O Presidente do Chade, Idriss Déby, que estava no poder há 30 anos, morreu esta terça-feira após ferimentos sofridos enquanto comandava o exército na luta contra rebeldes no norte, anunciou o porta-voz do exército.
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A morte do Presidente do Chade, Idriss Déby, foi confirmada pelo Exército. O chefe do estado-maior general do exército Azem Agouna disse, num comunicado lido na televisão pública, que Déby morreu de forma “heroica” durante confrontos com rebeldes.
"O marechal do Chade, Idriss Déby, como sempre fez quando as instituições da República foram seriamente ameaçadas, assumiu a liderança heroica numa operação de combate contra terroristas que vieram da Líbia. Foi ferido no combate e morreu após ter sido trazido de volta para N'djamena. Apresentamos as nossas sinceras condolências ao povo do Chade, à sua família biológica e à sua família política e a todos os que no mundo admiraram este grande estadista".
Fontes do Governo e militares confirmaram que o Presidente havia estado na linha da frente. O combate era contra a Frente para a Mudança e a Concórdia no Chade (FACT). Os rebeldes lançaram estão numa ofensiva no norte do país desde as eleições de 11 de abril.
Após os confrontos, a FACT divulgou que Idriss Déby tinha sido ferido, mas não havia informação oficial até esta terça-feira.
O Marechal
Idriss Déby, antigo comandante-chefe do Exército, chegou ao poder pela primeira vez em 1990, quando as suas forças rebeldes derrubaram o então Presidente Hissene Habré, que foi mais tarde condenado por violações dos direitos humanos num tribunal internacional no Senegal.
Ao longo dos anos, Déby sobreviveu a numerosas rebeliões armadas e à ameaça terrorista no Sahel. Foi um aliado importante do Ocidente na campanha antiterrorista na região até esta última insurreição da FACT.
Há mais de três décadas a liderar o país com um “punho de ferro”, segundo observadores internacionais, o chefe de Estado chadiano foi proclamado vencedor das presidenciais de 11 de abril e reeleito para um sexto mandato, com 79,32% dos votos, segundo resultados provisórios divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral Independente.
A reeleição do marechal Déby era prevista, já que os outros seis adversários eram figuras com um peso político relativamente pequeno. No dia da votação, que contou com pedidos de boicote da oposição, Idriss Déby mostrou-se confiante diante de jornalistas:
"Cabe-lhe a si dizer o que se está a passar. Houve um boicote ontem? Houve um boicote hoje? As coisas estão a decorrer de forma calma, serena e pacífica num país em paz e estável, por isso não há nada a temer".
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Junta militar
O general Azem Agouna confirmou esta terça-feira que Mahmat Idriss Déby, filho de Idriss Déby, de 37 anos, vai comandar o Conselho Militar de Transição (CMT), que deverá realizara a transição a novas eleições “livres e democráticas” após 18 meses.
"O CMT garante a independência nacional, integridade territorial, unidade nacional, respeito pelos tratados e acordos internacionais, e assegura a transição por um período de 18 meses", esclareceu Agouna.
A Assembleia Nacional e o Governo foram dissolvidos e uma carta de transição foi promulgada pelo presidente do CMT. Agouna explicou que foi instituído um recolher obrigatório a nível nacional das 18 horas às 5 horas da manhã. "As fronteiras terrestres e aéreas foram encerradas até nova ordem".
A França, antiga potência colonial, saudou Idriss Déby como um "amigo corajoso" e apelou a uma transição estável e pacífica.
Dez líderes africanos que morreram em exercício
A população costuma acompanhar com atenção o estado de saúde dos altos dirigentes – muitos especulam atualmente, por exemplo, sobre a saúde do Presidentes da Nigéria. Vários chefes de Estado já morreram em exercício.
Foto: picture-alliance/dpa
John Magufuli, Presidente da Tanzânia
Morreu a 17 de março de 2021, doente. O seu estado de saúde, pouco antes da falecer, esteve em volto a muito secretismo. Assumiu a liderança do país em 2015 e boa parte do seu povo enaltece os seus feitos, tais como a melhoria dos sistemas de saúde, educação e transporte. Mas também foi contestado por algumas políticas duras e por perseguir os seus críticos.
