O "Pantera Negra" perdeu a vida neste domingo em Portugal, vítima de uma paragem cardíaca. Ele nasceu em Moçambique, mas foi no Benfica que se firmou como futebolista, sendo considerando um dos melhores do mundo.
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Aos 71 anos de idade o jogador Eusébio Ferreira disse adeus na madrugada deste domingo (05.01.), vítima de uma paragem cardiorespiratória. Ele nasceu a 25 de janeiro de 1942 em Lourenço Marques (hoje Maputo), Moçambique.
Eusébio já andava doente nos últimos tempos. Em junho de 2012 foi hospitalizado após um acidente vascular cerebral (AVC) quando estava em Poznan, na Polónia, a acompanhar a seleção portuguesa durante o Campeonato Europeu. Em 2011 foi também internado devido a uma pneumonia.
E no momento da sua morte há mensagens de vários cantos do mundo. Em Moçambique, o presidente da Federação moçambicana de futebol, Faizal Sidat, disse: "Lamentar a morte de Eusébio, foi um grande futebolista. Elevou ao mais alto nível o estandarte do país, Moçamique é conhecido internacionalmente na área de futebol graças a duas pessoas: Eusébio e Mário Coluna."
O corpo estará em câmara ardente no Estádio da Luz, a partir da tarde deste domingo (05.01.). A missa realiza-se na tarde de segunda-feira (06.01.) na Igreja do Seminário, no Largo da Luz. Eusébio será enterrado no Cemitério do Lumiar, também em Lisboa.
Segundo um comunicado do Sport Lisboa e Benfica (SLB), respeitando o último desejo do "Pantera Negra", a urna dará uma volta ao estádio da luz por volta antes de sair em cortejo rumo à Praça do Município.
Começo da carreira
Eusébio: O primeiro rei africano do futebol
O moçambicano Eusébio da Silva Ferreira, também conhecido por Eusébio, foi o primeiro africano a tornar-se uma estrela de futebol em todo o mundo. A passagem pelo Benfica e pela seleção portuguesa fizeram dele uma lenda.
Foto: F.Leon/AFP/GettyImages
Homenagem tardia para o craque
O moçambicano Eusébio é considerado a primeira super-estrela africana do futebol. Graças aos seus inúmeros golos, o Benfica de Lisboa venceu os maiores sucessos da história do clube. Da mesma sorte beneficiou a seleção nacional portuguesa, que com Eusébio viveu nos anos 60 do século passado o primeiro auge. Ainda assim, demorou para que o trabalho do jogador fosse reconhecido em Portugal.
Foto: picture-alliance/Pressefoto UL
Eusébio, o Pelé africano
Eusébio é considerado um dos três melhores jogadores de futebol do século passado, juntamente com o brasileiro Pelé (à esquerda) e com o alemão Franz Beckenbauer. Nasceu numa família pobre, em 1942, e cresceu em Maputo, quando a cidade ainda se chamava Lourenço Marques, sob o domínio colonial português. Aos 17 anos começou a jogar no Sporting de Lourenço Marques.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Benfica, o clube do coração
Quando se mudou para Portugal em 1960, Eusébio não começou a jogar, tal como se esperava, pelo Sporting de Lisboa, o clube-mãe do Sporting de Lourenço Marques. Eusébio integrou, precisamente, a equipa rival, o Sport Lisboa e Benfica. A operação da contratação foi mantida em segredo. Anos depois do fim da sua carreira enquanto jogador, Eusébio continuou ativo como conselheiro do clube.
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No topo da Europa
Eusébio colocou o Benfica no topo do futebol europeu. A equipa chegou várias vezes à final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o precursor da Liga dos Campeões. Em 1962, o Benfica de Eusébio chegou mesmo a vencer o troféu. Porém, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1968, no Estádio de Wembley (foto), o Benfica perdeu frente ao Manchester United por 1:4, já no prolongamento.
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Mundial de 1966: O maior sucesso português
Pode dizer-se que foi graças a Eusébio que Portugal chegou em 1966 ao terceiro lugar do Campeonato Mundial de Futebol, o melhor resultado de sempre da seleção das quinas na competição. Esta foi também a primeira participação de Portugal no Mundial. O país falhou a final, ao perder nas meias-finais - na foto - por 2:1 contra a Inglaterra, a 26 de julho de 1966, no Estádio de Wembley, em Londres.
Foto: picture-alliance/dpa
Brasil e Pelé no chão
No Mundial de 1966: O brasileiro Pelé está ferido no chão e Eusébio procura reconfortá-lo. Neste jogo, Portugal venceu o Brasil por 3:1, com dois golos de Eusébio, afastando a equipa sul-americana na fase de grupos. A partida, disputada no estádio Goodison Park, em Liverpool, levou Portugal a sair das eliminatórias como primeiro do grupo. Com nove golos, Eusébio foi o melhor jogador do campeonato.
