Ainda falta dinheiro para ajuda humanitária nas zonas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth, informa a rede Fews, a Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome.
Publicidade
O retrato está alinhado com o mais recente feito pelas Nações Unidas, em julho, segundo o qual são necessários 388 milhões de euros para apoio a 2,4 milhões de pessoas e só 45% está garantido pela comunidade internacional.
"A assistência alimentar de emergência está em transição para a assistência de recuperação precoce nas áreas afetadas pelos ciclones, no entanto, o financiamento é insuficiente para atender à necessidade [...], atendendo apenas a 40% da necessidade estimada", lê-se no mais recente relatório sobre Moçambique.
Por outro lado, o financiamento da assistência "para as áreas do sul afetadas pela seca é limitado", refere a rede Fews, sendo que esta região precisa de ajuda acrescida durante a estação de pousio, de outubro a janeiro.
Ainda assim, olhando para o mapa de necessidades, a assistência humanitária em andamento e a recente colheita acima da média têm minimizado os problemas.
Idai: Centro de Guara-Guara acolhe milhares de pessoas
02:35
Fome nas zonas afetas pelos ciclones
Numa escala de 01 a 05 (que vai de risco mínimo até fome, respetivamente), regista-se uma situação de crise (nível 03) que cobre áreas afetadas pelos ciclones Idai, em meados de março, e Kenneth, em finais de abril, no Centro e Norte de Moçambique respetivamente.
O mesmo grau de dificuldade preenche zonas do mapa a Sul, devido à seca, e na costa Norte, por causa do conflito em Cabo Delgado, detalha a Fews.net.
Em outubro, as zonas em crise (nível 03) devem alastrar-se, segundo a rede Fews, à medida que "muitas famílias pobres ficarem sem alimentos, nem fontes de rendimento" até nova época agrícola, podendo ser necessária "assistência alimentar humanitária urgente".
Previsões de chuvas tardias e possíveis efeitos
De acordo com previsões internacionais, "é provável que a temporada de chuvas 2019/20 comece tarde com chuvas acima da média no Norte e abaixo da média na região Sul".
"Prevê-se que tal retarde a atividade agrícola, bem como a disponibilidade de alimentos frescos", acrescenta.
Prevê-se que o fenómeno El Niño (conjugação cíclica de fenómenos meteorológicos que pode provocar cheias ou secas) seja neutro, sem influência nas condições sazonais.
Nos mercados moçambicanos monitorizados pela rede, o preço do milho, em julho, estava bem acima (quase 45%) dos preços dos últimos anos e 20% acima da média de cinco anos. Ainda assim, no médio prazo, os preços do milho, farelo e arroz permaneceram relativamente estáveis.
Moçambique pede ajuda para reconstrução e resiliência
O Governo moçambicano precisa de 2,8 mil milhões de euros para reconstruir zonas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth. Conferência de doadores arranca a 31 maio na Beira. Setor social e infraestruturas são prioridades.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
2,8 mil milhões de euros para reconstruir o país
Para reconstruir as áreas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth, o Governo moçambicano precisa de 3,2 mil milhões de dólares (2,8 mil milhões de euros). É esse montante que o Executivo vai pedir aos doadores internacionais, na conferência que terá lugar entre 31 de maio e 1 de junho, na cidade da Beira, a mais atingida pelo Idai.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Infraestruturas e setor social são prioridades
Segundo o Executivo, o dinheiro angariado servirá para responder às necessidades dos setores social, produtivo e infraestruturas. A maioria fatia será canalizada para a reconstrução no centro de Moçambique, devastada em março pelo ciclone Idai. A verba restante será usada para colmatar os prejuízos causados pelo ciclone Kenneth, em abril, na região norte.
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Onyodi
Conferência de doadores na Beira
É esperada a presença de mais de 700 participantes no encontro da Beira. A autarquia vai apresentar aos doadores um orçamento de 890 milhões de dólares (795 milhões de euros) para financiar o Plano de Reconstrução e Resiliência. Quando apresentou o plano, o edil Daviz Simango alertou para a necessidade de melhorar as redes de comunicação, energia e estradas, severamente afetados durante o ciclone.
Foto: DW/A. Sebastião
Plano de Reconstrução e Resiliência
"O município, por si só, não tem capacidade para custear a reconstrução" da Beira, disse o autarca Daviz Simango durante a apresentação do Plano de Reconstrução e Resiliência. A maior fatia das verbas será destinada à habitação (246 milhões de euros), seguindo-se o setor económico e negócios (181 milhões de euros) e drenagem (173,6 milhões de euros).
Foto: DW/A. Kriesch
Proteção costeira também é prioridade
Para a reconstrução de infraestruturas de proteção costeira, o município da Beira vai precisar de 81 milhões de euros. Os planos passam pela construção de esporões e de um muro com mais de 10 quilómetros. Para o saneamento estão previstos 43,8 milhões de euros, para as infraestruturas rodoviárias outros 33 milhões de euros e para os edifícios públicos 10,7 milhões de euros.
Foto: DW/A. Kriesch
"Infraestruturas resilientes" para evitar inundações
Para Daviz Simango, o grande desafio na cidade da Beira é criar "infraestruturas resilientes" que estejam preparadas para ventos fortes ou inundações. "Temos de nos adaptar às várias mudanças climáticas", diz o edil. O banco alemão para o desenvolvimento KfW financia, desde 2016, um projeto para evitar inundações durante o período de chuvas fortes e marés altas.
Foto: DW/A. Kriesch
Ajuda para 1,85 milhões de pessoas
Segundo os números mais recentes da ONU, ainda há 1,85 milhões de pessoas a precisar de ajuda em Moçambique. Até 30 de abril, ainda só tinham sido angariados 22% dos 3,1 milhões de dólares que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) necessita para financiar a sua operação em Moçambique. Faltam recursos para assegurar apoio básico e instalações para os deslocados internos.
Foto: DW/M. Mueia
Preocupações e riscos
O ACNUR está preocupado com a integridade física dos deslocados instalados em centros de acolhimento temporários. Além de problemas de sobrelotação, a agência da ONU para os refugiados também tem alertado para problemas na organização e distribuição de ajuda humanitária, que representam "riscos de discriminação e abusos", sobretudo em casos de crianças, mulheres, idosos e pessoas com deficiência.
Foto: DW/M. Mueia
Idai e Kenneth em números
O ciclone Idai que atingiu o centro de Moçambique em março provocou 603 mortos e afetou cerca de 1,5 milhões de pessoas, além de ter originado 146 mil deslocados internos. O ciclone Kenneth, que se abateu sobre o norte do país em abril, matou 45 pessoas e afetou 250.000 pessoas.