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Morsi, o marco da viragem na política egípcia

26 de junho de 2012

Morsi será o primeiro presidente civil do Egito, depois de 60 anos. Ele sucede Hosni Mubarak, deposto em 2011 depois de uma revolução. Ele é visto como uma esperança no que se refere ao incremento da democracia no país.

Mohammed Mursi, o novo presidente do EgiptoFoto: Reuters

A propósito desta mudança no cenário político egípcio a DW África conversou com o especialista sobre assuntos do Médio Oriente, Paulo Gorjão, Diretor do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança para saber o que esta viragem representa para o Egipto.

Paulo Gorjão: Representa evidentemente uma rutura com o passado. O facto de ser um civil e de ser oriundo da Irmandade Muçulmana abre espaço para que Morsi possa vir a deixar um cunho na governação no Egito. É claro que ainda não é claro qual o espaço de manobra dele visto ainda faltar a elaboração de uma Constituição. Portanto, não se percebe por enquanto quais são os reais poderes de Morsi, mas sem dúvida é um espaço histórico na vida do Egito e uma rutura significativa, no mínimo do ponto de vista formal.


DW África: Se pensamos em Mohamed Morsi e Hosni Mubarak, qual seria a principal diferença entre esses dois líderes?

PG: Mubarak era um líder secular, pragmático, sempre foi um aliado preferencial dos Estados Unidos da América no Médio Oriente, conseguiu manter um ambiente de trabalho diplomático com Israel. Idependentemente das suas preferências pessoais colocou sempre um travão na propagação do Islão no Egipto. Morsi é também pragmatico, e dará ao Islão um papel importante. Veremos se ele consiguirá sempre ser um conciliador.

DW África: Houve mudanças constitucionais antes da eleição de Morsi. Como ele deverá posicionar-se frente a essas mudanças?

PG: Penso que Morsi tudo fará para salvaguardar a Constituição e o seu exercício que lhe favorece os seus poderes, evidentemente. Já se percebeu que os militares tendo falhado a eleição do seu candidato tudo farão para travar Morsi. Esse será um dos pontos mais interessantes a assistir nos próximos tempos. O processo de interpretação das normas constitucionais, a própria interpretação junto a outras instâncias do país e dos próprios intervenientes.

DW África: No discurso de vitória, ele declarou que quer ser “o presidente de todos os egípcios”. O que acha que está por trás deste clichê?

PG: Se de facto Morsi quiser corresponder a esta retórica vai ter de procurar repartir pelos diferentes órgãos de Estado, e naquilo que lhe compete, que esses órgãos reflitam hoje a diversidade egípcia. Portanto, vai ter de existir cristãos coptas no governo, quem sabe até se um primeiro-ministro, ou no mínimo um ministro.

DW África: O que significa a vitória dele para a Irmandade Muçulmana?

PG: Depois de muitas décadas de oposição da Irmandade Muçulmana a Mubarak, do ponto de vista simbólico e prático é quase a realização de um sonho adiado. Significa a validação pela via democrática das suas propostas para a sociedade egípcia.


DW África: O novo presidente do Egito já defendeu o restabelecimento das relações com o Irão e que pretende rever o tratado de paz com Israel. Este acordo continuará a ser respeitado?

PG: Não há razões para pensar que haverá grandes alterações na política externa nos próximos tempos. Se houver um aproximação ao Irão há de facto aí algo de verdadeiramente novo, mas por outro lado não creio que as relações preferenciais do Egito com os Estados Unidos da América e com a Europa estejam em causa, pelo contrário.

Autora: Cristiane Vieira Teixeira
Edição: Nádia Issufo/António Rocha

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