Moçambique: Morte e desalojados devido ao mau tempo
Lusa
29 de dezembro de 2021
Uma pessoa morreu e centenas ficaram desalojadas devido ao mau tempo em Manica, centro de Moçambique. Já na província de Maputo, sul do país, 1.627 famílias foram afetadas por inundações.
Publicidade
Uma pessoa morreu e outras 270 ficaram desalojadas devido ao mau tempo registado no final de semana na província de Manica, centro de Moçambique, anunciou hoje (29.12) fonte do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD).
"São mais de 50 casas que ficaram total e parcialmente destruídas, deixando famílias ao relento", disse Vernito Gonga, chefe do departamento técnico do INGD em Manica, citado pela Agência de Informação de Moçambique (AIM),
Publicidade
Salas de aulas destruídas
Sem especificar o número, Gonga avançou que as chuvas e ventos fortes destruíram também salas de aulas e algumas infraestruturas sociais e económicas, referindo que se está a "trabalhar para minimizar o sofrimento das famílias afetadas".
"Identificámos as famílias e estão a receber o nosso apoio em bens alimentares e 'kits' de higiene. Também entregámos tendas para alojar algumas famílias que ficaram sem abrigo", referiu Gonga.
De acordo com a fonte, face à época chuvosa, foram posicionadas embarcações para trabalhos de busca e salvamento na província, além de terem sido reativados comités locais de emergência, que têm estado a sensibilizar a população para tomada de medidas de precaução.
Inundações
Já na província de Maputo, sul de Moçambique, um total de 1.627 famílias foram afetadas por inundações e cerca de quatro mil hectares de diversas culturas ficaram submersas na sequência do transbordo do rio Incomáti, anunciou hoje (29.12) uma fonte oficial.
As inundações são causadas pelas descargas efetuadas numa barragem da África do Sul, país vizinho de Moçambique, desde o dia 15.
"Essa subida de água criou uma situação de inundações em cerca de 4.074 hectares de culturas" em pelo menos quatro postos administrativos do distrito da Manhiça, disse César Dindane, diretor dos serviços de planeamento e infraestruturas de Manhiça, citado hoje pelo canal privado Stv.
"[A situação é] realmente preocupante porque isto está a ser repetitivo. No ano passado tivemos uma situação de perda de hectares de cana-de-açúcar", referiu César Dindane.
Segundo o responsável, há também algumas vias com acesso condicionado devido às inundações, mas, entretanto, "não houve ainda necessidade de deslocar comunidades".
"Estamos em alerta porque a qualquer altura poderemos ter mais quantidade de água", referiu, acrescentando que se está a fazer o levantamento das áreas afetadas e a sensibilizar a população a se retirar das zonas baixas.
Ciclones na costa moçambicana
A costa moçambicana poderá ser atingida por um número acima da média de ciclones na época chuvosa, que começou em novembro e vai até abril, referiu um sumário da Rede de Alerta Antecipado de Fome (rede Fews, sigla inglesa), consultado a 1 de dezembro pela Lusa.
Um total de 96 pessoas morreram devido aos ciclones e outros desastres naturais em Moçambique na última época chuvosa, segundo dados oficiais.
O período chuvoso de 2018 - 2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas de dois dos maiores ciclones (Idai e Kenneth) de sempre a atingir o país.
Moçambique: Muita chuva e pouca água
Ao mesmo tempo que a cidade de Maputo enfrenta as consequências das fortes chuvas que caíram nos últimos dias, na cidade da Matola e na vila de Boane, as populações debatem-se com restrições no fornecimento de água.
Foto: DW/R. da Silva
Residências inundadas
Nos últimos três dias, a cidade de Maputo registou a queda de chuvas intermitentes que causaram inundações e cortes de estradas.
Foto: DW/R. da Silva
Famílias desalojadas
Esta é a situação em alguns bairros periféricos da capital moçambicana. A chuva desalojou 20 famílias, estando as autoridades municipais e o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) à procura de espaços para albergar as famílias afetadas.
Foto: DW/R. da Silva
Falta de água
Entretanto, falta água na cidade da Matola e vila de Boane. A recente queda de uma conduta em Boane provocou restrições no fornecimento de água nesta região. Para fazer frente à situação, carrinhos de tração humana, vulgo "tchovas", ajudam no carregamento de quantidades consideráveis de água tirada das valas de drenagem de algumas zonas da cidade de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Reservatórios
Por causa da queda da conduta, o abastacecimento de água às cidades de Maputo e Matola e à vila de Boane está a ser feito em dias alternados. Pelo menos, um milhão e meio de cidadãos destes municípios estão a ser afetados. Apenas os residentes com reservatórios não sentem as restrições.
Foto: DW/R. da Silva
Risco de doenças
As restrições no fornecimento de água registam-se desde 8 de fevereiro, tendo a empresa Águas da Região de Maputo prometido resolver o problema em dez dias. Na zona de Nwankakana, a oeste da capital, as águas das valas de drenagem estão a minimizar o problema, apesar dos riscos de contrair doenças. Esta águas são usadas, por exemplo, para lavar roupa e loiça.
Foto: DW/R. da Silva
Uso racional
João Machatine, ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, apelou à população para tomar medidas de "austeridade e uso racional da água", de modo a "evitar o pior no que diz respeito à escassez de água".
Foto: DW/R. da Silva
Precaução
Preocupados com as restrições em vigor, alguns cidadãos optam por encher vários recipientes de água e carregá-los para as suas casas, de modo a terem água nos dias em que não estão contemplados pelo fornecimento.
Foto: DW/R. da Silva
Água imprópria
Também nos bairros periféricos, como são Maxaquene, Polana-Caniço, Urbanização e Mafalala, o cenário é este. As valas de drenagem continuam a escoar água de forma permanente e os residentes circundados por este canal continuam a aproveitar a água para vários afazeres, mesmo sabendo que esta água não é própria para consumo. Alguns cidadãos aproveitam para tomar banho ao escurecer.
Foto: DW/R. da Silva
Ruas alagadas
Apesar das campanhas de propaganda do Governo sobre a criação de reservatórios de água, que seriam usados em tempos de crise, o projeto não saiu do papel. As zonas baixas de alguns bairros acumulam água e criam cenários de desespero.
Foto: DW/R. da Silva
Mobilização geral
São sobretudo as mulheres que costumam carregar água logo pela manhã. No entanto, em cenários de crise no fornecimento de água, como acontece por estes dias, a procura de água mobiliza toda a população.
Foto: DW/R. da Silva
Crianças também ajudam
Pessoas de todas as idades são vistas no corre-corre em busca do precioso líquido. Nesta imagem, no bairro da Malanga, vemos um jovem e um menor a dirigirem-se à vala de drenagem em busca de água.