Moçambique vai exportar gás para Japão e Grã-Bretanha
Lusa | cvt
16 de junho de 2018
Petrolífera norte-americana Anadarko anunciou assinatura de acordo conjunto para fornecimento de Gás Natural Liquefeito (GNL) de Moçambique às companhias japonesa Tokyo Gas e britânica Centrica, esta sexta-feira (15.06).
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"O acordo de compra conjunta prevê o fornecimento ‘ex-ship’ de 2,6 milhões de toneladas por ano (MTPA) a partir do início da produção, até princípios de 2040", refere o comunicado distribuído à imprensa.
O acordo, acrescenta o documento, representa um enorme peso na meta definida para a Decisão Final de Investimentos (DFI), que era prevista pelo Governo moçambicano para 2017.
"O acordo inovador de compra conjunta fornece flexibilidade para ajudar os dois clientes a gerir proativamente as flutuações de procura nos seus próprios mercados domésticos", afirma o vice-presidente executivo da Anadarko para a Área Internacional, citado no comunicado, acrescentando que será aproveitada a localização de Moçambique para o abastecimento de clientes nos mercados da Europa e da Ásia.
O projeto será inicialmente composto por dois módulos de produção de GNL com capacidade total de 12,88 milhões de toneladas por ano, segundo os dados da companhia.
O consórcio que explora a Área 1 é constituído pela norte-americana Anadarko (26,5%), a japonesa Mitsui (20%), a indiana ONGC (16%), a petrolífera estatal moçambicana ENH (15%), cabendo participações menores a outras duas companhias indianas, Oil India Limited (4%) e Bharat Petro Resources (10%), e a tailandesa PTTEP (8,5%).
Reação positiva
Este sábado (16.06), a consultora IHS Markit fez uma avaliação positiva do acordo.
"O acordo conjunto é uma abordagem inovadora que vai ajudar os compradores a gerirem a incerteza nos mercados", disse o analista James Taverner numa declaração à agência de informação financeira Bloomberg.
"Os compradores japoneses têm estado à procura de mais flexibilidade nos seus portefólios para lhes permitir equilibrar melhor as suas próprias necessidades e vender o volume em excesso para outros mercados", acrescentou o analista, considerando que esta é uma boa notícia para Moçambique porque permite à Anadarko avançar na Decisão Final de Investimento, prevista para o próximo ano.
Planos para a exploração
Em fevereiro, o Governo moçambicano aprovou o plano de desenvolvimento do consórcio liderado pela Anadarko para transformar a península de Afungi, norte de Moçambique, numa zona industrial de exportação de gás natural.
Os principais ganhos esperados incluem a comercialização de recursos com um fluxo de receitas estimados em 30,7 mil milhões de dólares provenientes de impostos e partilha de lucros de gás até 2047.
O desenvolvimento de infraestruturas, a criação de 1.500 postos de emprego nas fases de perfuração, construção e operação são apontados também como os principais ganhos de Moçambique com o projeto da Área 1, cujo custo de financiamento é estimado em 12 mil milhões de dólares.
O grupo de empresas vai explorar o gás natural encontrado nas profundezas da crosta terrestre, sob o fundo do mar, a 16 quilómetros ao largo da província de Cabo Delgado.
Oportunidade ou perigo? A extração de areia em Moçambique
A extração de areia movimenta muito dinheiro na província moçambicana da Zambézia. Ambientalistas alertam para os perigos ambientais. Mas para quem trabalha neste negócio no distrito de Nicoadala, parar seria difícil.
Foto: DW/M. Mueia
O negócio da areia em Nicoadala
Já foram devastadas extensas áreas de terra devido ao negócio da areia no distrito de Nicoadala, no centro de Moçambique. São sobretudo os jovens naturais da região que trabalham aqui.
Foto: DW/M. Mueia
Trabalho duro
Extrair areia é um trabalho duro. Os trabalhadores queixam-se frequentemente de dores na coluna e dores de cabeça, entre outras coisas. Ainda assim, o trabalho dá para "manter a vida" e sustentar a família, afirmam. Conseguem, assim, pagar a escola aos filhos, comprar-lhes roupas e adquirir bicicletas, o principal meio de transporte familiar nesta zona.
Foto: DW/M. Mueia
Longe da escola
Os jovens que trabalham aqui contam que não puderam estudar por falta de condições financeiras. A maioria não concluiu o ensino primário.
Foto: DW/M. Mueia
Areia para a região
A areia do tipo "mina" é extraída e, depois, vendida a camionistas. O número de clientes cresce durante o verão.
Foto: DW/M. Mueia
À espera do camião
Estima-se que, todos os dias, mais de 30 veículos pesados entram na região de extração de areia. A atividade rende diariamente à Associação dos Garimpeiros de Nicoadala entre 20 a 35 mil meticais (entre 280 e 490 euros). O valor é acumulado durante uma semana para posteriormente ser distribuído pelos 26 associados.
Foto: DW/M. Mueia
Contas em dia
Membros da Associação dos Garimpeiros de Nicoadala: na foto, à frente, o presidente da associação, João Mariano (direita) e o fiscal Bito Lucas (esquerda), que tem a função de passar faturas e receber o dinheiro dos camionistas.
Foto: DW/M. Mueia
Preços da areia
O valor da areia é fixo, segundo os "garimpeiros": no terreno, os camionistas compram 1.600kg de areia a 500 meticais (o equivalente a sete euros), mas o valor dispara na revenda. A mesma quantidade de areia é revendida na cidade de Quelimane a 8.000 meticais (mais de cem euros).
Foto: DW/M. Mueia
A caminho da cidade
A areia é transportada pelos camionistas até à cidade de Quelimane, na província moçambicana da Zambézia. A maioria dos imóveis na região é construída com areia de Nicoadala.
Foto: DW/M. Mueia
Blocos de cimento e areia
Para produzir blocos de construção, é preciso juntar um saco de cimento de 50kg a 80kg de areia. Aos poucos, coloca-se água e vai-se misturando com uma pá durante 30 minutos. A massa final é posta em pequenas máquinas manuais para moldar o bloco.
Foto: DW/M. Mueia
Cenário desolador
Para trás, fica um cenário desolador. Estes são os efeitos secundários da extração de areia. Áreas que eram mais elevadas estão agora assim, com pequenas lagoas e vastas planícies. Já foram retiradas dezenas de toneladas de areia para construir edifícios em Quelimane, incluindo edifícios de instituições públicas, no próprio distrito de Nicoadala.
Foto: DW/M. Mueia
Terrenos impróprios
Zonas anteriormente exploradas pelos "garimpeiros" não servem para a prática de agricultura nem para a pastagem de gado. Isso por serem consideradas áreas de difícil acesso em época de chuvas, com solos bastantes arenosos.
Foto: DW/M. Mueia
Para camionistas, parar não é solução
Os camionistas dizem estar conscientes do perigo ambiental, mas sublinham que não têm outra alternativa. Sem este negócio, muitas famílias passariam mal e "deixaria de haver a construção de habitações convencionais", frisa o camionista Carlos Manuel, que diz que quem mais lucra com o negócio são os proprietários das viaturas.