Foto: Sadi Said//REUTERS
1) Malam Bacai Sanhá, Presidente da Guiné-Bissau (2012)
Malam Bacai Sanhá morreu em 2012. Ele sofria de diabetes e morreu em Paris, aos 64 anos, menos de três anos depois de chegar ao poder. Sanhá tinha vários problemas de saúde.
Foto: dapd
2) João Bernardo "Nino" Vieira, Presidente da Guiné-Bissau (2009)
João Bernardo "Nino" Vieira foi assassinado em março de 2009. Tinha 69 anos de idade. Esteve no poder durante mais de duas décadas. Tornou-se primeiro-ministro em 1978 e, em 1980, tomou a Presidência. Ficou no cargo até 1999, ano em que foi para o exílio. Regressou a Bissau em 2005 e venceu nesse ano as presidenciais.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
3) Mouammar Kadhafi, chefe de Estado da Líbia (2011)
Mouammar Kadhafi foi assassinado em 2011. Kadhafi, auto-intitulado líder da "Grande Revolução" da Líbia, foi morto por forças rebeldes em circunstâncias ainda por esclarecer. Estava no poder há 42 anos, desde um golpe de Estado contra a monarquia líbia em 1969, onde não houve derramamento de sangue. A sua liderança chegou ao fim com a chamada "Primavera Árabe".
Foto: Christophe Simon/AFP/Getty Images
4) Umaru Musa Yar'Adua, Presidente da Nigéria (2010)
Umaru Musa Yar'Adua morreu em 2010 aos 58 anos de idade. Morreu no seu país, vítima de uma inflamação do pericárdio – estava há apenas três anos no poder. Já durante a campanha eleitoral, Yar'Adua teve de se ausentar várias vezes devido a problemas de saúde. Depois de ser eleito, em 2007, a sua saúde deteriorou-se rapidamente.
Foto: P. U. Ekpei/AFP/Getty Images
5) Lansana Conté, Presidente da Guiné-Conacri (2008)
Após 24 anos no poder, Lansana Conté morreu de "doença prolongada" aos 74 anos de idade. O Presidente da Guiné-Conacri sofria de diabetes e de problemas cardíacos. Conté foi o segundo chefe de Estado do país, de abril de 1984 até à sua morte, em dezembro de 2008.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
6) John Atta Mills, Presidente do Gana (2012)
John Atta Mills morreu de apoplexia em 2012. Tinha 68 anos. Atta Mills esteve apenas três anos no poder. Enquanto chefe de Estado, introduziu uma série de reformas sociais e económicas que lhe granjearam fama a nível local e internacional.
Foto: AP
7) Meles Zenawi, primeiro-ministro da Etiópia (2012)
Meles Zenawi morreu na Bélgica aos 57 anos de idade, vítima de uma infeção não especificada. Zenawi liderou a Etiópia durante 21 anos – como Presidente, de 1991 a 1995, e como primeiro-ministro, de 1995 a 2012. Foi elogiado por introduzir o multipartidarismo, mas criticado por reprimir violentamente os protestos do povo Oromo no norte da Etiópia.
Foto: AP
8) Omar Bongo, Presidente do Gabão (2009)
Omar Bongo morreu em Barcelona, Espanha, em junho de 2009, vítima de cancro nos intestinos. Bongo estava no poder há 42 anos e morreu aos 72 anos de idade. Foi um dos líderes que esteve mais tempo no poder e um dos mais corruptos. Bongo acumulou uma riqueza imensa enquanto a maior parte da população vivia na pobreza, apesar de o país ter grandes receitas de petróleo.
Foto: AP
9) Michael Sata, Presidente da Zâmbia (2014)
Michael Sata morreu no Reino Unido aos 77 anos. A causa da morte não foi divulgada. Após a sua eleição em 2011, circularam rumores sobre o estado de saúde do Presidente. As suas ausências em eventos oficiais alimentaram ainda mais as especulações, apesar dos seus porta-vozes garantirem que estava tudo bem.
Foto: picture-alliance/dpa
10) Bingu wa Mutharika, Presidente do Malawi (2012)
Bingu wa Mutharika morreu em 2012. Teve um ataque cardíaco e faleceu dois dias depois, aos 78 anos de idade. Esteve oito anos no poder e ganhou gama internacional devido às suas políticas agrícolas e de alimentação. A sua reputação ficou manchada por uma onda de protestos por ter gasto 14 milhões de dólares num jato presidencial.