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Mostra de arte contemporânea de Moçambique em Ahlen

28 de junho de 2011

Continuam a ser raras as exposições de arte contemporânea africana na Alemanha. Uma mostra inaugurada a 27 de junho traz ao público alemão interessado um conjunto de trabalhos de artistas moçambicanos.

O director da Universidade Popular de Ahlen, Rudolf Blauth (à esquerda), e o coleccionador, Wolfgang Hahn, inauguram a exposiçãoFoto: Peter Schniederjürgen

Há vinte anos que a Universidade Popular da cidade alemã de Ahlen - a chamada “Volkshochschule”, um espaço de angariação de conhecimentos aberto a todos os cidadãos - se esforça por levar aos alemães toda a riqueza da cultura africana. Para além de seminários, workshops, espetáculos de música e dança e outras iniciativas, a edição de 2011 contou ainda com uma exposição de artistas contemporâneos de Moçambique.

Mesmo as "temperaturas africanas" de quase 40 graus centígrados não impediram o público de acorrer, numeroso, à inauguração, conta o diretor da Volkshochschule, Rudolf Blauth. Para ele, o interesse não constituiu surpresa, dada a qualidade das obras expostas. Uma mistura de artistas mais velhos e jovens "como, por exemplo, o Butcheca, que tematiza o contraste entre a cidade e o campo, o homem e a mulher. São obras modernas influenciadas pela arte ocidental”. Para Blauth, o público passou a conhecer um aspeto novo de Moçambique. “Não é apenas um país pobre em vias de desenvolvimento. É um país com artistas que podiam vingar no mundo inteiro se tivessem mais oportunidades para fazer exposições"

Há muitos anos, as cores vivas de Dito depararam com incompreensão na AlemanhaFoto: Peter Schniederjürgen

Oportunidades para expor são raras

Proporcionar essas oportunidades é o objetivo do banqueiro reformado Wolfgang Hahn. Um acaso conduziu-o a Moçambique há alguns anos. Num dia chuvoso entrou no museu de arte moderna e foi cativado pela riqueza da arte contemporânea do país. Começou a colecionar as peças que agora estão expostas em Ahlen. O contato com os pintores “que me contaram o quanto é difícil sobreviver como artista, apesar de participarem em numerosas exposições nos países lusófonos”, despertou em Hahn o desejo de ajudar, promovendo-os na Alemanha.

Um objetivo nada simples de alcançar num país que ainda não despertou para a arte contemporânea de África. O pintor moçambicano, Dito, que está na Alemanha a participar num “workshop” de artistas moçambicanos e alemães, e que tem obras suas na mostra de Ahlen, viveu alguns anos na extinta República Democrática da Alemanha. Já na altura, o seu trabalho deparou com alguma incompreensão: "Lembro-me que quando cheguei à RDA diziam ah, que cores horríveis, muito berrantes. Aquilo era o reflexo do que era a natureza africana, com muitas cores” Mas os problemas não acabaram quando regressou ao seu país: “Quando volto para a Maputo já trazia essa influência europeia. Então houve uma outra reação por parte dos artistas moçambicanos: ah, o Dito foi à Europa, foi à Alemanha, ele agora pinta escuro".

Ídasse é um dos artistas moçambicanos com mais mostras internacionais no currículoFoto: Peter Schniederjürgen

As circunstâncias melhoraram para os artistas moçambicanos

Em Moçambique, diz Dito, as circunstâncias são hoje mais favoráveis aos criativos. Ao contrário do que se poderia crer, avança, graças à recuperação económica, é até mais fácil vender a sua arte em Moçambique do que na Europa. Embora a Alemanha seja hoje mais aberta ao mundo do que nos tempos da RDA, a verdade é que é difícil para um artista africano impor-se neste país: "Eu penso que há menos concorrência em Maputo. Eu não posso calcular quantos artistas há em Berlim, Paris, ou Lisboa, mas é um número muito grande"

Para Rudolf Blauth, a concorrência não é o único problema dos artistas africanos na Alemanha. O diretor da Volkshochschule aponta o dedo aos responsáveis alemães. Na sua opinião, os diretores dos museus de arte não querem mostrar arte africana: “Acham que ela deve ser exposta em museus de antropologia. É de uma ignorância que brada aos céus. Se me perguntar, diria que o colonialismo ainda não desapareceu completamente das cabeças dos diretores dos museus".

Butcheca tematiza as contradições da sociedade moçambicanaFoto: Peter Schniederjürgen

Maputo deve esforçar-se por divulgar os seus artistas

Mas o colecionador Wofgang Hahn, salienta que a responsabilidade pela divulgação internacional dos artistas cabe também a Moçambique. Hahn recorda-se do número impressionante de amantes de arte de todo o mundo que veio prestar homenagem ao grande pintor Malangatana Valente, no seu enterro em Maputo em janeiro deste ano: "Espero que isso tenha servido para mostrar aos responsáveis moçambicanos que a arte pode ser um fantástico embaixador para um país relativamente pobre e pouco industrializado, para se tornar mais conhecido no mundo".

Autora: Cristina Krippahl

Edição: António Rocha

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