Dirigente histórico da UNITA morre aos 69 anos em Luanda, vítima de doença. Político era um dos últimos negociadores angolanos vivos do Acordo de Alvor, que antecedeu a independência de Angola.
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Morreu na madrugada deste domingo (01.04) aos 69 anos o nacionalista e deputado angolano Almerindo Jaka Jamba. Descrito como "diplomata, professor, político e homem de cultura", Jaka Jamba foi um dirigente histórico da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e um dos últimos negociadores angolanos vivos do Acordo de Alvor, que antecedeu a independência de Angola.
Em entrevista à DW África, Alcides Sakala, deputado e porta-voz da UNITA, o maior partido da oposição angolana, assim descreveu Jaka Jamba: "Era um homem de cultura, humanista, africanista, nacionalista, patriota, historiador, filósofo e um homem de pensamento".
Sakala diz que conheceu Jaka na década de 1960 na antiga Nova Lisboa, atual província do Huambo, enquanto estudantes. "Sempre caminhamos juntos na resistência e na busca de construção de uma nova nação", sublinhou.
A família explica que, antes de apresentar complicação de saúde, Jaka Jamba encontrava-se em casa, em Luanda, em convívio familiar. Em declarações a uma cadeia televisa local, Gilberto Satumbo, um dos familiares, disse que o encontro da família terminou pouco depois da meia-noite.
"A mãe foi para o quarto dormir e ele ficou na sala", conta. Momentos depois, viria a ser encontrado no mesmo local pela sua mulher "já com dificuldades de respiração".
A família tentou reanimá-lo com mecanismos de recuperação de respiração, mas sem o efeito desejado. "Só às três horas se pensou em chamar uma ambulância. A ambulância também demorou 20 minutos, o que obrigou a senhora a tomar outros recursos", explicou Gilberto Satumbo.
Reações nas redes sociais
As reações em torno da morte do deputado Jaka Jamba não se fizeram esperar. Rapidamente, cidadãos de diferentes segmentos sociais fizeram várias públicações nas redes sociais.
Ainda assim, muitos não acreditavam na notícia, em função do 1º de Abril, tido como "dia das mentiras". Mas ao longo da manhã e princípio da tarde, a informação foi confirmada por órgãos de informação.
"A nossa última conversa, que já estava apalavrada, ficou adiada sine die", escreveu o renomado jornalista angolano Reginaldo Silva, em seu perfil no Facebook.
O jornalista e jurista Alberto Nunes escreveu: "Angola perde um dos seus filhos mais nobres. Angola agradece a grandeza do coração deste filho. Deixa-nos lições de humildade, respeito, compromisso, sabedoria e interface".
'Diplomata e homem de cultura'
Nascido a 21 de março de 1949, Jaka Jamba formou-se em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, em Portugal, e foi professor na Escola Técnica do Seixal e no Liceu Nacional de Oeiras. Militante ativo da UNITA em Lisboa, em 1972 deixou a capital portuguesa e partiu para a Suíça.
Em 1975, integrou, pela UNITA, a equipa que negociou, no Algarve, os Acordos de Alvor com o Governo português, de partilha do poder em Angola após a independência. Nesse mesmo ano, foi nomeado pela UNITA como Secretário de Estado da Informação do Governo de Transição de Angola.
Jaka Jamba partilhou o cargo com Rui Monteiro, então Ministro da Informação indicado pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), e Hendrick Vaal Neto, indicato pela Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). Os três movimentos foram os que lutaram pela descolonização de Angola.
Em declarações à DW África, em dezembro de 2013, quando questionado sobre se a guerra tinha valido a pena, Jaka respondeu: "Eu – fiel aos meus princípios e às minhas convicções – uma vez que nós tínhamos assinado os Acordos de Alvor, levamos 16 anos neste combate bastante difícil, mas era preciso defender os princípios e os valores. E hoje, se temos democracia é graças em parte também à resistência que a UNITA fez, pelo que nós tivemos que nos envolver na luta, esta luta que não acabou e que estamos a ter ainda até hoje".
Entre 1997 e 2005, Jaka Jamba desempenhou a vice-presidência da Assembleia Nacional de Angola. De 2005 a 2008, foi Embaixador Delegado Permanente da República de Angola junto à UNESCO.
Antes de sua morte, atuava como professor da Universidade Agostinho Neto e como deputado na Assembleia Nacional, pertencente à 6ª Comissão do Parlamento angolano, que responde pelos assuntos da Saúde, Educação, Ensino Superior, Ciência e Tecnologia.
De fortalezas a cinemas: o património colonial português em África
A colonização portuguesa nos países africanos deixou edificações históricas, que vão desde fortificações militares, igrejas, estações de comboio, até cinemas. Boa parte deste património ainda resiste.
