UE saúda "passos na direção certa" dados em Moçambique
Lusa | ar
1 de março de 2019
UE saudou o diálogo em curso em Moçambique entre Governo e RENAMO, considerando que os mais recentes desenvolvimentos são "passos na direção certa" com vista a um acordo de paz permanente.
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Numa declaração divulgada esta sexta-feira (01.03.), em Bruxelas, pelo serviço de porta-vozes do Serviço Europeu de Ação Externa, o corpo diplomático da UE começa por referir que "a reunião entre o Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, e o presidente da RENAMO, Ossufo Momade", na passada quarta-feira (27.02.), "e os recentes progressos na implementação do memorando de entendimento em assuntos militares são passos na direção certa".
"Uma implementação atempada e efetiva de todos os compromissos acordados, incluindo sobre desarmamento, desmobilização e reintegração e descentralização, é crucial e ajudará a promover confiança mútua. É importante que o diálogo ao mais alto nível entre as duas partes continue, para alcançar um acordo de paz permanente tão cedo quanto possível", lê-se na declaração do corpo diplomático da UE liderado pela Alta Representa Federica Mogherini.
UE continua a apoiar os esforços de paz
A concluir, a União Europeia reitera que "continuará a apoiar os partidos neste esforço, assim como o processo global de paz e reconciliação nacional, para benefício de todos os moçambicanos".
Recorde-se que na quarta-feira, após um encontro entre o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, e o presidente da RENAMO, Ossufo Momade, as duas partes assumiram o compromisso de acelerar a implementação do memorando de entendimento assinado entre si no âmbito das negociações de paz.
Segundo um comunicado da Presidência da República de Moçambique, as partes comprometeram-se a instruir equipas de trabalho para acelerarem a implementação do cronograma previsto no memorando assinado em agosto do ano passado.
Progressos nas negociações
O encontro entre Filipe Nyusi e Ossufo Momade ocorreu dias depois da nomeação de mais 11 oficiais da RENAMO para cargos de chefia no exército moçambicano, totalizando, com mais três nomeados em dezembro do ano passado, 14 oficiais do principal partido de oposição em Moçambique em cargos de liderança nas Forças Armadas moçambicanas.
No encontro, que contou com a presença do Grupo de Contacto e membros da RENAMO e da FRELIMO, partido no poder, as partes celebraram os progressos nas negociações.
Negociações há mais de ano e meioO atual processo negocial entre o Governo moçambicano e a RENAMO arrancou há mais de um ano e meio, quando Filipe Nyusi se deslocou, no dia 06 de agosto de 2017, à Gorongosa, no centro de Moçambique, para uma reunião com o então líder do principal partido de oposição, Afonso Dhlakama, que morreu a 03 de maio do ano passado devido a complicações de saúde.
Ossufo Momade, que foi eleito presidente no último congresso do partido no mês passado, transferiu-se de Maputo para a Serra da Gorongosa em junho do ano passado, ainda como líder interino, condicionando a sua saída daquela que foi a base central da RENAMO, quando ainda era movimento de resistência armada, à integração dos seus guerrilheiros.
Além do desarmamento e da integração dos homens do braço armado do maior partido da oposição nas Forças Armadas, a agenda negocial entre as duas partes envolvia a descentralização do poder, ponto que já foi ultrapassado com a revisão da Constituição, em julho no ano passado.
Quelimane: Os mecânicos da capital do ciclismo de Moçambique
A bicicleta é o meio de transporte de eleição em Quelimane, capital da província da Zambézia. No centro, multiplicam-se oficinas e mecânicos prontos para prestar os seus serviços quando há uma avaria.
Foto: DW/M. Mueia
Modelos para todos os gostos
Na capital do ciclismo há dezenas de lojas, a maioria de cidadãos chineses, indianos e nigerianos, dedicadas à venda de bicicletas novas e usadas. Em cada um dos estabelecimentos, há no mínimo 500 veículos de todos os feitios e para todas as idades. O preço de uma bicicleta em segunda mão varia entre os 5 mil e os 10 mil meticais, cerca de 140 euros. Os estudantes são os principais compradores.
