Leila Zerrougui, chefe da Missão das Nações Unidas na RDCongo (MONUSCO), afirma que é preciso dar tempo a Felix Tshisekedi, recém-eleito Presidente da RDC.
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"É preciso dar tempo ao novo Presidente da República Democrática do Congo (RDC), Felix Tshisekedi". A frase é da representante especial do secretário-geral da ONU no país. Em entrevista à DW, quase um mês após a tomada de posse do novo chefe de Estado congolês, Leila Zerrougui mostra-se satisfeita com o desenrolar do processo eleitoral:
“Grosso modo, consideramos que não houve violência grave. À medida que as eleições foram decorrendo, ficou claro que os congoleses queriam uma mudança e foi isso, também, que fez com que não houvesse uma reação violenta, porque era algo que não se esperava".
Ainda assim, a sombra do ex-Presidente Joseph Kabila – que esteve 18 anos no poder - continua a pairar sobre a Presidência de Felix Tshisekedi. A "Frente Comum pelo Congo" (FCC), coligação de Kabila, venceu a maioria na Assembleia Nacional, alimentando as suspeitas da oposição derrotada, que acusa Tshisekedi de ter feito um acordo com Kabila para manter a influência do antigo Presidente sobre Ministérios importantes e forças de segurança. Fato é que, um mês depois da tomada de posse, o novo chefe de Estado ainda não nomeou um primeiro-ministro para formar Governo e continua a trabalhar com a equipa apontada por Kabila.
Primeiro encontro Kabila - Tshisekedi
Entretanto, na passada quarta-feira (21.02), o ex-Presidente reuniu a “família política” do FCC, para assinar um acordo com vista a tornar a coligação eleitoral numa “plataforma política de governo”. No domingo (17.02.), Joseph Kabila e Felix Tshisekedi reuniram-se pela primeira vez desde a tomada de posse do novo Presidente e, segundo a agência de notícias "France Presse", abordaram a questão da “criação de uma coligação política” com vista à formação do Governo que permitirá gerir o país de forma “conjunta”.
Será que os últimos desenvolvimentos poderão afetar o processo democrático na RDC? A líder da missão da ONU, Leila Zerrougui, antevê que será preciso esperar para ver:
MONUSCO pede paciência com novo Governo do Congo
“Acho que temos de dar tempo a Tshisekedi. Ele ainda não formou o Governo. Há muitos partidos na RDC. A Frente Comum pelo Congo [coligação de Joseph Kabila] tem 67 partidos, há muitas formações políticas, muitas coligações, muitas coisas. Vamos ver como é que a paisagem política se constrói nos próximos meses para termos uma ideia.”
MONUSCO não intervém na política
E o que diz a MONUSCO sobre a colaboração Tshisekedi-FCC? A líder da missão deixa claro que o papel da missão de paz não é de intervenção política:
“Cabe à MONUSCO opor-se? Deve a comunidade internacional presente na RDC ditar aos congoleses – que estão calmos, neste momento - o que devem fazer? A missão chama-se MONUSCO e o “S” é de estabilização. O nosso papel é ajudar os congoleses rumo à estabilização e se eles estiverem de acordo, se não houver violações, se as pessoas não são detidas, punidas, sancionadas…se é um processo que avança, não podemos fazer mais nada a não ser apoiá-lo!"
Entretanto, no primeiro encontro com diplomatas estrangeiros, desde a tomada de posse na semana passada, o Presidente congolês sublinhou que, a RDC quer trabalhar com as Nações Unidas para criar um plano de retirada da MONUSCO – presente no país há 20 anos.
Até lá, Felix Tshisekedi frisa que, as suas tropas “devem ser reduzidas, melhor armadas e preparadas” para combater os inúmeros grupos rebeldes e milícias que controlam vastas áreas da RDC.
Cobalto no Congo: O preço da ganância
O Congo é o maior fornecedor mundial de cobalto, metal necessário para fabricar smartphones e carros elétricos. Mas o solo e a água já estão contaminados. A população está a adoecer e há casos de abortos e malformações.
