Moreira Chonguiça e o impacto africano no mercado do jazz
19 de abril de 2024É incansável quando o assunto é conquistar "um lugar ao sol" para o jazz africano num espaço que designa de "vila global". Num mundo onde o jazz africano luta por um espaço global, Moreira Chonguiça, um influente saxofonista moçambicano, traz uma visão revolucionária.
Recentemente na Alemanha para o festival "Jazzahead," na cidade de Bremen, Chonguiça não só participou como fez história, apresentando pela primeira vez um stand dedicado a África.
Em entrevista à DW, revela que este espaço serviu como uma vitrine para a riqueza da música e da arte africana, refletindo a sua crença de que é vital para os produtos e artistas africanos terem um posicionamento estratégico no mercado global.
DW África: Como foi a experiência no "Jazzahead", no passado fim de semana, especialmente com a inovação que trouxe ao evento?
Moreira Chonguiça (MC): Foi a minha primeira experiência no "Jazzahead", em Bremen, mas tenho a honra de dizer que fizemos história. Pela primeira vez, criámos e apresentámos um stand de África com um grupo de promotores, produtores e radialistas. Esta inovação permite-nos expor, mostrar e divulgar a qualidade da arte, da música em geral e do jazz que está a acontecer no nosso continente.
DW África: Esteve cá no âmbito de um projeto denominado "Jazz from Africa". Pode contar-nos um pouco sobre esta iniciativa?
MC: É uma iniciativa para amplificar a voz africana no Ocidente e mais além. O "Jazz from Africa" visa expor comercialmente os nossos produtos, que devem ter um valor comercial. Frequentemente, quando se olha para África, vê-se apenas o aspeto social, como as doações da Alemanha ou do Japão, mas nós temos produtos vendíveis que podem contribuir para o nosso PIB através da cadeia de valores da indústria criativa.
Estamos a criar uma nova narrativa na qual devemos posicionar-nos e fazer-nos presentes naquilo que chamo de "vila global", onde estão os maiores e melhores do mundo. Por vezes, não somos considerados os melhores porque não estamos presentes.
DW África: Então, esta iniciativa que nasceu da feira e festival internacional de jazz em Bremen é o resultado deste envolvimento africano?
MC: Também, mas é o resultado de muitas coisas. Se voltarmos aos grandes nomes como Manu Dibango, Miriam Makeba, Fela Kuti, entre outros, veremos que a nossa presença no mundo já existe há muito tempo. Não é apenas uma questão de presença física. Estamos a beneficiar de um trabalho que vem sendo desenvolvido há um século por outros artistas.
DW África: África tem uma palavra importante a dizer sobre o jazz. O que destacaria sobre o jazz contemporâneo africano?
MC: África é o primeiro "player". Se olharmos para a história do continente africano, não podemos falar de jazz sem falar da história da escravatura. Não podemos falar de jazz sem considerar a expressividade cultural, histórica e social deste continente. Temos uma grande influência a exercer. O futuro é o continente africano, acho que será o continente com o maior crescimento. Portanto, temos de nos preparar e posicionar, com os olhos bem abertos, senão as oportunidades passarão por nós.