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Mortes em Angola: "Vamos protestar a semana toda" em Lisboa

João Carlos em Lisboa
8 de agosto de 2025

Angolanos protestaram hoje diante do Consulado Geral de Angola, em Lisboa. Acusam o Governo de João Lourenço de ter sangue nas mãos, após 30 mortes em protestos e tumultos em Luanda.

Protesto de angolanos em Lisboa contra a violência policial em Angola, a 8 de agosto de 2025
Angolanos em Lisboa protestaram hoje, durante todo o dia, denunciando a violação constante de Direitos Humanos no seu país natalFoto: João Carlos/DW

Mais de uma centena de angolanos protestou hoje diante do Consulado de Angola, em Lisboa.

No chão, depositaram um caixão, flores e cartazes também com imagens de algumas das pessoas mortas durante a recente greve dos taxistas por causa do aumento do preço dos combustíveis.

"Nós viemos para aqui porque até hoje não tivemos um pronunciamento correto do Presidente de Angola. As pessoas foram assassinadas pela Polícia Nacional, porque o povo não tem armas", afirmou Márcia Branco, do grupo organizador do protesto na capital portuguesa.

A ativista salientou que, na semana passada, o povo angolano exerceu apenas "o seu direito" de se manifestar. "Nós estamos há quase 50 anos [de independência] com a mesma governação. Nós queremos mudanças", salientou.

Trinta pessoas morreram e mais de duzentas ficaram feridas durante os protestos e tumultos em Angola, nos quais alguns cidadãos também praticaram atos de vandalismo e pilhagem. A polícia fez mais de 1.500 detenções, segundo os últimos dados oficiais.

"Angola é governada por um ditador"

Domingos Ginga juntou a sua voz ao protesto desta sexta-feira em Lisboa: "Nós temos um regime que se perpetuou no poder e que acha que a força é a única via para se manter no poder", criticou.

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"Estamos aqui a protestar contra o número de assassinatos que o Governo angolano tem cometido, contra a fome e contra o sistema político que se vive em Angola. Estamos aqui para mostrar ao mundo que Angola é governada por um ditador", acrescentou.

Os angolanos que aderiram à manifestação vestiram-se de branco e preto, símbolos de luto. Gritavam "João Lourenço, Angola não é tua propriedade"; "Governo assassino"; "Libertem os presos políticos".

Em suma, como disse outro ativista através de megafone: "Angola não é um mar de rosas; falta coragem para todos dizerem basta".

Protesto deverá continuar

Por causa da manifestação, o Consulado Geral afixou um comunicado no dia anterior a informar que os serviços estariam encerrados, com reabertura prevista para a próxima segunda-feira.

"Está difícil", desabou Maria Juliana, que veio de longe e não conseguiu tratar de documentos. "Também vim para registar o meu bebé recém-nascido. Infelizmente me deparo com esta situação. Vou voltar na segunda-feira, na incerteza, porque talvez poderão abrir [as portas]."

Os ativistas, que querem entregar um manifesto às autoridades angolanas, insistem que não vão ficar pelo protesto desta sexta-feira

"Nós viemos com o propósito de fazer uma manifestação pacífica, mas que o Consulado estivesse aberto para nos ouvirem. O Consulado fechou e, então, a partir de segunda-feira nós vamos comunicar a polícia novamente", sublinha Márcia Branco.

"Quem puder aparecer aqui vai aparecer. Nós estaremos aqui a semana toda", promete.

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Sem muitas palavras, o músico angolano Beto Cruz associou-se ao grupo e deixou uma mensagem de esperança: "Lutar, lutar, lutar para a libertação de um povo que é oprimido há mais de 50 anos."

A organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional instou as autoridades angolanas a investigarem as alegações de uso ilegal da força durante a greve dos taxistas.

No mesmo dia em que decorreu esta manifestação em Lisboa, foi celebrada uma missa na Igreja de São Domingos, também na capital portuguesa, por alma de Ana Mabuila, uma jovem mãe baleada durante os protestos em Angola.