"O desmobilizado da RENAMO deve voltar a casa com dignidade"
Leonel Matias (Maputo)
5 de dezembro de 2019
Líder da RENAMO insiste na necessidade de uma desmobilização condigna das células armadas do partido. Ossufo Momade exige a integração dos seus correligionários nos serviços de inteligência moçambicanos.
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O líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) defendeu que a desmobilização dos homens armados do partido é uma prioridade, mas exigirá paciência e atenção. Ossufo Momade visita a Holanda, onde, segundo um comunicado emitido na quarta-feira (04.12), "busca parcerias". No texto, também alerta que "a democracia se encontra ameaçada" em Moçambique e que o país corre "risco de regressão".
Momade disse que as células militarizadas da RENAMO permanecem nas bases porque a desmobilização é um processo que deve decorrer de forma condigna. "O nosso desmobilizado deve voltar para casa com dignidade", destacou. Ele insistiu que os seus homens devem estar enquadrados em todos os ramos das Forças de Defesa e Segurança, inclusive no Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE).
Momade: "Desmobilização exigirá paciência"
"É lá [no SISE] onde são feitas as manobras que desestabilizam o país: casos de perseguições de membros dos partidos políticos, da sociedade civil, manobras eleitorais, entre outras", disse.
A RENAMO endurece o discurso no momento em que espera o acórdão do Conselho Constitucional de Moçambique sobre os resultados das eleições gerais, que deverá ser proferido nos próximos dias. O partido alega que o pleito teve fraudes generalizadas.
O líder da RENAMO distancia-se dos ataques na região centro do país, que já fizeram pelo menos 10 mortos desde agosto. Ele tem acusado a autoproclamada "Junta Militar" de estar por trás da violência. Por outro lado, o Governo defende que não existem duas RENAMOs - uma dirigida por Ossufo Momade e outra pela "Junta Militar".
Nova versão de um impasse?
O analista político Fernando Lima acha que a intenção da RENAMO de se distanciar da autoria dos ataques e a insistência da FRELIMO em culpar o partido da oposição levam a atrasos na resolução da crise. Para ele, como ocorreu no passado, esse ruído deve ser resolvido para o sucesso do processo de Desmilitarização, Desmobilização e Reintegração das forças residuais da RENAMO, o chamado DDR.
Abraço da paz em Maputo
01:25
"Numa situação de ataques nas estradas e quando as forças de manutenção da lei e da ordem têm um papel importante a desempenhar em todo o DDR, é natural que haja contratempos, que haja incompreensões, que causem naturalmente os atrasos que se estão a verificar", opina o analista.
Lima acha que é um exagero considerar que o cenário seja de "impasse" e que a insistência de Momade pela "desmobilização condigna" deve ser vista dentro de um contexto.
"Há claramente um mal-estar decorrente das eleições gerais não só do 'score' eleitoral da RENAMO, mas também das várias irregularidades grosseiras que aconteceram durante as eleições. Portanto, isto tem impacto na RENAMO e é natural que o partido endureça as suas posições em relação a outros assuntos."
O analista considera surpreendente que a integração dos integrantes da RENAMO ao SISE tenha sido de algum modo "congelado" e não tenha feito parte do acordo de paz que Momade celebrou com o Presidente Filipe Nyusi.
"Ter esta oportunidade, não resolver esta questão e, a posteriori, vir a levantá-la… Compreendo o porquê, mas isto deveria estar claramente explanado nos acordos de agosto."
Dia de eleições em Moçambique em imagens
De norte a sul de Moçambique, grande afluência de eleitores marcou primeiras horas de votação. 13,1 milhões de moçambicanos foram chamados a escolher Presidente da República, 250 deputados e 10 governadores provinciais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Filipe Nyusi abre votação em Maputo
As primeiras assembleias de voto abriram às 07:00 para as sextas eleições gerais. Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique e candidato a um segundo mandato, abriu a votação em Maputo. Depois de votar na Secundária Josina Machel, em direto na televisão pública, pediu ao país para mostrar ao mundo que Moçambique "apoia a democracia". "Vamos acreditar e vamos confiar", sublinhou o candidato da FRELMO.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Ossufo Momade vota na Ilha de Moçambique
O candidato presidencial da RENAMO, Ossufo Momade, disse que "nunca" vai aceitar "resultados eleitorais manipulados", assinalando que a negação da vontade popular levou o país a hostilidades militares no passado. "Estamos determinados em fazer qualquer coisa que o povo nos indicar", declarou Momade. O candidato falava após votar na sua terra natal, na Ilha de Moçambique, província de Nampula.
