Dércio Alfazema, do IMD, considera que mandato de Moçambique como membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU vai gerar pressões, mas acredita que Pedro Comissário é a pessoa certa para o cargo de embaixador.
"Vamos tratar muito do terrorismo", declarou o embaixador moçambicano nas Nações Unidas, Pedro Comissário, citado pelo órgão de comunicação oficial da organização, ONU News.
Em entrevista à DW África, o diretor de programas do Instituto Moçambicano para Democracia Multipartidária (IMD), Dércio Alfazema, afirma que o terrismo não deve ser, e provavelmente também não será, a única prioridade da diplomacia moçambicana, nos próximos dois anos, no conselho de segurança da ONU.
DW África: O combate ao terrorismo não será a única prioridade da diplomacia moçambicana?
Dércio Alfazema (DA): Bom, não devia ser e nem acredito que seja a única prioridade. É o assunto do momento. Preocupa Moçambique, preocupa a região e é uma preocupação que faz parte da agenda global. Nós sabemos que o terrorismo tende a crescer em vários pontos do continente, mas também em todos os países do mundo que estão expostos a essa ameaça. Mas temos outros desafios ligados a questões de mudanças climáticas, ligadas a questões de participação das mulheres na resolução de conflitos e na pacificação dos países.
DW África: O Conselho de Segurança das Nações Unidas tem cinco membros permanentes e dez membros não permanentes. Cabe a Moçambique, como país africano, também levar a esse grémio as preocupações africanas. Concorda?
DA: Da região, mas sobretudo as questões que têm a ver com as prioridades para a resolução de conflitos em África, porque Moçambique está a ocupar um assento de África. Agora, claramente que, em paralelo a isso, vai ser uma oportunidade para Moçambique estar exposto a uma agenda de diplomacia global. Vai estar em interação e a sofrer a pressão dos países mais poderosos que muitas das vezes até têm estado em posições divergentes. Moçambique vai ter aqui uma grande responsabilidade de continuar a fazer a sua diplomacia e manter as boas relações, mesmo também com os grupos em divergência.
DW África: Na questão do conflito da Rússia com a Ucrânia, Moçambique optou por ser um país neutro. Acha que Moçambique, nos próximos dois anos no Conselho de Segurança, sofrerá pressões devido a essa posição?
DA: Penso que essas pressões vão continuar a existir dentro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, porque nós sabemos que mesmo entre os países que estão lá, também existem, muitas vezes, posições divergentes. Isso poderá também sobrecarregar e exercer alguma pressão para que Moçambique apoie uma ou outra posição. Vai estar também exposto ao ‘lobby' internacional de outros países que não estejam representados, mas que queiram fazer passar da agenda.
DW África: A diplomacia moçambicana vai dar conta do recado? Vai conseguir resistir a todas essas pressões, nomeadamente no que diz respeito à posição de África e de Moçambique, em especial quanto à guerra da Rússia na Ucrânia?
DA: Até agora penso que a posição de Moçambique foi compreendida, foi entendida. Tanto é que mesmo dentro do contexto desse conflito, nós tivemos uma votação histórica para podermos entrar neste órgão. Eu penso que até agora a questão do conflito da Ucrânia e Rússia ainda não resvalou numa situação embaraçosa ou que colocasse o país numa situação desgastante.
DW África: Moçambique é tido como um país com uma diplomacia bastante eficaz e evoluída. Acha que o atual embaixador moçambicano nas Nações Unidas, Pedro Comissário, é a pessoa certa no lugar certo?
DA: Sem dúvida. É uma pessoa bastante experimentada e um dos diplomatas com maior experiência que temos no país. Já esteve em vários continentes, em vários países e antes mesmo de rumar para as Nações Unidas, esteve a ocupar o cargo de vice-ministro dos Negócios Estrangeiros. Então, em termos políticos, também tem um acesso direto tanto à ministra dos Negócios Estrangeiros como ao Presidente da República.
