Moeda única pode causar desequilíbrio nas economias da SADC
14 de fevereiro de 2012 A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) está a querer acelerar a integração económica dos 14 países do grupo. Até 2018, quer estabelecer uma união monetária, que incluiria a criação de uma moeda única e de um banco central regional.
Porém, o projeto inquieta economistas ouvidos pela DW África. Muitos deles acham que especialmente uma moeda única poderá desequilibrar as economias dos países da SADC. Para o moçambicano Luís Magaço, por exemplo, as nações ainda não estão suficientemente integradas do ponto de vista económico.
"Uma integração financeira requer estatísticas fiáveis e nós não temos isso – nem [temos] estatísticas de circulação monetária, nem da moeda falsificada. Estamos aqui a misturar no mesmo cesto diferentes dinâmicas económicas", avaliou Magaço.
Lições europeias
O economista fez referência a lições que se pode tirar de blocos como o dos 27 europeus e da zona euro, a união monetária que integra 17 economias da União Europeia. "Na Europa, há economias mais desenvolvidas, mais consolidadas, mais fortes. Aqui na nossa região é preciso ter muito cuidado para avaliar algumas questões fundamentais", alertou.
Segundo os economistas ouvidos pela DW África, a região da África austral tem a "desvantagem" de possuir uma economia mais concentrada no dólar norte-americano – moeda que seria difícil de ser destronada. Por isso, "não há benefícios visíveis que eu encontre que possam fundamentar a integração da moeda na região da África austral. O custo para administrar a integração da moeda é superior ao benefício que traz. Não vejo absolutamente nenhuma vantagem", afirmou Magaço.
Outro economista moçambicano, Abudo Machudo, afirma que antes de se adotar a moeda única é preciso que a região aprenda com os "erros dos outros". Também Machudo fez referência à união monetária européia e a crise enfrentada pela zona euro. "Penso que os países pequenos como Moçambique podem passar pela mesma experiência pela qual têm passado países pequenos da zona euro, como Grécia e Portugal, que estão na fase de recorrer ao Banco Central [Europeu] para poderem reforçar as suas economias", afirmou Machudo, que aconselhou mais debates sobre o assunto.
"Ouvidas essas pessoas, as autoridades, da área – aí é que podemos mesmo avaliar e ver se vale a pena embarcar ou não", avaliou.
Sem liberdades económicas
A adoção da moeda única pode ainda pôr em causa as liberdades económicas dos países da SADC cujas economias são fracas, disseram os especialistas. O Banco Central regional, por exemplo, teria a sede na África do Sul. Assim como na União Europeia, cuja autoridade monetária fica na Alemanha, os sul-africanos sairiam beneficiados por abrigar a sede da instituição financeira regional: "Não duvido disso. Quer dizer, a Europa hoje acha que o principal beneficiado da integração europeia é a Alemanha. Será a mesma coisa com a SADC e com impacto maior – porque as disparidades económicas entre nós e a África Sul são muito maiores", comparou Machudo.
Autor: Romeu da Silva (Maputo)
Edição: Renate Krieger / António Rocha