Foto: DW/M. Mueia
Estratégia de mercado
As oficinas do Mercado Central foram instaladas em locais estratégicos, como o próprio recinto do mercado e a avenida 25 de Junho. É aqui que muitos clientes procuram os serviços de reparação. Os preços variam em função do trabalho: reparar uma roda de bicicleta, por exemplo, pode custar 70 meticais - cerca de um euro. A manutenção completa de uma bicicleta nova ronda os 300 meticais.
Foto: DW/M. Mueia
Carga horária pesada
Muitos mecânicos têm de caminhar entre 10 a 15 quilómetros da zona de residência até ao mercado, onde se encontram as oficinas. O horário de trabalho não é fácil: as oficinas abrem de madrugada, entre as 4h00 e as 4h30, e fecham por volta das 17h30. Enquanto alguns regressam finalmente a casa, após um longo dia de trabalho, outros frequentam as aulas do regime noturno.
Foto: DW/M. Mueia
De bicicletas a motas
Fora do mercado central da cidade de Quelimane também há muitas oficinas. Muitos mecânicos oferecem serviço duplo: reparam não só bicicletas, mas também motorizadas. O arranjo de motas é mais rentável, duma vez que se trata de uma "máquina" mais complexa que uma bicicleta.
Foto: DW/M. Mueia
Clientes satisfeitos
Aiena Azevedo é uma das clientes assíduas destas oficinas. Hoje, traz novos pneus para substituir as rodas da sua motorizada. Nunca teve queixas sobre a qualidade dos serviços prestados pelos mecânicos no mercado central de Quelimane. Não se importa de pagar mais pela confiança: nunca deixaria a sua mota nas mãos de mecânicos fora do mercado.
Foto: DW/M. Mueia
Negócio gera negócio
A poucos metros das oficinas, há todo o tipo de peças para bicicletas e motorizadas à disposição de mecânicos e clientes. Em caso de danos maiores nos veículos, é preciso substituir várias componentes e o preço do arranjo aumenta.
Foto: DW/M. Mueia
Aprender o ofício
Todos os dias, as oficinas de Quelimane recebem novos aprendizes de mecânico de bicicletas. É o caso de Lucas Alilo Luís (à direita) que há seis meses trabalha com o mestre Fernando Mariano (à esquerda), os dois naturais de Inhassunge e residentes em Icidhua. Lucas não concluiu a 10ª classe por falta de condições e decidiu juntar-se aos mecânicos do centro.
Foto: DW/M. Mueia
Mecânicos a mais
O mecânico Lucas Casimiro, de 21 anos, do bairro Icidhua, queixa-se da falta de clientes. Diz que não há movimento devido ao excesso de mecânicos de bicicletas na cidade. A ausência de preços fixos também é um problema, na opinião de Lucas Casimiro: cada trabalhador estipula o seu valor e os clientes vão aos mecânicos de baixo custo.
Foto: DW/M. Mueia
Da agronomia à reparação de bicicletas
Em Quelimane, há quem tenha abandonado a sua profissão para se dedicar a este trabalho. Lerio Carlos, de 22 anos, formou-se em Agronomia. Há um ano, decidiu juntar-se aos mecânicos de bicicletas, por falta de emprego na sua área. Afirma que já está adaptado à nova realidade e que gosta do trabalho. Ganha cerca de 200 meticais (cerca de 3 euros) por dia.
Foto: DW/M. Mueia
Pagamento? Só no final!
É uma regra cumprida por todos nas oficinas: clientes e patrões concordam que o pagamento só se faz depois da conclusão do trabalho. Desta forma, evitam-se eventuais falhas na concertação da bicicleta.
Foto: DW/M. Mueia
Fruta para o almoço
Pelas oficinas, a alimentação não é a ideal. Baixon Casquero é um dos mecânicos de renome em Quelimane. Tal como muitos colegas, não tem tempo para ir a casa à hora do almoço. Ao meio-dia, faz uma pausa no arranjo de bicicletas e come duas mangas cozidas. Para variar, nalguns dias compra bolinhos. Nos dias em que ganha mais dinheiro, compra uma refeição preparada numa das barracas do mercado.
Foto: DW/M. Mueia
Profissionais realizados
Muitos mecânicos são jovens e chefes de família. À DW Àfrica, dizem sentir-se bem a exercer esta atividade. Ganham o suficiente para pagar as contas em casa, alimentar a família e comprar material para que os filhos possam ir à escola.