Quem são as mulheres mais poderosas de África?
Nove mulheres africanas dão que falar no mundo da política e dos negócios, geralmente dominado por homens. Saiba quem são e como se têm destacado.
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Primeira mulher Presidente em África
Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher eleita democraticamente num país africano. De 2006 a 2018, governou a Libéria, lutando contra o desemprego, a dívida pública e a epidemia do ébola. Em 2011, ganhou o Prémio Nobel da Paz por lutar pela segurança e direitos das mulheres. Atualmente, lidera o Painel de Alto Nível da ONU sobre Migração em África.
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Um grande passo para as mulheres etíopes
Sahle-Work Zewde foi eleita, em outubro, Presidente da Etiópia. O poder no país é exercido pelo primeiro-ministro e o Conselho de Ministros. Entretanto, a eleição de uma mulher para a cadeira presidencial é considerada um grande avanço na sociedade etíope, onde os homens dominam os negócios e a política. Mas isto está a mudar. Hoje em dia, metade do Governo é formado por mulheres.
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Mulher mais rica de África
Isabel dos Santos tem uma reputação controversa em Angola. É filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, que a colocou na administração da Sonangol em 2016. Mas o novo Presidente, João Lourenço, luta contra o nepotismo e despediu Isabel dos Santos. Mesmo assim, dos Santos ainda detém muitas participações empresariais e continua a ser a mulher mais rica de África, segundo a revista Forbes.
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Magnata do petróleo e benfeitora da Nigéria
1,6 mil milhões de dólares norte-americanos é a fortuna da nigeriana Folorunsho Alakija. A produção de petróleo faz com que a dona da empresa Famfa Oil seja a terceira pessoa mais rica da Nigéria. Com a sua fundação, a mulher de 67 anos apoia viúvas e órfãos. Também é a segunda mulher mais rica de África, apenas ultrapassada pela fortuna de Isabel dos Santos de 2,7 mil milhões (segundo a Forbes).
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Oficial da dívida da Namíbia
Na Namíbia, uma mulher lidera o Governo: desde março de 2015, Saara Kuugongelwa-Amadhila é primeira-ministra – e a primeira mulher neste escritório na Namíbia. Anteriormente, foi ministra das Finanças do país e perseguiu uma meta ambiciosa: reduzir a dívida nacional. A economista é membro da Assembleia Nacional da Namíbia desde 1995.
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Discrição e influência
Jaynet Kabila é conhecida pela sua discrição e cuidado. Irmã gémea do ex-Presidente congolês Joseph Kabila, é membro do Parlamento da República Democrática do Congo e também é dona de um grupo de meios de comunicação. Em 2015, a revista francesa Jeune Afrique apontou-a como a pessoa mais influente do Governo na RDC.
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Triunfo diplomático
A ex-secretária de Estado do Ruanda, Louise Mushikiwabo, será secretária-geral da Organização Internacional da Francofonia em 2019. Isto, mesmo depois de o país ter assumido o inglês como língua oficial há mais de 10 anos. A escolha de Mushikiwabo para o cargo é vista como um triunfo diplomático. O Presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos apoiantes da sua candidatura.
Outra mulher influente: a nigeriana Amina Mohammed, vice-secretária-geral das Nações Unidas desde 2017. Entre 2002 e 2005, já tinha trabalhado na ONU no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. Mais tarde, foi assessora especial do então secretário-geral, Ban Ki-moon, e, por um ano, foi ministra do Meio Ambiente na Nigéria.
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A ministra dos recordes no Mali
Recente no campo da política externa, Kamissa Camara é a mais jovem na política e primeira ministra do Exterior da história do Mali. Aos 35 anos, foi nomeada para o cargo pelo Presidente Ibrahim Boubacar Keïta e é agora uma das 11 mulheres no Governo. No total, o gabinete maliano tem 32 ministros.