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Cabo Delgado: "O medo é maior em Mocímboa da Praia"

22 de setembro de 2025

Aumento da insegurança em Cabo Delgado preocupa as autoridades face aos novos ataques que tem gerado pânico na população. Ativista pede ao Governo moçambicano que não subestime a ameaça de grupos terroristas na região.

População receia novos ataques. Ação de grupos terroristas violentos obriga deslocados a procurarem lugares mais seguros.
População receia novos ataques. Ação de grupos terroristas violentos obriga deslocados a procurarem lugares mais seguros.Foto: Roberto Paquete/DW

As autoridades administrativas de Mocímboa da Praia confirmaram hoje (22.09) preocupação com o aumento da insegurança naquele distrito de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, após um novo ataque de alegados terroristas, que resultou em quatro mortos. No mesmo local, há quase duas semanas, outras cinco pessoas foram assassinadas, segundo testemunhas.

As incursões de alegados grupos fundamentalistas naquela região têm provocado angústia entre a população, forçada a deslocar-se para lugares mais seguros. O ativista social moçambicano, Abudo Gafuro Manana, confirmou os acontecimentos desta madrugada, em entrevista à DW, citando fontes locais e deslocados internos vindos do distrito de Mocímboa da Praia.

O defensor dos direitos humanos qualifica tais ataques de macabros pela sua brutalidade e lamenta o pânico, o medo e a insegurança no seio dos populares. Isso, mesmo com a presença no terreno das forças ruandesas que integram o contingente internacional.

O ativista exorta o Governo, particularmente, as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, a não minimizarem a ação dos alegados grupos terroristas na região de Cabo Delgado.

Deutsche Welle (DW): O administrador de Mocímboa da Praia, Sérgio Cipriano, assumiu hoje a preocupação local com o aumento da insegurança naquele distrito de Cabo Delgado. Como avalia a situação no local?

Abudo Gafuro Manana (AGM): Esse ataque aconteceu por volta de duas da madrugada. A população do bairro "30 de Junho" ou "Filipe Nyusi" foi surpreendida pela entrada "galopante" dos terroristas ou insurgentes. Eles acabaram surpreendendo certas pessoas que mataram de uma forma macabra. E voltaram à moda antiga, que já não se estava a verificar nos últimos dias, o que tem que ser uma preocupação. [Isso acontece] enquanto as forças ruandesas permanecem em Mocímboa da Praia, e "compram a consciência da população", fazendo com que tenha certeza de que o Ruanda é a força que pode ajudar ou salvar a população - isso está muito errado.

A população deveria estar a fazer denúncias de imediato, diretamente para a própria Força de Defesa da Segurança Moçambicana, que é a detentora do território e da soberania nacional. 

DW: Acha que tais ataques vão continuar a registar-se mesmo com a ação no terreno das forças moçambicanas, apoiadas por tropas internacionais ruandesas?

AGM: Neste momento o pânico, o medo, é sempre maior. Já não se sabe como distinguir a "modus operandi" do próprio grupo extremista violento na região Norte, não havendo capacidade de poder desalojar [os elementos do grupo] de novo, uma vez que já estavam desalojados, enfraquecidos e sem nenhuma entrada de logística. Nos últimos dias, há uma preocupação de que haverá esses ataques eminentes, porque eles estão espalhados um pouco por todo o lado da província, na região do Norte principalmente.

Ativista social Abudo Gafuro (ao centro)Foto: Privat

Então, há uma necessidade de vigilância e de se desconfiar que eles venham protagonizar ataques a qualquer momento. Os ataques que eles têm protagonizado nos últimos dias àquela moda antiga de decapitar as pessoas e extrair o órgão ou esquartejar em pedaços e colocar o corpo em terra. As autoridades moçambicanas não podem considerar isto como se fosse uma coisa pequenina. Se hoje estão a morrer professores, cidadãos ou comerciantes informais, isso significa que talvez esses sejam pessoas integrantes deste grupo por parte da insurgência, ou dos terroristas. Eles têm serviços de informação e de rastreio de movimentos dos nossos militares e acabam descobrindo através dessas informações.

E é aqui onde a nossa Força de Defesa da Segurança Moçambicana e quem de direito, neste exato momento, deveria montar uma equipa de contrainteligência local na província de Cabo Delgado. Issp. para informar a tempo e hora sobre isto, para que não seja mais um problema de "cancro" como está sendo até os dias de hoje. 

DW: Com isso, tem aumentado o número de deslocados?

AGM: Aumentou desde a semana passada. Até a passada sexta-feira, de acordo com os dados que temos na nossa posse, era um pouco mais de 1.700 pessoas, entre os novos registos sobre a cidade de Pemba, de pessoas que vinham da Mocímboa da Praia.

DW: O que é que o Governo moçambicano pode fazer para conter ou neutralizar tais ofensivas dos terroristas?

AGM: O que nós podemos sugerir ou recomendar é a criação de equipas de jovens para poder fazer um trabalho de prevenção e combate à violência extrema nas comunidades locais da província de Cabo Delgado, principalmente na região Sul, ou então no Norte. Mas não excluindo a província de Niassa e Nampula, porque essas províncias também afetadas por esta violência brutal.

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