A 4 de outubro de 2017, o antigo presidente do Conselho Municipal de Nampula foi assassinado. Passado um ano, o autor do crime ainda é desconhecido. O Serviço Nacional de Investigação Criminal diz que há 10 suspeitos.
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Um ano após o assassinato de Mahamudo Amurane, antigo presidente do Conselho Municipal de Nampula, no norte de Moçambique, ainda não se sabe quem foi o autor do crime.
O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) afirmou, na quarta-feira (03.10), que há, até agora, dez suspeitos do assassinato, incluindo membros seniores do Movimento Democrático de Moçambique (MDM). No entanto, os suspeitos ainda não foram formalmente acusados e estão em liberdade, segundo a instituição.
A família de Amurane diz que vai continuar a aguardar por esclarecimentos e pela responsabilização criminal dos culpados.
"O sentimento, neste momento, é de indignação", contou à DW África Selemane Amurane, um dos irmãos de Mahamudo Amurane.
"Nós, como família, queremos que o caso seja esclarecido. Existem casos que acontecem num dia e, nos dias seguintes, são logo esclarecidos. Mas este caso, por ser político, não sei porque está a demorar a ser esclarecido", lamentou.
Selemane Amurane diz que a família não descansará até que o caso seja esclarecido, embora reconheça que pode não ser fácil. E promete continuar a colaborar com as autoridades para se apurar a verdade.
Má fé?
Não só é um assassinato sem rosto que preocupa a família, mas também o uso abusivo de imagens do antigo edil para fins propagandísticos. Alguns políticos, sobretudo do Partido Liberal de Desenvolvimento Sustentável (PLDS), têm utilizado fotografias de Mahamudo Amurane na campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 10 de outubro.
Mas Selemane Amurane faz um pedido: "Mahamudo Amurane já está morto. Aquele que tiver o seu partido, por favor, que invoque o nome do seu presidente para fins eleitorais e não o nome de Mahamudo Amurane. Nós como familiares, sentimo-nos ofendidos quando aparece qualquer partido a invocar o nome de Amurane."
Um ano depois, quem matou Mahamudo Amurane?
No entanto, o PLDS, através do seu líder para o Conselho Autárquico de Nampula, Aly Alberto, defende o uso de imagem e nome de Mahamudo Amurane, como forma de imortalizá-lo.
"Não temos como nos separar da memória do dr. Mahamudo Amurane. Ele foi o líder que fundou este partido. Infelizmente, não teve essa oportunidade de apresentar na primeira pessoa, mas vocês sempre o ouviram dizer que, brevemente, havia de apresentar o seu partido - e ele referia-se, exatamente, ao PLDS", comentou.
Mahamudo Amurane foi assassinado no dia em que Moçambique celebra o dia da assinatura do Acordo Geral de Paz, em 1992, em Roma, que colocou um ponto final à guerra dos 16 anos entre as forças da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e do Governo. O antigo político deixou viúva e dois filhos.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.