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Quatro golos decisivos contra a Coreia do Norte
Eusébio tornou-se uma lenda viva em 1966. A 23 de julho, Portugal jogava contra a Coreia do Norte e perdia por 3:0. Mas quatro golos do "Pantera Negra", como também ficou conhecido, inverteram o sentido do jogo. Portugal derrotou a equipa asiática por 5:3 e apurou-se para a semifinal. Na foto, Eusébio bate o guarda-redes norte-coreano Lee Chang-myung.
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Lesões
Na foto, durante o jogo contra a Hungria, a 13 de julho de 1966, em Manchester, Eusébio é atingido na cabeça. Porém, Portugal acabou por ganhar por 3:1. Ao longo da carreira, Eusébio sofreu vários problemas, especialmente depois de deixar o Benfica, em 1975, e jogou para clubes mais pequenos em Portugal e, mais tarde, no Canadá, Estados Unidos e México. Muitas vezes, estava fora de forma.
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Bota de Ouro
Eusébio (esquerda) recebe a "Bota de Ouro", a 16 de setembro de 1968, como melhor jogador da Europa. O húngaro Antal Dunai recebeu a de prata. No total, Eusébio marcou 1137 golos durante a sua carreira profissional. A sua reputação é conotada, provavelmente, com menos elegância do que a de Pelé ou Beckenbauer, mas Eusébio é hoje considerado o melhor jogador de Portugal de todos os tempos.
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Embaixador de Portugal
Eusébio com o ex-técnico da seleção alemã, Jürgen Klinsmann, no Campeonato da Europa de 2004, em Portugal. Depois da carreira de jogador, Eusébio trabalhou quase sempre ao serviço do futebol português. O antigo jogador acompanhava a equipa portuguesa como assistente técnico. Apesar da fama generalizada, os companheiros descrevem-no como uma pessoa humilde e com os pés no chão.
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Despedida no Estádio da Luz
A poucos dias de completar 72 anos, Eusébio morreu de madrugada, a 5 de janeiro de 2014, vítima de insuficiência cardíaca. A estátua de bronze que eterniza o antigo jogador à porta do Estádio da Luz, em Lisboa, e que foi descerrada há quase 22 anos, é o palco privilegiado de todas as homenagens ao avançado que inscreveu o seu nome na lista dos melhores futebolistas de sempre.
Foto: F.Leon/AFP/GettyImages
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A sua carreira começou quando tinha 15 anos nos principais clubes da então Lourenço Marques, mas foi no Sporting desta cidade, onde se começou a distinguir.
Na década de 1960 o Benfica e Sporting de Portugal disputaram a "Pantera Negra", e no final ele acabou por militar no clube das águias, a partir de 8 de outubro de 1961. Nessa altura o Benfica tinha acabado de conquistar o seu primeiro título europeu.
O primeiro ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, que veste a camisola encarnada, lembra a humildade da "Pantera Negra": "Ele era embaixador do Benfica e nessa qualidade esteve em Cabo Verde várias vezes e pude ver a dimensão humana do Eusébio. Era um rei do futebol mas com uma grande humildade e uma forma muito própria de ver a vida e isso deve fazer-nos ver a perda que tivemos agora."
Entretanto, José Maria Neves não se esquece do seu legado: "O Benfica soube criar a partir da dimensão que Eusébio lhe deu no mundo e penso que irá poder continuar a grandeza do futebol de Eusébio"
Na estreia de Portugal em campeonatos do Mundo, Eusébio foi um dos grandes responsáveis pelo terceiro lugar, ganhando o troféu destinado ao melhor marcador (nove golos) e sendo considerado por muitos o melhor futebolista da competição.
As conquistas
Este historial é também recordado pelo presidente da Federeação angolana de futebol, Pedro Neto, que também lamentou a sua morte: "Para mim é um momento de bastante tristeza, na medida em que se perdeu um dos simbolos do futebol mundial, estrela mais citilante do futebol europeu, e quiça que tenha passado pelas fileiras do Benfica e creio que por todos esses motivos e atributos o futebol ficará mais pobre."
Pedro Neto deixa ainda um conselho: "Mas a melhor honra que lhe podemos prestar é exatamente seguir as suas pegadas, utilizar o exemplo que ele foi como futebolista."
A "Pantera Negra" foi sete vezes o melhor marcador do campeonato português (1963/4, 1964/5, 1965/6, 1966/7, 1967/8, 1969/70 e 1972/73), duas vezes o melhor marcador europeu (1967/8 e 1972/73) e uma vez eleito melhor futebolista Europeu.
Eusébio também vestiu camisolas de outros clubes, como por exemplo, Rhode Island, Boston, Monterrey, Beira-Mar, Toronto Metros, Las Vegas, New Jersey Americans e União Tomar. Mas a possibilidade de emigrar em pleno auge foi "vetada" no final da década de 1960.
Eusébio recebeu várias distinções nacionais e estrangeiras ao longo da vida, entre elas os colares de Mérito Desportivo (1981) e de Honra ao Mérito Desportivo (1990), além da "Águia de Ouro", o mais alto galardão do Benfica, em 1982.
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Sobre o contributo que Eusébio deu ao futebol moçambicano, Faizal Sidat lembra: "Sempre que teve oportunidade visitou o país e trouxe várias individualidades para ajudarem a projetar o país que o viu nascer."