Moody's prevê descer o 'rating' a mais de 30 países em 2016
Lusa | ar
14 de novembro de 2016
A Moody's coloca a dívida pública de Angola (B1, Negativa) e Moçambique (Caa3, Negativa) abaixo do nível de investimento, geralmente referido como 'junk' ou 'lixo'.
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A agência de notação financeira Moody's anunciou esta segunda-feira (14.11.) que a Perspetiva de Evolução dos 'ratings' globais degradou-se para o pior nível desde 2012, prevendo agora descer a sua avaliação em 26% dos países analisados.
No relatório sobre a Perspetiva Global do Crédito Soberano para o próximo ano, divulgado esta segunda-feira, a Moody's diz que "a previsão de evolução ['Outlook', no original em inglês] dos 'ratings' é negativa" devido à conjugação de vários fatores, entre os quais estão uma política orçamental expansionista que vai aumentar o já endividado setor público, aumento dos riscos políticos e geopolíticos e um contínuo crescimento económico baixo".
O relatório revela que, a nível global, a Moody's prevê rever em baixa 26% do crédito soberano avaliado em 134 países, ou seja, mais de 30 países, uma percentagem que está ao nível mais baixo desde o final de 2012, e que compara com os 17% de há um ano.
"A percentagem de países com uma Perspetiva de Evolução Estável caiu de 75%, no ano passado, para 65%, enquanto 9% têm um 'Outlook' positivo, semelhante aos 8% do ano passado", lê-se no relatório enviado aos investidores.
"Um dos constrangimentos mais importantes para a maioria do crédito soberano analisado é o ambiente de persistente crescimento baixo", disse o diretor geral da área do risco soberano, Alastair Wilson, acrescentando que "a capacidade de a política monetária sustentar o crescimento nas economias avançadas está a diminuir, e em muitos mercados emergentes é limitada pela inflação acima da média e por pressões sobre as taxas de câmbio".
Perigo de sobre-endividamentoOs estímulos orçamentais, geralmente caraterizados por um aumento da despesa pública, historicamente financiada por dívida barata, para impulsionar o crescimento económico, parece ser o caminho escolhido pela maioria dos governos, mas a Moody's alerta para o perigo de sobre-endividamento.
"Isso pode sustentar o crescimento a curto prazo e também ter efeitos positivos a longo prazo se o investimento aumentar o crescimento da produtividade, mas uma mudança para uma política orçamental mais expansionista implica riscos para a qualidade do crédito de muitos países, já que têm atualmente níveis de dívida elevados", alerta o relatório.
"Qualquer aumento da dívida para financiar despesa corrente sem grande benefício para as perspetivas de crescimento económico é negativo do ponto de vista do crédito", dizem os peritos da Moody's.
Olhando para os maiores países ou uniões políticas, a Moody's sublinha a "incerteza" do impacto das eleições norte-americanas e também a "falta de coesão e risco de subsequente 'fragmentação'" na União Europeia, no seguimento do voto britânico a favor da saída do bloco.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.