Foto: Getty Images/A. Barbier
Daviz Simango apela ao voto de todos
Daviz Simango, candidato à presidência pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), votou no bairro de Macuti. "Aproveito esta oportunidade para lembrar a todos os moçambicanos que não votarem que vão ter a oportunidade de ser dirigidos por aqueles que não escolheram", advertiu. Pediu ainda às autoridades para "criarem condições para que estas eleições sejam transparentes livres e justas".
Foto: DW/A. Sebastião
Tentativas de fraude a favor da FRELIMO
Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), registaram-se já vários "casos de tentativas de enchimento de urnas" nos dois maiores círculos eleitorais do país. Os casos, a favor da FRELIMO, ocorreram nas assembleias de voto instaladas nas escolas primárias completas Eduardo Mondlane de Angoche, em Nampula, e 16 de Junho, em Mopeia, na Zambézia, precisou a ONG.
Foto: DW/L. da Conceição
UE: Observação eleitoral "em boas condições"
A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (UE) considera que a abertura das mesas de voto decorreu de modo ordeiro. "Havia muitas filas, mas os procedimentos foram seguidos em grande parte", disse Sànchez Amor. O chefe da missão da UE informou ainda que "a observação está a realizar-se em boas condições" e, por enquanto, "o processo desenrola-se conforme o previsto".
Foto: DW/L. Matias
Quelimane: Zambezianos em peso nas urnas
Assembleias de voto em Quelimane, província central da Zambézia, registam grande afluência de eleitores desde as primeiras horas. A DW encontrou vários cidadãos que não conseguiram votar por problemas com o cartão de eleitor. Luís Boavida, cabeça de lista do MDM, e Manuel de Araújo, da RENAMO, apelaram aos zambezianos para irem às urnas. Pio Matos, da FRELIMO, garantiu que está "tudo tranquilo".
Foto: DW/N. Issufo
Gaza: Ambiente calmo e ordeiro
A tranquilidade marcou a abertura das mesas de voto em Mandlakazi, na província de Gaza, no sul. Gaza foi notícia nos últimos meses porque foi aqui que os órgãos eleitorais moçambicanos recensearam cerca de 230 mil eleitores a mais do que o número da população em idade eleitoral anunciada pelo INE. Irregularidades muito contestadas por oposição e sociedade civil.
Foto: DW/C. Matsinhe
Nampula: Eleitores impedidos de votar
Em Mulila, no populoso bairro de Namicopo, na cidade de Nampula, pelo menos oito eleitores foram impedidos de votar, alegadamente porque os seus nomes não constavam dos cadernos eleitorais. O bairro de Namicopo é na sua maioria habitado por apoiantes da RENAMO. Já a Sala da Paz condenou a "falta de vontade dos órgãos eleitorais" em credenciar observadores na província de Nampula.
Foto: DW/S. Lutxeque
Tete: Balanço positivo da Sala da Paz
A Sala da Paz faz um balanço positivo das primeiras horas de votação em Tete, apesar de se verificaram longas filas de eleitores e de alguns membros desta plataforma eleitoral não terem sido credenciados pelos órgãos de administração eleitoral para a observação do pleito. Nestas eleições, Tete elege 21 deputados para a Assembleia da República e 82 membros para a Assembleia Provincial.
Foto: DW/A. Zacarias
Inhambane: Prioridade para eleitores idosos
Idosos em Inhambane estão a ter prioridade nas mesas das assembleias de voto. Nesta província, as mesas abriram à hora prevista, com milhares de eleitores nas filas para exercerem o seu direito cívico. A afluência às urnas diminuiu ao final da manhã. Os concorrentes ao cargo de governador votaram cedo e aguardam os resultados nas suas residências, sob fortes medidas de segurança.
Foto: DW/L. da Conceição
Pemba: Longa espera para votar
Ao contrário de Inhambane, em Pemba, província de Cabo Delgado, alguns idosos queixam-se da longa espera para votar e lamentam que não lhes seja concedida prioridade, como preconiza a lei. "Há lutas na fila e como nós somos mais velhas não conseguimos ficar paradas, por isso ficamos sentadas", disse à DW África a idosa Albertina Navaia, que vota na Escola Primária de Cariacó.
Foto: DW/D. A. Uatanle
Manica: Votação sem sobressaltos
Em Manica, a votação tem sido sobressaltos nem registo de ilícitos eleitorais. Apesar de, no geral, os partidos darem nota positiva ao arranque do processo na província, o delegado do MDM, Humberto Escova, lamentou a circulação de automóveis blindados, na zona de Pinanganga, no distrito de Gondola, e acusou o contingente policial de semear o medo entre os eleitores.