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"Mordomias" dadas pela FRELIMO imobilizam a RENAMO

2 de novembro de 2023

Protestos pós-eleitorais sustentados pela RENAMO não passam de "teatro", pois os dirigentes do maior partido da oposição "estão com muitas mordomias que a FRELIMO soube distribuir, têm todos benesses", diz pesquisador.

Ossufo Momade, líder da RENAMO, o maior partido da oposição moçambicana
Ossufo Momade, líder da RENAMOFoto: Bernardo Jequete/DW

O pesquisador do Observatório do Meio Rural (OMR) João Mosca entende ainda que a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição, "é perfeitamente manipulada pela FRELIMO."

A DW entrevistou-o sobre a fraude supostamente orquestrada pelo partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), nas eleições autárquicas de 11 de outubro. Mosca deu nota positiva aos partidos da oposição, que a seu ver "estiveram muito mais organizados". Relativamente ao partido no poder afirma que, "mais uma vez, a FRELIMO não soube interpretar ou não quer saber interpretar os sinais destas eleições."

DW África: A FRELIMO até há pouco tempo era sofisticada na elaboração da fraude, mas isso parece ter mudado. Que dimensão tomou a "mão suja" do partido neste pleito?

João Mosca (JM): Não sei se era mais sofisticada, talvez a pouca sofisticação anterior tenha sid rompida devido à amplitude que a pequena fraude ou menor dimensão da fraude tomou nessas eleições. Eventualmente a FRELIMO, que se afasta cada vez mais do sentimento popular, não esperava uma adesão tão forte do movimento anti-FRELIMO através dos principais partidos da oposição. Daí que a fraude programada em eleições anteriores era incapaz de absorver essa dimensão de fraude, então o esquema fraudulento foi roto pela escala e dimensão do voto contra, mas também porque os partidos da oposição estiveram muito mais organizados no controle das listas e pautas eleitorais do comportamento das mesas de votos nas zonas de eleições, estiveram mais atentos e mais ativos e interviram de uma de forma muito mais forte nestas eleições.

DW África: A FRELIMO corre o risco de ser surpreendida pela negativa ao relativizar ou minimizar os eventos destas eleições?

JM: A FRELIMO com estas eleições, com o seu resultado e com o comportamento millitarizante que teve no pós-eleições, com as manifestações, com o tipo de discurso que teve naturalmente só tem a perder com isso. Daí que, uma vez mais, a FRELIMO não soube interpretar ou não quer saber interpretar os sinais destas eleições. Portanto, esta onda de contestação, sobretudo desses jovens que serão os mesmos a votarem, provavelmente eles irão perder as eleições, ou não perderão se houver, como antes, situações de fraude grandes.

João Mosca, pesquisador do Observatório do Meio Rural (OMR)Foto: DW/J. Beck

DW África: Vê o risco da RENAMO voltar a pegar em armas?

JM: Não, penso que não. Penso que isto está fora de questão por razões diversas, porque os dirigentes da RENAMO já estão acomodados, estão com muitas mordomias que a FRELIMO soube distribuir, estão bem instaladas dentro da sociedade moçambicana em termos de recursos materiais, qualidade de vida, têm casas, carros, têm o Parlamento, têm salários dados pela FRELIMO, pela própria RENAMO.

DW África: Então, sabem todos que isto não passa de um teatro?

JM: Todos pensam que isto é um teatro. Eu inclusivamente propus nas últimas eleições gerais, onde já se verificavam fortes situações de fraude, falei com pessoas dos dois partidos da oposição, e um pouco na brincadeira, mas também um pouco a sério, disse que o que eles deveriam fazer era não ter assento no Parlamento e deixar a FRELIMO governar como ela governa atualmente, e sempre governou de forma individual, onde a oposição, para além de ser minoritária é perfeitamente manipulada pela FRELIMO, mas não o fizeram porque já estão todos com interesses, têm todos benesses, salários, casas, carros. Não é possível.

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