Populares sentem-se desmotivados sem Dhlakama no comando da oposição moçambicana. Alguns afirmam que, após a morte do líder da RENAMO, não vão recensear-se. Outros, que já se recensearam, dizem que não vão votar.
Em Quelimane, a maior cidade desta província, alguns residentes dizem ter perdido a vontade de ir votar nas próximas autárquicas, agendadas para outubro, porque Afonso Dhlakama morreu. É o caso de "Tembe" que, em entrevista à DW África, afirma estar "desapontado".
"Recenseei-me, mas já não tenho vontade de fazer nada pela sociedade ou pelo povo. A afluência [ao recenseamento] está muito fraca. Perdemos um grande senhor que protegia a nossa pátria. A liberdade de expressão [conquistada] foi graças a ele", disse.
Uma opinião partilhada por Novénio Esvêncio, também residente nesta província, que acrescenta que o "clima de desmotivação é geral".
Zambézia: Morte de Dhlakama desmotiva populares a recensear-se
Segundo este moçambicano, há muitas pessoas "que já se recensearam" e que "dizem que não vão votar porque o líder da RENAMO perdeu a vida".
Novénio Esvêncio diz também que a "afluência aos postos de recenseamento está muito fraca" com apenas "três ou quatro pessoas". Uma realidade "dolorosa” que, diz este moçambicano, "é preocupante".
Outros residentes confessam que, depois da morte do líder da RENAMO, não vão sequer recensear-se. Um cidadão, que pediu para não ser identificado, explica à DW África que não se vai recensear porque Afonso Dhlakama era a sua principal fonte de inspiração e porque esperava que, com a ajuda dele, fosse eleito em Quelimane um edil da RENAMO, à semelhança do que aconteceu em Nampula.
"Não faleceu a RENAMO"
No entanto, há também quem chame a atenção para as consequências que não participar nas eleições pode trazer.
"Como munícipe da cidade de Quelimane, sei que as pessoas estão dececionadas e não querem votar. Mas não recensear-se será pior. Faleceu o líder da RENAMO, não faleceu a RENAMO”, afirma à DW África um outro moçambicano que também não quis ser identificado.
Possível alargamento do prazo
Previa-se o recenseamento de cerca de oito milhões de eleitores nas 53 autarquias que vão a votos para escolher as Assembleias Municipais e o Presidente da autarquia, a 10 de outubro, mas estas metas não foram alcançadas.
Em Quelimane, de acordo com os dados avançados, recentemente, pelo diretor do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) na cidade, Ismael Rodrigues, uma parte significativa dos eleitores já se registaram para as eleições.
No Quinto Bairro, a unidade residencial mais distante da cidade de Quelimane, o recenseamento tem corrido bem. Mas, ainda assim, Abibo Aliz, fiscal da mesa de recenseamento da Escola Primária de Namuinho, prevê que o processo – cuja data de término está agendada para 17 de maio - seja prolongado.
"Tudo está a andar muito bem. Há dias que recenseamos 80 ou 90 eleitores, mas acho que o recenseamento se vai prolongar porque temos mais população”, disse.
Afonso Dhlakama, homem de causas
O percurso de Afonso Dhlakama enquanto político e militar quase se confunde com a história de Moçambique independente. Em nome da democracia não hesitou em entrar numa guerra. Herói para uns, vilão para outros.
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Dhlakama, um começo na FRELIMO que não vingou
Afonso Macacho Marceta Dhlakama nasceu a 1 de janeiro de 1953 em Mangunde, povíncia central de Sofala, Moçambique. Entra para a FRELIMO perto da época da independência em 1975, mas não fica muito tempo. Em 1976 sai do partido que governa o país para co-fundar a RNM (Resistência Nacional de Moçambique), um movimento armado, com o apoio da Rodésia do Zimbabué. O objetivo: por fim a ditadura.
