Nyusi: País "vai opor-se à pilhagem" de recursos naturais
Lusa | cvt
16 de junho de 2020
Presidente moçambicano garantiu ainda, esta terça-feira (16.06), que violência no norte e centro não tem impedido o Estado de manter a independência e a soberania do país.
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O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse esta terça-feira (16.06) que o país "nunca se resignará" perante os "ataques terroristas" na região norte, apontando a resistência ao colonialismo como inspiração para a luta contra os desafios atuais.
Filipe Nyusi enfatizou a determinação na luta contra os grupos armados, falando por ocasião do 60.º aniversário do Massacre de Mueda, momento marcante da luta anticolonial.
"Os moçambicanos nunca se resignarão, continuaremos a lutar em defesa dos nossos interesses e continuaremos a lutar contra todo o tipo de divisionismo e de agressão", disse Filipe Nyusi, falando em Mueda, província de Cabo Delgado.
O país vai opor-se à pilhagem dos seus recursos naturais, acrescentou.
O chefe de Estado moçambicano assinalou que a violência armada no norte, mais concretamente na província de Cabo Delgado, e também na região centro, não tem impedido o Estado de manter a independência e a soberania do país.
"Moçambique continua independente e soberano, não obstante os ataques terroristas nesta província de Cabo Delgado e no centro", frisou.
A violência, continuou, está a provocar a matança de civis e a destruir infraestruturas sociais e económicas.
Vítimas de ataques em Cabo Delgado em fuga pela vida
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Determinação do povo
Referindo-se ao Massacre de Mueda, que segundo fontes oficiais resultou na morte de cerca de 600 civis pelas autoridades coloniais portuguesas, Filipe Nyusi disse que o acontecimento catalisou a determinação do povo moçambicano em lutar pela independência nacional.
"Mais do que um ato de humilhação, o Massacre de Mueda trouxe à superfície o caráter desumano do colonialismo e transformou-se num instrumento catalisador da luta contra o colonialismo", realçou o Presidente moçambicano.
A 16 de junho de 1960, as autoridades portuguesas abriram fogo contra centenas de pessoas que se tinham reunido na sede da vila de Mueda com a administração colonial portuguesa para um encontro sobre as injustiças e repressão do sistema colonial.
O massacre mereceu condenação internacional e aprofundou o isolamento do regime colonial português, abrindo caminho para o início, quatro anos depois, da luta pela independência de Moçambique, alcançada em 25 de junho de 1975.
Ataques violentos
Cabo Delgado, província moçambicana onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, é frequentemente alvo de ataques armados desde outubro de 2017 por insurgentes, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista - com pelo menos 600 mortos e 200 mil pessoas afetadas, sendo obrigadas a refugiar-se em lugares mais seguros.
No centro de Moçambique, desde agosto do ano passado, ataques armados atribuídos a uma dissidência da guerrilha da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição no país, têm visado forças de segurança e civis em aldeias e nalguns troços de estrada da região, tendo causado mais de 20 mortos e vários feridos, além da destruição de veículos.
Cabo Delgado: Datas marcantes dos ataques armados
Começaram em outubro de 2017 em Mocímboa da Praia e já se alastraram a outros três distritos moçambicanos. Os ataques armados na província de Cabo Delgado, que somam já mais de 130 mortos, ainda não têm solução à vista.
Foto: DW/G. Sousa
Outubro de 2017
Os primeiros ataques de grupos armados desconhecidos na província de Cabo Delgado aconteceram no dia 5 de outubro de 2017 e tiveram como alvo três postos da polícia na vila de Mocímboa da Praia. Cinco pessoas morreram. Cerca de um mês depois, a 17 de novembro, as autoridades dão ordem de encerramento a algumas mesquitas por se suspeitar terem sido frequentadas por membros do grupo armado.
Foto: Privat
Dezembro de 2017
Surgem novos relatos de ataques nas aldeias de Mitumbate e Makulo, em Mocímboa da Praia. Na primeira semana de dezembro de 2017, terão sido assassinadas duas pessoas. Vários suspeitos foram identificados, tendo os moradores dado conta que os atacantes deram sinais de afiliação muçulmana. Por sua vez, a polícia desmentiu o envolvimento do grupo terrorista Al-Shabaab nestes ataques.
Foto: DW/G. Sousa
Janeiro a maio de 2018
Apesar de ter começado calmo, 2018 revelar-se-ia um ano de terror na província de Cabo Delgado com os ataques a alastrarem-se a mais distritos. Dada a gravidade da situação, a Assembleia da República aprovou, a 2 de maio, a Lei de Combate ao Terrorismo. Mas, no final do mês, dia 27, novos ataques foram realizados junto a Olumbi, distrito de Palma. Dez pessoas morreram, algumas decapitadas.
