O veterano do Congresso Nacional Africano Andrew Mlangeni e último sobrevivente do julgamento de Rivonia condenado pelo regime do apartheid morreu num hospital militar com 95 anos, anunciou a Presidência da República.
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Mlangeni, que completou 95 anos em 6 de junho, morreu durante a madrugada no Hospital Militar 1, em Pretória, onde foi admitido em 14 de julho devido a uma "dor abdominal", refere um comunicado publicado esta quarta-feira (22.07) no sítio oficial da Presidência.
"A morte de Andrew Mekete Mlangeni significa o fim de uma história geracional e coloca o nosso futuro diretamente nas nossas mãos", disse o Presidente da República, Cyril Ramaphosa, citado na nota.
"Ele foi um exemplo dos valores que precisamos para construir uma África do Sul que ofereça dignidade e oportunidade para todos e que ocupe o seu lugar de direito na comunidade global de nações", salientou o chefe de Estado sul-africano.
Aliado de Mandela
Andrew Mlangeni, ingressou na Liga da Juventude do Congresso Nacional Africano (ANC) em 1951 e no ANC em 1954, de acordo com a sua fundação.
Em 1961, foi um dos primeiros a ser recrutado por Nelson Mandela para a ala armada uMkhonto we Sizwe (MK) [A Lança da Nação], após o massacre de Sharpeville, Soweto, e enviado pelo partido para treino militar na China.
O que disse Mandela quando saiu da prisão?
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No regresso ao país, em 1963, foi preso pelas forças de segurança do Governo do apartheid, acusado de sabotagem e condenado a prisão perpétua em junho de 1964, em Rivonia, juntamente com mais nove líderes do ANC, entre os quais Nelson Mandela, que já se encontrava a cumprir uma pena de prisão de cinco anos em Joanesburgo por incitação a uma greve laboral e saída ilegal do país.
Andrew Mlangeni esteve encarcerado durante cerca de três décadas na ilha de Robben, Cabo Ocidental, tendo sido libertado em 1989 no início das negociações entre o ANC e o governo do Partido Nacionalista de De Klerk, que ditaram a queda do apartheid e possibilitaram a realização das primeiras eleições democráticas e multirraciais em 1994.
Agraciado por Nelson Mandela com a Ordem Presidencial por Serviços Meritórios, Classe 1 em Ouro, em 1999, Mlangeni foi deputado no parlamento e uma das vozes mais críticas contra a corrupção e a governação do país pelos líderes do seu partido.
"Os condenados de Rivonia não foram encarcerados para que os líderes do ANC pudessem colher os frutos da liberdade através do enriquecimento e da ganância", afirmou Mlangeni em entrevista ao semanário Sunday Times, em 2013, ao denunciar a corrupção no seio do governo do ANC.
"Se não trabalharmos em conjunto como uma nação, não teremos sucesso", salientou.
Prémio Nobel: Os representantes da Paz em África
Primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, recebe o Prémio Nobel da Paz de 2019. Trata-se do décimo africano a ser reconhecido pelo trabalho de reconciliação. O Nobel da Paz foi para África pela primeira vez em 1960.
Foto: Getty Images/AFP/E. Soteras
Primeiro laureado
Albert Luthuli foi o primeiro africano a receber o Prémio Nobel da Paz, em 1960, pela sua luta pacífica contra a segregação racial na África do Sul. Ele era presidente do ANC na ocasião da premiação, e o movimento de libertação funcionava na clandestinidade. Ele recebeu o prémio em Oslo um ano depois do seu nome ser escolhido, porque a proibição de deixar o país foi suspensa por dez dias.
Foto: Getty Images/Keystone/Hulton Archive
Líder espiritual
O arcebispo Desmond Tutu foi um dos líderes morais da África do Sul, com uma trajetória de defesa dos direitos humanos e contra a discriminação racial. É do religioso a expressão: "Somos uma nação arco-íris". Em 1984, o sacerdote anglicano recebeu o Prémio Nobel. Amigo de Nelson Mandela, Tutu é conhecido pelo bom humor. Um dos seus admiradores é o líder espiritual tibetano Dalai Lama.
Foto: picture-alliance/dpa
Amandla!
Esta imagem percorreu o mundo. Quando o herói anti-apartheid Nelson Mandela foi libertado, em 1990, após 27 anos de prisão, a África do Sul prendeu a respiração. Era um momento histórico. A luta incansável de Madiba contra a opressão abriu caminho para a democracia na África do Sul. Um ano antes, Mandela recebeu o Prémio Nobel da Paz juntamente com o chefe do Governo, Fredrik Willem de Klerk.
Foto: AP
Dois adversários unidos
Coragem, paciência e perseverança conduziram estes dois homens a algo que parecia impossível. Nelson Mandela e Fredrik Willem de Klerk, então Presidente da África do Sul, receberam em conjunto o Prémio Nobel da Paz, em 1993, antes mesmo de Mandela ter sido eleito o primeiro Presidente negro. A revolução pacífica foi um sucesso, mas o processo de paz na África do Sul está longe de terminar.
Foto: AP
Pela paz em todo o mundo
Em 2001, o então secretário-geral e a instituição Nações Unidas receberam o Prémio Nobel pelo compromisso com um mundo "mais organizado e mais pacífico". A carreira brilhante de Kofi Annan tem uma ressalva, que veio à tona com as acusações de que a ONU teria sido omissa durante o genocídio no Ruanda. Annan era o chefe das Forças de Paz da ONU em 1994 e admitiu que falhou.
Foto: Reuters
Mama Miti: "A mãe das árvores"
Em 2004, uma mulher negra recebeu pela primeira vez o Prémio Nobel da Paz: Wangari Maathai. A queniana lutou pelos direitos das mulheres e contra a pobreza no seu país. Maathai foi vice-ministra do Meio Ambiente e era chamada de "Mãe das Árvores" pelo "Movimento Cinturão Verde", que ela mesma criou. Ela celebrou o prémio à sua maneira, escrevendo na sua autobiografia: "Plantei uma árvore."
Foto: Getty Images/AFP/T. Bendiksby
Três mulheres agraciadas
Em 2011, três mulheres foram laureadas em conjunto: a Presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf (à direita), a sua compatriota, a ativista de direitos humanos Leymah Gbowee (ao centro), e a jornalista Tawakkul Karman, do Iémen. As duas liberianas foram homenageadas pelos seus esforços para salvar o seu país da violência da guerra civil.
Foto: dapd
"Doutor Milagre"
O médico e defensor dos direitos humanos, o congolês Denis Mukwege, fez do apoio às vítimas de violência sexual o trabalho de uma vida inteira. Durante muitos anos, o ginecologista foi o cirurgião-chefe do Hospital Panzi, em Bukavu, que ele próprio fundou em 1999. Ele oferece esperança e renova a coragem das vítimas. Por isso foi premiado em 2018, juntamente com a ativista yazidi Nadia Murad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Norwegian Church Aid
Iniciativa corajosa
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, será laureado pelo empenho para a paz com a vizinha Eritreia. A insistência pela reconciliação no seu próprio país também impressionou os jurados do Prémio Nobel, apesar da concretização desse objetivo ser longa e difícil. O processo corajoso de reforma no conturbado Estado multiétnico da Etiópia impressionou o júri do prémio.