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Dhlakama: Desde cedo líder da RENAMO
A guerra civil entre a RNM, depois denominada RENAMO, Resistência Nacional de Moçambique, e o Governo começou em 1976. Dhlakama assume a liderança da RNM depois da morte de André Matsangaíssa em combate em 1979. Já era líder quando o primeiro acordo que visava por fim a guerra foi assinado entre o Governo e o regime do apartheid na África do Sul em 1984. Mas o Acordo de Inkomati fracassou.
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AGP: Democracia entra no vocabulário com Dhlakama
Depois de 16 anos de guerra Dhlakama assina com o Governo o Acordo Geral de Paz de Roma em 1992 no contexto do fim da guerra fria e do apartheid na África do Sul. Começa uma nova era para o país, depois de uma guerra que fez perto de um milhão de mortos e milhões de refugiados. A democracia passa então a fazer parte do vocabulário dos moçambicanos, com Dhlakama a auto-intitular-se o seu pai.
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O começo das derrotas de Dhlakama nas eleições
Moçambique entra para a era do multipartidarismo e realiza as suas primeiras eleições em 1994. Dhlakama e o seu partido perdem as eleições. As segundas eleições acontecem em 1999 e Dhlakama volta a perder, mas rejeita a derrota. E desde então não parou de perder, facto que provocou descontentamento ao partido de Dhlakama. Reclamava de fraudes e injustiças. E nasceram assim as crises com o Governo.
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Dhlakama: O regresso às matas como estratégia de pressão
O regresso do líder da RENAMO à Serra da Gorongosa em 2013, um dos seus bastiões militares, foi uma mensagem inequívoca ao Governo da FRELIMO. Dhlakama queria mudanças reais, que passavam pelo respeito integral do AGP, principalmente a integração dos militares da RENAMO no exército nacional, e mudança da legislação eleitoral. Assim o país voltou a guerra depois de mais de vinte anos.
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Armando Guebuza e Dhlakama em braço de ferro permanente
A 5 de agosto de 2014 o então Presidente Armando Guebuza e Afonso Dhlakama assinaram um cessar-fogo. Estavam criadas as condições para o líder da RENAMO participar nas eleições gerais de outubro de 2014. Dhlakama e o seu partido participam nas eleições e voltam a perder. As crise volta ao rubro e Dhlakama regressa às matas da Gorongosa.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Emboscada contra Afonso Dhlakama
A 12 de setembro de 2015 a caravana em que seguia Afonso Dhlakama foi atacada na província de Manica. Ate hoje não se sabe quem foram os atacantes. A RENAMO considerou a emboscada como uma tentativa de assassinato do seu líder. A comunidade internacional condenou o uso da violência.
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Aperto ao cerco contra Afonso Dhlakama
No dia 9 de outubro de 2015, a polícia cercou e invadiu a casa de Afonso Dhlakama na cidade da Beira. As forças governamentais pretendiam desarmar a força a guarda do líder da RENAMO. Os homens da RENAMO que se encontravam no local foram detidos. A população da Beira, bastião da RENAMO, juntou-se diante da casa de Dhlakama manifestando o seu apoio ao líder.
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Dhlakama e Nyusi: Menos mãos melhores resultados
O líder da RENAMO e o Presidente da República decidiram prescindir de mediadores e passaram a negociar o acordo pessoalmente. Desde então consensos têm sido alcançados, um deles relativo à revisão pontual da Constituição, no âmbito do processo de descentralização em fevereiro de 2018. A aprovação da proposta pelo Parlamento é urgente, pois as próximas eleições de 2018 e 2019 dependem dele.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
Dhlakama: Não foi a bala que ditou o seu fim
Na manhã de 3 de maio o maior líder da oposição em Moçambique perdeu a vida vítima de doença. Deixa aos seus correlegionários a tarefa de negociar outro ponto controverso na crise com o Governo: a desmilitarização ou integração dos homens armados da RENAMO no exército nacional. Há quase 40 anos à frente da liderança da RENAMO teve de negociar com todos os Presidentes de Moçambique independente.