólares (85 milhões de euros).
Ciclone Idai: Após um ano, infraestruturas estão destruídas
02:18
"Há já resultados em termos de infraestruturas. Foram reabilitados mercados, escolas e habitações. Mas há ainda muito caminho pela frente porque a reconstrução é um caminho longo", afirmou António Sanchez-Benedito.
Nos dias 31 de maio e 01 de junho de 2019, o Governo moçambicano realizou uma conferência internacional de doadores na cidade da Beira para a mobilização de recursos visando a reconstrução.
O Governo levou à conferência um pedido de ajuda no valor de cerca de 3,2 mil milhões de dólares (2,7 mil milhões de euros), mas obteve promessa de apoio no valor de 1,2 mil milhões de dólares (pouco mais mil milhões de euros) que vão sendo desembolsados à medida que são validados os respetivos projetos.
Ciclones em Moçambique: Agora, a reconstrução
A cidade da Beira recebe durante dois dias a conferência internacional de doadores, após os ciclones Idai e Kenneth. Os ciclones afetaram mais de 1,5 milhões de pessoas. Este é um retrato de um país abalado.
Foto: Lena Mucha
Ajuda chega à Beira
Helena Santiago, de 53 anos, trabalha nos escombros da sua casa no bairro dos CFM - Maquinino, na Beira, onde vive com o marido e oito filhos. A sua casa não resistiu ao ciclone Idai. A conferência internacional de doadores que começa esta sexta-feira (31.05) na Beira poderá ser uma esperança para muitos afetados como Helena Santiago, pois uma das metas é a reconstrução.
Foto: Lena Mucha
Beatriz
Beatriz é fotografada com três dos sete filhos em frente ao seu campo de milho devastado. A sua aldeia natal, Grudja, esteve dias a fio debaixo de água. Beatriz e os filhos conseguiram salvar-se das enchentes que surpreenderam os moradores na manhã de 15 de março. Durante três dias, as pessoas ficaram à espera de ajuda no telhado da escola ou em cima das árvores, ou até que a água baixasse.
Foto: Lena Mucha
Centro de saúde destruído
Pacientes e crianças estão à espera de serem atendidos por uma equipa de emergência em frente ao centro de saúde de Grudja. O centro foi completamente destruído pelas inundações. Medicamentos e materiais de tratamento ficaram inutilizáveis devido à água.
Foto: Lena Mucha
Salvação
No telhado da escola primária Nhabziconja 4 de Outubro, muitas das pessoas salvaram-se das inundações. Algumas semanas depois do desastre, esta escola conseguiu retomar as aulas. Muitas outras escolas, no entanto, continuam fechadas.
Foto: Lena Mucha
Regina
Regina trabalha com a sogra, Laina, na sua propriedade. Antes da passagem do ciclone, Regina morava com o marido e os cinco filhos numa aldeia próxima de Grudja. As inundações destruíram a sua casa e as plantações. Ela e o marido refugiaram-se em cima de uma árvore e sobreviveram. Alguns dos seus filhos morreram nas inundações, outros ainda estão desaparecidos.
Foto: Lena Mucha
No Revuè
O rio Revuè, na localidade de Grudja, transbordou devido às fortes chuvas após o ciclone, inundando grande parte das terras circundantes. Nesta foto, tirada depois do nível da água ter voltado ao normal, estas mulheres lavam a roupa nas margens do rio.
Foto: Lena Mucha
Campos arruinados
Nesta imagem, as jovens Elisabete Moisés e Victória Jaime e Amélia Daute, de 38 anos, estão num campo de milho arruinado. Como muitos outros, tiveram que esperar vários dias nos telhados de Grudja depois das fortes chuvas, em meados de março. 14 dos seus vizinhos, incluindo 9 crianças, afogaram-se durante as inundações.
Foto: Lena Mucha
Escola primária tornou-se hospital
Mulheres e crianças estão à espera de tratamento médico, dado por uma equipa de emergência numa escola primária no distrito de Búzi, a oeste da cidade costeira da Beira. O ciclone Idai atingiu a costa moçambicana nesta cidade de cerca de 500 mil habitantes no dia 15 de março.
Foto: Lena Mucha
Fila para sementes
Em muitas partes do país, as plantações ficaram destruídas pelas enchentes. Durante um ano, pelo menos 750 mil pessoas deverão ficar dependentes de alimentos, segundo estimativas do Programa Alimentar Mundial. Em Cafumpe, no distrito de Gondola, 50 famílias receberam sementes de milho, feijão e repolho da organização de assistência alemã Johanniter e da ONG local Kubatsirana.
Foto: Lena Mucha
Reconstrução
Em Ponta Gea, na Beira, regressa-se à vida quotidiana. Muitas infraestruturas foram destruídas pelo ciclone. Nesta foto, cabos de energia destruídos e linhas telefónicas estão a ser reparados. Mas, a poucos quilómetros daqui, aldeias inteiras precisarão de ser reconstruídas. Em muitos sítios, ainda falta água e alimentos.