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CriminalidadeMoçambique

Mortes na PRM: Uma "purga" no seio da corporação?

24 de outubro de 2025

Em Moçambique, foi assassinado a tiro mais um agente da PRM, totalizando já cinco casos nos últimos meses. Zito Rosário nota que caso foge ao "modus operandi" dos demais e considera que "Estado perdeu o controlo".

Agentes da PRM em Moçambique
Mais um agente da PRM foi, esta quinta-feira (23.10), assassinado a tiro em Maputo, MoçambiqueFoto: Romeu da Silva/DW

Mais uma rajada de tiros tirou a vida a um agente da Polícia da República de Moçambique (PRM), esta quinta-feira à noite (23.10), próximo de Maputo.

Trata-se de Leonor Inguane, comandante distrital de Marracune, que foi alvejada dentro da sua viatura, na estrada circular de Maputo. A vítima é apontada como esposa do ex-comandante da PRM, Bernardino Rafael, informação ainda não confirmada pela corporação.

À DW África, Zito Rosário, jornalista e membro do MISA-Moçambique, enquadra o assassinato como parte de uma "purga interna" na PRM, que só nos últimos meses vitimou cinco agentes em ações semelhantes.

DW África: Mais um agente da PRM é morto brutalmente em Moçambique. Assiste-se nos últimos meses a assassinatos mensais de agentes. O que estaria a motivar essas liquidações?

Zito Rosário (ZR): Parece-me que é sobejamente conhecido aqui em Moçambique, a opinião pública já vaticinou, e também a própria Polícia da República colabora com essa versão em parte, de que há uma limpeza de agentes da corporação que estiveram envolvidos no assassinato ou chacina de cidadãos para encobrir as fraudes do regime nos pleitos eleitorais. Mas parece-me que este incidente foge um pouco à lógica, ou pelo menos ao modus operandi que vinha a ser verificado, porque é uma comandante de uma unidade policial.

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08:28

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DW África: Algumas vozes dão a vítima como esposa do ex-comandante da PRM, Bernardino Rafael. A ser verdade, faria sentido a especulação de que o assassinato visaria atingir Rafael, figura detestada por muitos moçambicanos?

ZR: Bernardino Rafael esteve envolvido diretamente na morte de centenas de cidadãos moçambicanos nos pleitos eleitorais e está a responder a processos na Procuradoria-Geral da República por esse envolvimento direto na forma como tratou e usou a Polícia da República de Moçambique contra a população. Mas o que em Moçambique é conhecido, ou pelo menos aquilo que foi a debate na semana passada nas redes sociais, é que esta cidadã, esta oficial da polícia, tinha relações de proximidade com o senhor Bernardino Rafael, mas também se aventava que ela poderia participar num esquema que visasse infringir algum golpe fatal ao senhor Bernardino Rafael.

Portanto, são especulações na esfera pública, mas a ser verdade que é a esposa do ex-comandante da PRM, fica muito mais do que evidente de que o Estado perdeu o controlo total, e quase absoluto, da forma como se gere um país, porque não é naturalmente razoável e não é possível depreender que esquadrões de morte podem chegar a esse nível de violência contra autoridades da própria polícia.

DW África: Estamos a falar de uma revanche em que os esquadrões da morte também já atuam contra uma polícia desacreditada?

ZR: Sim, mas fala-se mais do que de revanche. Fala-se de limpeza. Essa é uma outra preocupação, porque as narrativas vão sendo construídas de formas diferentes para diferentes setores. A população pode falar de revanche. Mas outros setores falam desta limpeza. Há setores castrenses, aqui no país, que consideram que há uma substituição. O país, como já se falou, é uma gangsterização, e pode ser que isto seja uma substituição dos elementos dessa gangue de forma paulatina.

DW África: Estamos a falar então de uma purga que parte de dentro da própria polícia?

ZR: Sim, naturalmente, está mais do que evidente: Que indivíduo teria total capacidade de neutralizar de forma operativa uma comandante de uma unidade policial como esta? Que indivíduo teria capacidade de neutralizar indivíduos de alta perícia, como os que são do Serviço Nacional de Investigação Criminal? Portanto, está evidente que têm indicações de natureza castrense e de segurança ao nível da nossa corporação.

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11:14

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