Foto: Lena Mucha
O deserto contaminado de Kipushi
Perto da cidade de Kipushi, no sul do Congo, há um deserto artificial. Até à década de 1990 funcionava aqui uma mina. Vários quilómetros quadrados de solo estão contaminados: não cresce aqui nada há décadas. O rio também está poluído. Mas a mineradora canadiana Ivanhoe Kipushi quer explorar cobalto na região. Há casos frequentes de malformações congénitas em recém-nascidos, dizem médicos locais.
Foto: Lena Mucha
Malformações e nados-mortos
Nos hospitais locais, há cada vez mais casos de crianças que nascem com malformações, como lábio leporino e pé boto. Só no Hospital St. Charles Lwanga, em Kipushi, houve três casos de anencefalia em março. O feto não desenvolve o cérebro e geralmente o bebé morre logo após o nascimento. "Algo não está bem aqui, mas não temos dinheiro para pesquisas", conta Alain, que é ginecologista.
Foto: Lena Mucha
"É preciso educar as pessoas"
Um grupo de pesquisa interdisciplinar da Universidade congolesa de Lubumbashi está a trabalhar com a Universidade de Lovaina, na Bélgica, num projeto de investigação sobre a relação entre a exploração de cobalto e a saúde. "É preciso educar as pessoas para o que está a acontecer aqui. As toxinas tornam-nos doentes", diz Tony Kayembe, um dos membros do grupo de investigadores.
Foto: Lena Mucha
Partos prematuros
Dois bebés prematuros estão numa incubadora no Hospital St. Charles Lwanga, em Kipushi. "Suspeitamos que o elevado número de nascimentos prematuros nesta região está relacionado com a contaminação por metais como o cobalto," diz Tony Kayembe, investigador da Universidade de Lubumbashi e membro do grupo de pesquisa internacional. A maioria dos moradores de Kipushi trabalha nas minas de cobalto.
Foto: Lena Mucha
Crianças doentes
Adele Masengo tem cinco filhos. O marido trabalha numa mina de cobalto. A filha mais velha ficou cega aos 12 anos. Além de um aborto espontâneo, Adele teve um bebé com malformações, que morreu logo após o nascimento. Ainda não sabe se foi por causa do cobalto. "Quando os meus bebés nasceram, tiraram-lhes sangue, mas nunca conseguimos saber os resultados", diz.
Foto: Lena Mucha
Procura cada vez maior
O Congo é responsável por 60% da produção mundial de cobalto. Este metal raro é necessário para as baterias de lítio usadas em smartphones, computadores portáteis e carros elétricos. Por causa do rápido aumento da procura, os preços triplicaram nos últimos dois anos. Crianças, mulheres e homens que trabalham nas minas estão expostos a várias toxinas.
Foto: Lena Mucha
Em pleno "cinturão de cobre" africano
A GECAMINES é a maior empresa de mineração do Congo. Está localizada em Lubumbashi, a segunda maior cidade do país, no centro do chamado "cinturão de cobre" africano. Muitas grandes empresas internacionais instalaram-se aqui, na fronteira com a Zâmbia. Anualmente são produzidas 5000 toneladas de cobalto.
Foto: Lena Mucha
Água tóxica
Estes trabalhadores procuram cobalto e outras substâncias num rio contaminado. Para muitos, esta é a única fonte de rendimento. "Nós aqui quase não usamos a nossa água", diz um residente local. "A água deixa uma película estranha na pele. Quando lavo a minha roupa com esta água, ela depois desfaz-se. E até as batatas, que regamos com água, têm um sabor estranho."
Foto: Lena Mucha
Viver ao lado de uma refinaria
Mesmo ao lado da Congo Dongfang Mining (MDL) foi construída uma área residencial. A empresa chinesa está entre os maiores compradores de cobalto no Congo. Quando chove, os resíduos da refinaria da MDL em Lubumbashi chegam ao bairro vizinho de Kasapa. Os residentes queixam-se de graves problemas respiratórios e de pele, mas até agora a MDL ainda não respondeu às suas queixas.
Foto: Lena Mucha
Sem proteção
Um dermatologista examina um paciente no Hospital Universitário de Lubumbashi. A maioria dos mineiros no Congo trabalha sem roupas de proteção. Além de metais como cobalto, cobre e níquel, muitas vezes também há urânio nas rochas. E os moradores estão igualmente expostos ao pó.