Morreu Ahmed Kathrada, companheiro de luta de Mandela
Lusa
28 de março de 2017
O ativista sul-africano Ahmed Kathrada, que lutou ao lado de Nelson Mandela contra o regime segregacionista do apartheid, morreu esta terça-feira aos 87 anos, informou a fundação de caridade Kathrada.
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Kathrada estava entre os que foram julgados e presos juntamente com Nelson Mandela, no julgamento de Rivonia, em 1964, que atraiu a atenção mundial e expôs o brutal sistema legal sob o regime do 'apartheid'.
Kathrada passou 26 anos e três meses na prisão, 18 dos quais em Robben Island, ao largo da Cidade do Cabo.
28.03.17 online Reax morte Kathrada - MP3-Mono
Em 2013, Ahmed Kathrada foi guia de Barack Obama na visita que o então Presidente norte-americano realizou a Robben Island, onde Nelson Mandela também esteve preso 18 anos durante o regime do 'apartheid'.
Depois do fim do 'apartheid', Ahmed Kathrada foi conselheiro parlamentar entre 1994 e 1999 do ex-Presidente Nelson Mandela no primeiro governo do Congresso Nacional Africano (ANC na sigla em inglês, o partido no poder).
"Esta é uma grande perda para o ANC, para o movimento de libertação e para a África do Sul como um todo", disse Neeshan Balton, líder da Fundação Ahmed Kathrada Foundation em comunicado.
"'Kathy' foi uma inspiração para milhões em diferentes partes do mundo", disse.
Kathrada iniciou-se no ativismo contra o regime de minoria branca aos 17 anos, numa altura em que era um dos 2.000 "resistentes pacíficos" presos em 1946 por desafiarem legislação que discriminava indianos sul-africanos.
Em julho de 1963, a polícia fez uma rusga à Liliesleaf Farm em Rivonia, um subúrbio da cidade de Joanesburgo, onde Kathrada e outros ativistas séniores se tinham reunido em segredo.
No famoso julgamento de Rivonia, oito dos acusados foram condenados a prisão perpétua com trabalhos forçados em Robben Island.
Além de Nelson Mandela, o ativista Denis Goldberg também foi companheiro de prisão de Ahmed Kathrada. Em entrevista à DW África, ele se lembrou dos momentos que passou ao lado do antigo companheiro de luta.
"Estávamos em julgamento por nossas vidas, por uma conspiração para derrubar o sistema do apartheid. O que eu me lembro é a calma de Kathrada, seu humor, sua capacidade de ver que o que estávamos fazendo era algo que precisávamos fazer. Porque não se pode permitir que a tirania continue. A vida dele inteira foi fazendo isso, antes, durante e depois da prisão", disse.
Ascenção e queda do apartheid
Nenhum outro meio reflete a história de forma tão impressionante quanto a fotografia. O Museum Africa, em Joanesburgo, mostrou numa grande exposição fotográfica a história de repressão e libertação da África do Sul.
Foto: Museum Africa
Fotografias como testemunhas
O Museum Africa de Joanesburgo exibiu 600 fotografias que contam a história de repressão e libertação da África do Sul. Em meados dos anos 50, membros da organização de direitos civis Black Sash (ou "Faixa Preta", na tradução literal) foram às ruas contra o regime do apartheid. A Black Sash foi fundada por mulheres brancas. Em 1990, Nelson Mandela chamou-a de "consciência da África do Sul branca."
Foto: Museum Africa
A câmera como arma
Peter Magubane, um dos mais famosos fotojornalistas negros, começou como motorista e mensageiro da lendária revista Drum. O alemão Jürgen Schadeberg treinou-o na câmara. Magubane tornou-se mundialmente famoso com imagens da revolta nas townships, áreas habitadas na época por não brancos. Muitas vezes, ele escondeu sua câmera das autoridades, em uma Bíblia oca. Na foto, é preso pelas autoridades.
Foto: Museum Africa, Johannesburg
O fim de Sophiatown
O regime do apartheid começou nos anos 50 a dividir áreas residenciais de acordo com as "raças". Como parte da lei Group Areas Act, o bairro multiétnico de Sophiatown, centro cultural da maioria negra, foi demolido e os moradores realocados à força. No lugar de Sophiatown, sugiu o Triumph, um bairro no qual eram permitidos exclusivamente moradores brancos.
Foto: Museum Africa
Comboios sobrelotados
Intermináveis eram as viagens que levavam os moradores dos subúrbios negros para os seus empregos ao centro da cidade. Muitos morreram durante as viagens nos comboios sobrelotados. Mas também havia momentos de espiritualidade. O fotógrafo Santu Mofokeng registou-os numa série impressionante de imagens. O papel da fé e da religiosidade ainda é um dos principais temas para a sociedade sul-africana.
Foto: Museum Africa, Johannesburg
Julgamento por Traição
Nesta fotografia de 1956, a imprensa acompanha o chamado Treason Trial ("Julgamento por Traição"), em que 156 sul-africanos foram acusados de trair o país. Um ano antes, eles haviam publicado a "Carta da Liberdade" que propagou uma derrota do apartheid. Entre os réus estava também Nelson Mandela. O processo resultou em uma solidariedade dos grupos de oposição contra todas as barreiras raciais.
Foto: Museum Africa, Johannesburg
Ícone da Luta de Libertação
Uma das imagens mais famosas da exposição do Museum Africa é hoje um monumento no centro de Soweto, em memória à revolta dos jovens estudantes que protestaram contra a política racial discriminatória em 1976. Hector Pieterson, de 12 anos, foi baleado na manifestação. O fotógrafo Sam Nzima captou a tragédia. A imagem ficou conhecida em todo o mundo.
Foto: DW/Ulrike Sommer
Luto e rancor
Volta e meia a exposição do Museum Africa mostra fotografias de luto coletivo. Os funerais tornam-se grandes eventos políticos, como o enterro dos Craddock Four, quatro membros do grupo da oposição United Democratic Front. Eles foram sequestrados e assassinados em 1985. Mais tarde, soube-se que o ato foi iniciado por oficiais das forças de defesa sul-africanas que agiam de forma oculta.
Foto: Rashid Lombard
Uma nova era
Uma nação esperançosa celebra o vencedor. Em 3 de maio de 1994, está claro: Nelson Mandela será o primeiro Presidente de uma África do Sul democrática. "Foi um momento incrível," lembra o fotógrafo George Hallet. Ele havia retratado exilados sul-africanos por 20 anos. Para acompanhar as primeiras eleições livres com sua câmera, Hallet voltou para sua terra natal.
Foto: George Hallett
Herança pesada dos homelands
Durante décadas, os "homelands" ou "bantustões", as áreas reservadas à população de cor e com alguma autonomia governamental, foram sofrendo cortes: de acesso à educação e cuidados de saúde ao progresso económico. 20 anos após as primeiras eleições livres, muitas regiões ainda lutam contra as consequências da segregação racial territorial.