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Ruandeses expõem "deficiências" do exército moçambicano

9 de agosto de 2021

"Em menos de 30 dias, os ruandeses expulsaram aqueles que num ano [o exército moçambicano] não conseguiu expulsar", diz o editor do semanário Zambeze, reagindo à reconquista de Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado.

Kigali, Ruanda | Soldaten aus Ruanda auf dem Weg nach Mozambique
Foto: Simon Wohlfahrt/AFP

O Governo moçambicano anunciou neste domingo (08.08), o controlo da vila da Mocímboa da Praia, tomada pelos insurgentes em Cabo Delgado há quase um ano, numa operação conjunta entre as tropas de Moçambique e do Ruanda.

As Forças de Defesa e Segurança de Moçambique contam, desde o início de julho, com o apoio de mil militares e polícias do Ruanda para a luta contra os grupos armados, no quadro de um acordo bilateral entre o Governo moçambicano e as autoridades de Kigali. 

"As tropas conjuntas Moçambique e Ruanda controlam a vila de Mocímboa da Praia desde as 11h00 de hoje, [domingo] dia 8 de agosto de 2021, controlam as infraestruturas públicas e privadas com enfoque para os edifícios do governo local, porto, aeroporto, hospital, mercados, estabelecimentos de restauração entre outros projetos económicos", anunciou o coronel Omar Saranga, porta-voz do Ministério da Defesa moçambicano.

"Essa tomada vai marcar um ponto muito importante", considera o editor do semanário Zambeze, Egídio Plácido. "De há algum tempo para cá os insurgentes fizeram de Mocímboa da Praia um autêntico califado, um ponto estratégico, não só como forma de pressionar o Governo moçambicano nesta luta mas também para o abastecimento dos terroristas", lembra.

Soldados moçambicanos numa missão de rotina em Mocímboa da Praia, em setembro de 2020.Foto: Roberto Paquete/DW

Para o editor do Zambeze, "a localização estratégica de Mocímboa da Praia permite que as forças moçambicanas, com o apoio estrangeiro, [SADC] tenham maior flexibilidade no abastecimento das forças no terreno".

Problemas de comunicação, logísticos e de combate

A recuperação da vila, no entanto, serve também para expor as fragilidades das forças militares moçambicanas, afirma o editor. "Há mais de um ano que Mocímboa da Praia foi tomada. Antes de os ruandeses chegarem, não tínhamos nenhuma notícia fiável sobre o que estava a acontecer no terreno. E em algum momento a parte do exército moçambicano escondia a verdade", considera.

"A chegada dos ruandeses mostra claramente que as nossas forças têm muitas deficiências, desde a logística até à própria capacidade combativa. Em menos de 30 dias, os ruandeses chegaram e expulsaram aqueles que num ano [as forças moçambicanas] não conseguiram expulsar".

O avanço dos ruandeses no teatro das operações, segundo  Egídio Plácido, cria "ciúmes por parte das chefias militares" moçambicanas, "porque alguns ainda acham que isto é propaganda, principalmente os mais conservadores que sempre acharam que Moçambique nunca precisaria de apoio para vencer o terrorismo".

"Essa ala mais conservadora, ligada ao partido FRELIMO [no poder], está a ver que é possível expulsar os terroristas e precisamos desse apoio que é fundamental para a retoma da vida naquele ponto de Cabo Delgado", conclui.

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