Foto: DW/J.Beck
Calçada portuguesa
Na Ilha de Moçambique, antiga capital moçambicana, na província de Nampula, a calçada portuguesa estende-se à beira mar. A herança colonial que Portugal deixou aqui é imensa e está presente num conjunto de edificações históricas, entre fortalezas, palácios, igrejas e casas. Em 1991, este conjunto foi reconhecido como Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de São Sebastião
A Fortaleza de São Sebastião, na Ilha de Moçambique, começou a ser erguida pelos portugueses em 1554. O motivo: a localização estratégica para os navegadores. Ao fundo, vê-se a Capela de Nossa Senhora do Baluarte, de 1522, que é considerada a mais antiga estrutura colonial sobrevivente no sul de África.
Foto: DW/J.Beck
Hospital de Moçambique
O Hospital de Moçambique, na Ilha de Moçambique, data de 1877. O edifício de estilo neoclássico foi durante muito tempo a maior estrutura hospitalar da África Austral. Atualmente, compõe o património de construções históricas da antiga capital moçambicana.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de Maputo
A Fortaleza de Maputo situa-se na baixa da capital moçambicana e é um dos principais monumentos históricos da colonização portuguesa no país. O espaço foi ocupado no início do século XVIII, mas a atual edificação data do século XX.
Foto: DW/J.Beck
Estação Central de Maputo
Desde a construção da Estação Central dos Caminhos-de-Ferro (foto) na capital moçambicana, no início do século XX, o ato de apanhar um comboio ganhou um certo charme. O edifício, que pode ser comparado a algumas estações da Europa, ostenta a uma fachada de estilo francês. O projeto foi do engenheiro militar português Alfredo Augusto Lisboa de Lima.
Foto: picture-alliance / dpa
Administração colonial portuguesa em Sofala
Na cidade de Inhaminga, na província de Sofala, centro de Moçambique, a arquitetura colonial portuguesa está em ruínas. O antigo edifício da administração colonial, com traços neoclássicos, foi tomado pela vegetação e dominado pelo desgaste do tempo.
Foto: Gerald Henzinger
"O orgulho de África"
Em Moçambique, outro de património colonial moderno: o Grande Hotel da Beira, que foi inaugurado em 1954 como uma das acomodações mais luxuosas do país. O empreedimento português era intitulado o "orgulho de África". Após a independência, em 1975, o hotel passou a ser refúgio para pessoas pobres. Desde então, o hotel nunca mais abriu para o turismo.
Foto: Oliver Ramme
Cidade Velha e Fortaleza Real de São Filipe
Em Cabo Verde, os vestígios da colonização portuguesa espalham-se pela Cidade Velha, na Ilha de Santiago. Entre estas construções está a Fortaleza Real de São Filipe. A fortificação data do século XVI, período em que os portugueses queriam desenvolver o tráfico de escravos. Devido à sua importância histórica, a Cidade Velha e o seu conjunto foram consagrados em 2009 Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J. Beck
Património religioso
No complexo da Cidade Velha está a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, conhecida por ser um dos patrimónios arquitetónicos mais antigos de Cabo Verde, com mais de 500 anos. Assim como em Cabo Verde, o período colonial português deixou outros edifícios ligados à Igreja Católica em praticamente todos os PALOP.
Foto: DW/J. Beck
Palácio da Presidência
Na cidade da Praia, em Cabo Verde, a residência presidencial é uma herança do período colonial português no país. Construído no século XIX, o palácio abrigou o governador da colónia até a independência cabo-verdiana, em 1975.
Foto: Presidência da República de Cabo Verde
Casa Grande
Em São Tomé e Príncipe, é impossível não reconhecer os traços da colonização portuguesa nas roças. Estas estruturas agrícolas concentram a maioria das edificações históricas do país. A imagem mostra a Casa Grande, local onde vivia o patrão da Roça Uba Budo, no distrito de Cantagalo, a leste de São Tomé. As roças são-tomenses foram a base económica do país até a indepência em 1975.
Foto: DW/R. Graça
Palácio reconstruído em Bissau
Assim como em Cabo Verde, na Guiné-Bissau o palácio presidencial também remonta o período em que o país esteve sob o domínio de Portugal. Com arquitetura menos rebuscada, o palácio presidencial em Bissau foi parcialmente destruído entre 1998 e 1999, mas foi reconstruído num estilo mais moderno em 2013 (foto de 2012). O edifício, no centro da capital guineense, destaca-se pela sua imponência.
Foto: DW/Ferro de Gouveia
Teatro Elinga
O Teatro Elinga, no centro de Luanda, é um dos mais importantes edifícios históricos da capital angolana. O prédio de dois andares da era colonial portuguesa (século XIX) sobreviveu ao "boom" da construção civil das últimas décadas. Em 2012, no entanto, foram anunciados planos para demolir o teatro. Como resultado, houve fortes protestos exigindo que o centro cultural fosse preservado.
Foto: DW
Arquitetura colonial moderna
O período colonial também deixou traços arquitetónicos modernos em alguns países. Em Angola, muitos cinemas foram erguidos nos anos 40 com a influência do regime ditatorial português, o chamado Estado Novo. Na foto, o Cine-Teatro Namibe (antigo Moçâmedes), um dos mais antigos do país, é um exemplo. Foi o primeiro edifício de arquitetura "art déco" na cidade de Namibe.