Foto: Privat
2 de junho de 2018
Dias mais tarde, a televisão STV dava conta que as forças de segurança moçambicanas haviam abatido, nas matas de Cabo Delgado, oito suspeitos de participação nos ataques. Foram ainda apreendidas catanas e uma metralhadora AK-47, além de comida e um passaporte tanzaniano. Por esta altura, já milhares de pessoas haviam abandonado as suas casas, temendo a repetição dos episódios de terror.
Foto: Borges Nhamire
4 de junho de 2018
Ainda se "festejava" os avanços na investigação das autoridades, e consequente abate dos suspeitos quando, a 4 e 7 de junho, se registaram novos incêndios nas aldeias de Naunde e Namaluco. Sete pessoas morreram e quatro ficaram feridas. Foram ainda destruídas 164 casas e quatro viaturas. O mesmo cenário voltou a repetir-se a 22 de junho: um novo ataque na aldeia de Maganja matou cinco pessoas.
Foto: Privat
29 de junho de 2018
Fortemente criticado por não se ter ainda pronunciado acerca dos ataques, o Presidente moçambicano Filipe Nyusi resolve fazê-lo, em Palma, perante um mar de gente. Oito meses e 33 mortos [25 vítimas dos ataques e oito supostos atacantes] depois... Em Cabo Delgado, Nyusi prometeu proteção aos cidadãos e convidou os atacantes a dialogar consigo, de forma a resolver as suas "insatisfações".
Foto: privat
Agosto de 2018
Depois de, em julho, um novo ataque à aldeia de Macanca - Nhica do Rovuma, em Palma, ter feito mais quatro mortos, Filipe Nyusi desafiou, a 16 de agosto, os oficiais promovidos no exército, por indicação da RENAMO, a usarem a sua experiência no combate contra estes grupos armados que, mais tarde, a 24 do mesmo mês, tirariam a vida a mais duas pessoas, na aldeia de Cobre, distrito de Macomia.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Setembro de 2018
Setembro de 2018 voltava a ser um mês negro no norte de Moçambique. Ataques nas aldeias de Mocímboa da Praia, Ntoni e Ilala, em Macomia, deixaram pelo menos 15 mortos e dezenas de casas destruídas. No final do mês, o ministro da Defesa, Atanásio Mtumuke, afirmou que os homens armados responsáveis pelos ataques seriam "jovens expulsos de casa pelos pais".
Foto: Privat
Outubro de 2018
Um ano após o início dos ataques em Cabo Delgado, a polícia informou que os mais de 40 ataques ocorridos, haviam feito 90 mortos, 67 feridos e destruído milhares de casas. Foi também por esta altura que Filipe Nyusi anunciou a detenção de um cidadão estrangeiro suspeito de recrutar jovens para atacar as aldeias. No final do mês, começaram a ser julgados 180 suspeitos de envolvimento nos ataques.
Foto: privat
Novembro de 2018
Novos relatos de mortes macabras surgem na imprensa. Seis pessoas foram encontradas mortas com sinais de agressão com catana na aldeia de Pundanhar, em Palma. Dias depois, o cenário repetiu-se nas aldeias de Chicuaia Velha, Lukwamba e Litingina, distrito de Nangade. Balanço: 11 mortos. Em Pemba, o embaixador da União Europeia oferecia ajuda ao país.
Foto: Privat
6 de dezembro de 2018
A população do distrito de Nangade terá feito justiça pelas próprias mãos e morto três homens envolvidos nos ataques. Na altura, à DW, David Machimbuko, administrador do distrito de Palma, deu conta que "depois de um ataque, a população insurgiu-se e acabou por atingir alguns deles". Entretanto, o Ministério Público juntou mais nomes à lista dos arguidos neste caso. Entre eles está Andre Hanekom.
Foto: DW/N. Issufo
16 de dezembro de 2018
A 16 de dezembro, e após mais um ataque armado no distrito de Palma, que matou seis pessoas, entre as quais uma criança, Moçambique e Tanzânia anunciaram uma união de esforços no combate aos crimes transfronteiriços. 2018 chegava assim ao fim sem uma solução à vista para os ataques que já haviam feito, pelo menos, 115 mortos. O julgamento dos já acusados de envolvimento nos ataques continua.
Foto: privat
Janeiro de 2019
O novo ano não começou da melhor forma. Sete pessoas morreram quando um grupo armado intercetou uma carrinha de caixa aberta que transportava passageiros entre Palma e Mpundanhar. Na semana seguinte, outras sete pessoas foram assassinadas a tiro no Posto Administrativo de Ulumbi. Um comerciante foi ainda decapitado em Maganja, distrito de Palma, no passado dia 20.