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Morte de Nhongo: "Não se pode subestimar a Junta Militar"

12 de outubro de 2021

O analista político Dércio Alfazema fala numa Junta Militar "fragilizada", depois da morte de Mariano Nhongo, mas realça que não se deve subestimar o grupo já que "ninguém conhece" a sua "real situação".

(Foto de arquivo)Foto: DW/A. Sebastião

A morte do líder da Junta Militar, Mariano Nhongo, anunciada esta segunda-feira, (11.10), abre caminho para a efetivação do processo de paz e estabilização de Moçambique, defende o analista político Dércio Alfazema, do Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD).

Em entrevista à DW África, o analista defende a realização de um estudo que apure a real dimensão do grupo armado formado por dissidentes da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). Alfazema lamenta o desfecho "trágico", mas diz que era "previsível".

DW África: Como reage a este desfecho, anunciado pelo polícia, com a morte do líder da "Junta Militar", Mariano Nhongo?

Dércio Alfazema (DA): Bom, é uma situação trágica, lamentável, mas que também já era de se esperar, porque Mariano Nhongo fechou todas as possibilidades de se encontrar outro tipo de solução. Recorde-se que está em curso o processo de Desarmamento, Desmilitarização e Reintegração (DDR), houve mensagens de sensibilização e mobilização para que ele e o seu grupo fizessem parte do processo. Alguns, felizmente, aderiram, mas Mariano Nhongo e outra parte do grupo resistiram. Houve tréguas militares que foram por ele desrespeitadas, houve tentativa de aproximação de vários grupos, do representante da ONU, o Conselho Cristão de Moçambique, entre outros, e sempre houve uma reação negativa. Falava-se de diálogo, mas Nhongo não mostrava sinais de abertura para se avançar nesse caminho. Infelizmente, perante essas situações, já se podia esperar um cenário como esse.

"Nhongo (foto) não mostrava sinais de abertura" ao diálogo, diz analistaFoto: DW/A. Sebastiao

Aliás, há que ter em conta também que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) estão moralizadas com o avanço na zona norte do país e estão constantemente a ser treinadas, a receber apoio externo para treinamento dos seus homens e, assim, penso que estavam numa situação de vantagem para exercer pressão a Mariano Nhongo que, diga-se de passagem, já estava numa situação de fragilidade.

DW África: Agora, qual será o futuro da "Junta Militar"? Muitos dizem que as forças de segurança mataram Mariano Nhongo, mas não mataram a "Junta Militar".

DA: A "Junta Militar" já estava numa situação decadente. Se olharmos para o histórico, Mariano Nhongo apareceu e conseguiu mobilizar algumas pessoas que também ajudavam a publicitar o grupo, mas essas pessoas todas foram desertando, aderindo ao DDR, foram tendo outras opções de vida. Nos últimos meses, parecia-me estarmos perante um Mariano Nhongo bastante fragilizado e uma "Junta Militar" quase inexistente. Mas só uma investigação poderá [indicar] a real dimensão daquilo que é a "Junta Militar" até ao presente.

DW África: Então, na sua perspetiva, não se pode esperar agora muito da "Junta Militar"?

"É preciso credibilizar o processo de DDR", afirma Dércio Alfazema (imagem de arquivo)Foto: Luciano da Conceição/DW

DA: Não se pode esperar, mas também é preciso não subestimar, porque ninguém conhece a real situação da "Junta Militar". É preciso olhar para isso com alguma cautela. Apesar de [existirem] sinais de um grupo fragilizado.

DW África: O que se deve fazer neste momento para evitar que surjam mais guerrilheiros que sigam as pegadas de Mariano Nhongo?

DA: Há que olhar para duas dimensões. Há ainda elementos da "Junta Militar" que estão dispersos ou centrados em algum lugar. É preciso trazer uma mensagem de confiança para mobilizá-los a aderir a esse processo de DDR que está ainda em curso. Não [se deve] continuar a perseguir, na tentativa de matar, todos os elementos da "Junta Militar". Isso não é necessário. É preciso, sim, que a sociedade e o Governo os mobilizem para fazerem parte do processo. É preciso também credibilizar o DDR de modo a que não haja essas mensagens ruidosas que têm aparecido nos últimos tempos e que, de alguma forma, descredibilizam esse processo que continua a ser muito fechado, sem informação.

Mas também temos uma segunda dimensão, que é a da necessidade de continuarmos a investir na base de confiança. Uma das razões que tem levado à ocorrência desses conflitos é mesmo a questão da confiança.

DW África: Com a morte de Mariano Nhongo e essa "fragilização" da "Junta Militar" de que fala, estão criadas as condições para a efetivação da paz e a estabilização em Moçambique?

DA: Abre caminho e boas perspetivas para a estabilidade, sobretudo ao longo do corredor da zona centro, mas não nos devemos limitar ao facto de Mariano Nhongo ter sido morto. É preciso também desenvolver algumas ações, inclusive estudar e compreender quais têm sido as razões desses ciclos de conflito no país, sobretudo nos últimos 29 anos.

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