Morre realizador de Burkina Faso Idrissa Ouedraogo
Lusa | EFE
18 de fevereiro de 2018
Vencedor do grande prêmio do júri do festival de Cannes em 1990, realizador de Burkina Faso foi responsável por levar o cinema de África para além das fronteiras do continente.
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O realizador de Burkina Faso Idrissa Ouedraogo, conhecido por filmes como "A cólera das deuses" (2003) e "Tilaï" (1990), morreu este domingo (18.02) aos 64 anos, anunciou a União Nacional de Cineastas do Burquina Faso.
Ouedraogo foi um dos realizadores de África mais reconhecidos em nível internacional e o mais relevante de Burkina Faso. O cineasta dirigiu uma dezena de filmes e muitos documentários e curtas-metragens.
Figura emblemática do cinema africano entre 1980 e 2000, autor de cerca de 40 filmes, Idrissa Ouedraogo foi premiado nos maiores festivais de cinema.
Com "Tilaï", um drama que mostra as tradições de uma família de Burkina Faso, ganhou o grande prêmio do júri do festival de Cannes em 1990. Com "Yaaba" (1988), Idrissa Ouedraogo venceu o prêmio da crítica de Cannes em 1989.
O realizador também participou da direção da filme coletivo "11-09-01" (2002) sobre os atentados de 11 de setembro contra as torres gêmeas de Nova York, junto com o britânico Ken Loach e o mexicano Alejandro González de Iñárritu.
Carreira de sucesso
Idrissa Ouedraogo começou a carreira cinematográfica em 1981 com uma ficção intitulada "Poko", que ganhou, no mesmo ano, o prémio de melhor curta-metragem do Festival Panafricano de Cinema e de Televisão de Uagadugu (Fespaco), o maior festival de cinema da África subsaariana.
Após completar a formação no Instituto de Altos Estudos Cinematográficos na universidade Paris-Sorbonne, realizou em 1986 a primeira longa-metragem, "Yam daabo" ("A escolha"), seguindo-se dois anos depois "Yaaba" ("Avó").
O realizador também fundou a Associação de Autores, Realizadores e Produtores Africanos de Cinema (ARPA), em parceria com a cadeia de televisão francesa codificada Canal Plus.
Em comunicado, o presidente de Burkina Faso, Roch Marc Christian Kabore, enviou condolências à família e à comunidade do cinema do país em nome de seu gabinete e de toda a nação.
"A África perde um dos seus melhores embaixadores no domínio da cultura ", disse Kabore. Ele "fez muito para promover o cinema burquinabê e africano além das nossas fronteiras", destacou o Presidente de Burkina Faso.
Cinemas únicos em Angola
São obras únicas vistas pela lente do fotógrafo angolano Walter Fernandes - cinemas e cine-esplanadas desconhecidos de muitos. As fotos foram reunidas em livro e estão em exposição em Lisboa, a partir desta semana.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
"Uma ficção da liberdade"
O Cine Estúdio do Namibe inspira-se nas obras do arquiteto Oscar Niemeyer. É um dos edifícios únicos de Angola destacados no livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade" e fotografados por Walter Fernandes. Esta é uma das imagens em exposição no Goethe-Institut de Lisboa que revelam uma arquitetura desconhecida por muitos de cinemas construídos antes do fim do domínio colonial português.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Património mal preservado
O Cine Tômbwa, também no Namibe, obedece a uma lógica de salas fechadas, mas já apresentava algumas linhas mais modernas. Segundo o fotógrafo Walter Fernandes, o edifício foi construído com materiais "sui generis". Mas o património herdado está muito mal preservado, lamenta o angolano.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Moçâmedes: A pérola do Namibe
No Cine-Teatro Namibe (antigo Moçâmedes) nota-se bastante a influência da arquitetura do regime ditatorial português, o Estado Novo. Este é considerado um dos cinemas angolanos mais antigos e também aparece no livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade", apadrinhado pelo Goethe-Institut em Luanda e pela editora alemã Steidl.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Conceito futurista
O arquiteto Botelho Pereira não só desenhou o Cine Estúdio do Namibe, como também o Cine Impala. Botelho Pereira inspirou-se no movimento deste antílope e planeou espaços abertos e arejados, de forma futurista. O livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade" também destaca estas cine-esplanadas, que ganharam popularidade a partir de 1960 por se adaptarem mais ao clima tropical do país.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Cinema-esplanada para as elites
Este é um dos cinemas preferidos de Miguel Hurst, um dos editores do livro "Angola Cinemas". Foi aqui, no Cine Kalunga, em Benguela, que se pensou em fazer a obra. Cine-esplanadas como esta adequavam-se mais ao clima, mas serviam também um propósito do regime português - criar locais de convívio entre as populações locais e os colonos. A elite branca e a pequena burguesia negra vinham aqui.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
A "grande sala"
A "grande sala" de Benguela era o Monumental - pelo menos, ganhou essa reputação. Os colonizadores portugueses construíram o Cine-Teatro nesta cidade costeira pois evitavam o interior do país - normalmente, as companhias portuguesas só atuavam nas grandes cidades da costa angolana.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Imperium: "Art decó" em Benguela
Aqui, são imediatamente visíveis traços da passagem da "art decó" (um estilo artístico de caráter decorativo que se popularizou na Europa nos anos 20) para o modernismo. O interior do Cine Imperium, fotografado por Walter Fernandes, representa bem essa mistura estética, com os cubos, retas, círculos e janelas. Benguela tinha várias salas, porque era das províncias mais populosas de Angola.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
O arquiteto que pensava as cidades
Este é o interior do Cine Flamingo: mais uma pérola da província de Benguela. A parte de trás é uma esplanada. Sentado, o espetador está em contacto com a natureza, mas não está exposto. Até hoje, a estrutura mantém-se, mas o espaço está um pouco vandalizado. Miguel Hurst sublinha a importância de manter obras como esta do arquiteto Francisco Castro Rodrigues, um homem que pensava cidades.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Primeiro cine-teatro de Angola
"O Nacional" Cine-Teatro foi a primeira sala construída em Luanda, no início do Estado Novo, nos anos 40. Esta é uma das imagens patentes na exposição no Goethe-Institut em Lisboa. A mostra pretende ser "um testemunho do modo como estes edifícios constituíam um enquadramento elegante que sublinhava uma simples ida ao cinema, promovendo assim a reflexão sobre esta herança sociocultural e afetiva."
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Memória para gerações futuras
Os irmãos Castilho são os principais responsáveis pela introdução das cine-esplanadas em Angola. A primeira da sua autoria foi o Miramar, encostado a uma ribanceira virada para o mar em Luanda. Depois surgiu o Atlântico, na foto. Para os autores do livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade", este é um documento de memória que pode ser útil para as futuras gerações.