Morte de Sanhá pode comprometer estabilização da Guiné-Bissau
9 de janeiro de 2012 Angola anunciou para breve a assinatura de um acordo tri-partido denominado “Roteiro para a paz na Guiné-Bissau”
O documento, que deve ter o suporte da Organização das Nações Unidas, é descrito pela diplomacia angolana como contendo um cronograma de ações para a estabilização da Guiné-Bissau, a dignificação de militares e polícias que durante vários anos estiveram a frente destas duas estruturas.
Para assinatura do roteiro para a paz na Guiné-Bissau, Luanda iniciou contatos com a Nigéria. Prevê-se que a assinatura seja feita, para além das autoridades de Bissau, pelas Nações Unidas, Nigéria e Angola.
CPLP e CDEAO coordenam esforços com apoio da ONU
O ministro das relações exteriores angolano, Georges Chitoty, foi mandatado pelo presidente José Eduardo dos Santos para contactar Abuja na qualidade de presidente rotativo da CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa.
A Nigéria foi contactada por ser considerado um dos países mais influentes da Comunidade de Estados da África ocidental - CEDEAO. De volta à capital angolana Luanda, Georges Chicoty garantiu que tudo está alinhado para a assinatura do roteiro, mas ainda sem data marcada: "Nesta concertação, que foi desta vez de nossa iniciativa, poderemos nos próximos tempos dar passos significativos em coordenação com as Nações Unidas para iniciarmos a implementação deste programa e sobretudo a assinatura do roteiro que está a ser negociado entre a CPLP e a CEDEAO que prevê uma certa coordenação entre os dois com as Nações Unidas no terreno."
Para além de Abuja, na Nigéria, o ministro das relações exteriores também esteve em Acra, no Gana, para contactos semelhante com as autoridades locais.
Esta tomada de posição por Angola, a favor de um plano de paz para conter a instabilidade na Guiné-Bissau e a reforma das forças armadas daquele país lusófono, segue-se a um levantamento militar no mês de dezembro, em que um grupo de militares se amotinou numa aparente tentativa de golpe de Estado.
Apoio financeiro de Angola mal visto
Na última sexta-feira (06/01), o ministro da defesa de Angola, Cândido Van-dunem, esteve na Guiné-Bissau, onde está um importante contingente militar e policial angolano, com mais de duzentos efetivos.
O objetivo deste contingente militar é dar apoio técnico e formação as forças locais no âmbito das reformas em curso no setor da defesa.
Em Bissau, Van-dunem manteve encontros com os militares, autoridades locais e diplomatas. O ministro da defesa angolano disse, depois desses encontros, que há bons sinais de que a Guiné-Bissau siga pelo "bom caminho".
Ainda no âmbito desta visita de Van-dunem, Luanda emprestou cerca de 16 milhões de dólares a Bissau para a recuperação de infraestruturas do exército, um gesto que não agradou alguns setores angolanos. A sociedade civil criticou a concessão devido a várias necessidades que as forças armadas angolanas têm, principalmente no interior do país.
Entretanto, o governo angolano elegeu, como uma das ações imediatas na sua política externa, a pacificação da Guiné-Bissau, na sua presidência rotativa na CPLP que termina em meados desde ano.
Na última semana, o presidente angolano José Eduardo dos Santos enviou uma carta aos seus homólogos da comunidade lusófona em que, entres outros aspectos, se coloca absolutamente contra os acontecimentos do dia 26 de dezembro, qualificando-os como potenciador de instabilidade na Guiné-Bissau.
E em paralelo a estes esforços de estabilização da Guiné-Bissau morre o presidente do país, Malam Bacai e Sanhá, nesta segunda-feira (09/01), o que pode de alguma maneira comprometer o processo já em curso.
Autor: Manuel Vieira
Edição: Nádia Issufo / Bettina Riffel