O "chanceler da reunificação" morreu esta sexta-feira, dia 16 de junho, aos 87 anos.
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"Kanzler der Einheit” – chanceler da reunificação – é com este cognome que Helmut Kohl ficará inscrito nos livros de história da Alemanha, da Europa e do mundo.
De facto, a unidade alemã foi o ponto alto da carreira política deste político democrata-cristão. 10 de novembro de 1989: no dia anterior, tinha sido derrubado o muro de Berlim. Agora era a vez do chefe do Governo da Alemanha Federal falar a todos os alemães desde as varandas da câmara municipal: "O que está em jogo agora é a unidade, a justiça e a liberdade. Viva a pátria alemã livre, viva a Europa livre e unida!”
Uma Alemanha livre e unida era, para muitos ativistas de esquerda, na altura, uma provocação. Não havia boas recordações da Alemanha unida, 53 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Fora da Alemanha, muitos também não viam com bons olhos a reunificação das duas Alemanhas. Helmut Kohl, no entanto, consegue convencer os seus parceiros, incluindo os mais céticos. Durante um passeio no bosque, Kohl consegue, nomeadamente, convencer o líder da então União Soviética, Mikhail Gorbachov, a retirar as suas tropas da então Alemanha do Leste. Menos de um ano após a queda do muro de Berlim, a Alemanha é um país unido e soberano.
Pela unidade europeia
Muito se deve a Helmut Kohl que, segundo os observadores políticos, conseguiu agarrar com unhas e dentes as oportunidades que a história lhe proporcionou como chefe do Governo da Alemanha Federal. Helmut Kohl ficará na história como um grande patriota alemão, mas também como um grande promotor da unidade europeia. Frases como esta ilustram bem a faceta do antigo chefe do Governo alemão: "Para nós, alemães, é uma questão crucial conseguirmos prosseguir a política de construção da União Europeia. Para nós, não há alternativa à política de União Europeia”.
Helmut Kohl foi também apelidado de "animal político” – um homem que sempre procurou o poder para poder influenciar o destino do seu país. Com 29 anos, foi eleito deputado pela União Democrata-Cristã, CDU, ao Parlamento regional da sua região, a Renânia-Platinado. Com 33 anos, foi eleito chefe do respetivo grupo parlamentar. Mais tarde, torna-se presidente da CDU a nível regional. Com 36 anos, já era chefe do Governo regional. Em junho de 1973 é, finalmente, eleito presidente da CDU alemã. Mas ainda não chegara ao auge político: "Sim, quero ser chanceler. Quero vencer as eleições e ser eleito chanceler federal”, afirmou.
Nachruf Helmut Kohl - Morreu Helmut Kohl - APENAS EMITIR DEPOIS DA MORTE DELE! - MP3-Mono
Em 1976, Kohl é, pela primeira vez, candidato ao cargo, mas perde por pouco contra o seu rival social-democrata Helmut Schmidt. Em 1982, porém, consegue derrubá-lo, na sequência de um voto de censura no Parlamento, para o qual se alia ao partido liberal FDP.
Como chanceler federal, Helmut Kohl revela ser um homem com valores conservadores e, ao mesmo tempo, um europeísta convicto.
Devido, em parte, à reunificação, não consegue evitar o endividamento nas finanças públicas. Os índices de desemprego também disparam. As paisagens floridas que promete aos alemães do Leste tardam a surgir. No entanto, na Europa e na Alemanha, Helmut Kohl ficará na memória de todos. Será lembrado como "Kanzler der Einheit” – o chanceler da reunificação.
Chefes de Governo da Alemanha: de Adenauer a Merkel
Desde 1949, a Alemanha teve oito chanceleres: sete homens e uma mulher. A chanceler atual, Angela Merkel, conseguiu um quarto mandato nas eleições legislativas de setembro de 2017.
Foto: picture-alliance-dpa/O. Dietze
Konrad Adenauer (CDU), 1949-1963
A eleição de Konrad Adenauer do partido democrata-cristão CDU como primeiro chefe de Governo da Alemanha, em 15 de setembro de 1949, marcou o início de um longo processo de reestruturação política no país. Reeleito em 1953, 1957 e 1961, renunciou ao cargo apenas aos 87 anos de idade, em 1963. Fortaleceu a aliança com os Estados Unidos da América. Na foto: no seu escritório em Bona.
Foto: picture-alliance/akg-images
Ludwig Erhard (CDU), 1963-1966
O segundo chanceler da Alemanha também pertenceu à CDU, mas esteve apenas três anos no Governo. Erhard renunciou devido ao rompimento da coligação com o partido liberal FDP. Mesmo assim, participou de forma ativa da reforma monetária alemã do pós-guerra. O fumador convicto ficou famoso como "pai" da economia social de mercado ("Soziale Marktwirtschaft") e do milagre económico alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Kurt Georg Kiesinger (CDU), 1966-1969
Foi eleito por uma grande coligação dos dois partidos CDU e SPD (de esquerda). O seu Governo teve que combater uma crise económica. Kiesinger foi duramente criticado pelo seu passado como membro ativo do partido nacional-socialista NSDAP durante a ditadura fascista na Alemanha. Com a ausência de uma oposição forte no Parlamento, formou-se em 1968 um movimento de protesto estudantil na Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa
Willy Brandt (SPD), 1969-1974
A onda de protestos teve reflexos nas eleições: Willy Brandt tornou-se no primeiro chanceler social-democrata no pós-guerra. Melhorou as relações com os países comunistas do leste. Durante uma visita à Polónia, ajoelhou-se no monumento pelas vítimas do nazismo no Gueto de Varsóvia. Gesto que ficou famoso como pedido de desculpas. Renunciou ao cargo em consequência de um caso de espionagem.
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Helmut Schmidt (SPD), 1974-1982
Após a renúncia de Brandt, Helmut Schmidt prestou juramento como chanceler. O social-democrata teve de combater o terrorismo do grupo extremista de esquerda RAF. Negou negociar com os terroristas alemães. Enfrentou a oposição por causa do estacionamento de mísseis nucleares dos EUA na Alemanha. Depois da saída do Governo do parceiro FDP (liberais), perdeu um voto de confiança no Parlamento.
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Helmut Kohl (CDU), 1982-1998
Helmut Kohl formou uma nova coligação centro-direita com os liberais. Ficou 16 anos no poder, um recorde. Ficou famoso pela sua teimosia e por não gostar de reformas. Depois da queda do Muro de Berlim, Kohl consegui reunificar as duas Alemanhas, a RFA ocidental e a RDA oriental. Ficou conhecido como "chanceler da reunificação". T ambém é lembrado pelo seu empenho na construção da União Europeia.
Foto: imago/imagebroker
Gerhard Schröder (SPD), 1998-2005
Depois de quatro mandatos de Kohl, o desejo de mudança aumentou. Gerhard Schröder foi eleito primeiro chanceler de uma coligação de esquerda entre o SPD e os Verdes. Durante o seu Governo, o exército alemão, Bundeswehr, teve as primeiras missões no estrangeiro com a participação na guerra no Afeganistão. Reduziu os subsídios sociais, medida que foi criticada dentro do seu partido social-democrata.
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Angela Merkel (CDU), desde 2005
Em 2005, Merkel é eleita como primeira mulher na chefia do Governo alemão. Durante o primeiro e terceiro mandato, governou numa grande coligação com o SPD, no segundo mandato numa coligação de centro-direita com os liberais do FDP. Merkel é conhecida pelo estilo pragmático de liderança. Durante a crise financeira, assumiu um papel de liderança na UE. Em 2017, conseguiu o seu quarto mandato.