Mondlane queixa-se de retaliação na RENAMO
20 de janeiro de 2024Em causa estão as decisões desta semana da estrutura da RENAMO, que afastou Venâncio Mondlane do cargo de assessor do presidente, Ossufo Momade, e de relator da bancada do partido na Assembleia da República, poucos dias depois do anúncio da sua candidatura interna.
"A exoneração como assessor penso que é legítima, visto que uma vez ser potencial concorrente à presidência da RENAMO podia gerar-se uma situação de colisão de interesses. Em relação à função de relator da bancada, claramente é retaliação para me desmoralizar e abater psicologicamente. Mas estou firme, convicto e inquebrantável", afirmou, em declarações à Lusa.
"Isto vem para fortalecer ainda mais que a minha luta é certa e deve continuar", acrescentou.
Autárquicas
Venâncio Mondlane concorreu em outubro passado às eleições autárquicas em Maputo, pela RENAMO, tendo liderado cerca de 50 manifestações com milhares de pessoas na capital contra os resultados eleitorais oficiais, que deram a vitória à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, partido no poder), rejeitados pela oposição e pelo candidato.
A RENAMO é liderada por Ossufo Momade desde a morte de Afonso Dhlakama, em maio de 2018, mas o mandato dos órgãos do partido, expirou em 17 de janeiro. Ainda assim, este mês, o porta-voz do partido, José Manteigas, apontou Ossufo Momade como candidato nas eleições gerais de outubro ao cargo de Presidente da República.
Mesmo sem congresso eletivo ou reunião da comissão nacional convocadas, três militantes já anunciaram que pretendem concorrer à liderança da RENAMO, num ano em que Moçambique realiza eleições gerais em outubro, incluindo presidenciais, casos do deputado e ex-candidato à autarquia de Maputo, Venâncio Mondlane, do filho do líder histórico do partido, Elias Dhlakama, e do ex-deputado Juliano Picardo, enquanto o autarca de Quelimane, Manuel de Araújo, disse estar a estudar essa possibilidade.
Nestas eleições autárquicas, a RENAMO passou de oito autarquias, num total de 53, para apenas quatro, após intervenção do Conselho de Constitucional, entre 65 municípios (12 novos). Nas últimas legislativas o partido perdeu ainda mais de 30 deputados e não elegeu qualquer governador provincial.
"CR7 da política moçambicana"
Venâncio Mondlane, engenheiro florestal e deputado no parlamento pela RENAMO, tem 50 anos e é classificado pelos seus simpatizantes como VM7 - o CR7 da política moçambicana, numa alusão ao futebolista português Cristiano Ronaldo.
Em 2018, Mondlane saiu do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro partido parlamentar, para a RENAMO, numa de várias movimentações de candidatos inéditas em eleições autárquicas em Moçambique naquele ano.
As sextas eleições autárquicas realizadas no ano passado, em que a FRELIMO foi declarada como vencedora em 60 autarquias de um total 65, foram fortemente contestadas pela oposição, que não reconheceu os resultados oficiais, e pela sociedade civil, alegando uma "megafraude".
A liderança da RENAMO tem sido criticada externa e internamente, com o antigo líder do braço armado do partido Timosse Maquinze a acusar Ossufo Momade de inércia face a alegadas irregularidades nas eleições autárquicas moçambicanas de outubro, alegadamente a favor do partido no poder, e de negligência face à situação dos guerrilheiros do partido recentemente desmobilizados.
Moçambique prepara-se, neste ano, para as eleições gerais, incluindo as sétimas presidenciais e às quais o atual Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, já não pode constitucionalmente concorrer.
O escrutínio está marcado para 09 de outubro, com um custo de cerca de 6.500 milhões de meticais (96,3 milhões de euros), conforme dotação inscrita pelo Governo na proposta do Orçamento do Estado para 2024.