Motoristas protestam contra ataques no centro de Moçambique
Arcénio Sebastião
28 de outubro de 2019
Na província de Manica, automobilistas bloquearam a principal via do país, a EN1, e pressionaram o Governo para negociar com os responsáveis pelos ataques armados nas estradas.
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Centenas de automobilistas que circulam pelo centro de Moçambique pediram esta segunda-feira (28.10) mais segurança ao Governo, depois de vários ataques na região. Os automobilistas bloquearam a Estrada Nacional 1, no troço Inchope-Muxungue, na província de Manica.
"O que nos faz parar aqui não é uma greve. Todo aquele que é motorista aqui teve medo por causa dos ataques que se fazem sentir nos últimos dias. É disso que nós temos medo, de atravessar para a Gorongosa", contou o motorista Artur Panachande.
"Há um boato de que atacaram [na localidade de] Muda Serração. Qual é essa segurança? Estamos aqui a revindicar, mas já atacaram noutro lado. Ontem mataram o nosso colega aqui, mataram pessoas inocentes aqui. Mas dizem que há segurança", protestou.
Medo de ataques
No domingo (27.10), três pessoas morreram num ataque contra duas viaturas, na província de Sofala. Entre as vítimas estava um motorista. O ataque aconteceu perto do local onde, dias antes, um polícia foi morto e outras três pessoas ficaram feridas.
A região conta com a presença das Forças de Defesa e Segurança para garantir a proteção dos cidadãos. Mesmo assim, não há garantias de segurança, contou outro automobilista à DW África: "Estamos a ver que não adianta andar, porque estamos a encaminhar-nos para a morte", lamentou Nelson Bernardo.
"[Esta] é uma forma de pressionar o nosso Governo, porque o nosso Governo é muito lento, para ver que os operadores da estrada já estão cansados dessas coisas. Há sempre ataques e já estamos cansados", disse.
A paralisação estendeu-se até às 10 horas desta segunda-feira, originando longas filas de viaturas. Depois de um longo diálogo com os automobilistas, Inácio Dina, da polícia em Manica, afirmou que a corporação está a garantir a segurança da estrada.
"É um grupo de camionistas de longo curso", descreveu. "Na verdade, eles pararam para procurar saber da polícia quais eram as condições de segurança para continuarem com o percurso. Nós explicámos-lhes que a polícia estava a garantir a proteção e segurança ao longo dos troços e que podem percorrê-los. Os motoristas perceberam e rapidamente retomaram a sua viagem", relatou.
Boatos nas redes sociais
Segundo Inácio Dina, tudo se deveu a um boato posto a circular nas redes sociais, com vídeos de longas filas de viaturas após um suposto ataque na região de Muxungue, na província de Sofala. O agente diz que estas são informações falsas: "Esta onda de boatos decorre das redes sociais e de informação infundada, e quem está distante - recebendo uma fotografia, recebendo um vídeo que não retrata a verdade - pode ser consumido pelo medo", argumentou.
Motoristas protestam contra ataques no centro de Moçambique
Entretanto, a polícia ainda não se pronunciou sobre o ataque de domingo em Sofala.
Face a esta onda de ataques, a DW África questionou o condutor Nelson Bernardo se seria viável a introdução de escoltas militares para a proteção dos automobilistas. Bernardo rejeita essa hipótese: "Não, isso é muito negativo. Se for ver, mesmo na escolta dos anos passados muitas pessoas morreram. Então, nós só queremos que eles negoceiem [com os responsáveis pelos ataques,] para que a estrada esteja livre," concluiu.
A região centro de Moçambique tem sido palco de incursões armadas contra veículos, desde agosto, que já provocaram vários feridos e sete mortos, segundo dados das autoridades locais.
A zona foi historicamente palco de confrontos armados entre forças governamentais e do maior partido da oposição, Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), até dezembro de 2016 - altura em que as armas se calaram, tendo a paz sido selada num acordo subscrito a 6 de agosto.
Moçambique: As novas estradas do Niassa
Com a reabilitação das duas principais estradas do Niassa, a N13 e N14, vitais para o desenvolvimento da província, a ligação da região com o resto de Moçambique e países vizinhos torna-se mais rápida e segura.
Foto: DW/M. David
Mãos à obra
A província de Niassa, a mais extensa de Moçambique, é potencialmente rica em agropecuária, turismo, conservação, extração mineira, entre outras atividades. No entanto, o estado das vias de acesso constitui o principal entrave no desenvolvimento económico da província. Mas esse cenário já começou a mudar com as obras de reabilitação de várias vias.
Foto: DW/M. David
Estrada N13
Finalmente arrancou a construção da N13, estrada nacional que liga as províncias de Nampula e Zambézia, através da via do Cuamba. Também tem ligação com o vizinho Malawi, passando pelo distrito de Mandimba. A reabilitação está dividida em três partes: nas ligações de Lichinga-Massangulo, Massangulo-Muita e Muita-Cuamba. Estes são troços mais complexos devido às pontes que devem ser construídas.
Foto: DW/M. David
De Moçambique ao Malawi
Devido a relação de proximidade entre os dois povos, a estrada Mandimba-Malawi foi igualmente contemplada pelo projeto de asfaltagem. Neste momento, a estrada esta totalmente planada, faltando apenas o seu revestimento para permitir uma ligação mais efetiva entre os dois países vizinhos. O antigo troço dificultava a circulação de pessoas e bens praticamente em todas as épocas do ano.
Foto: DW/M. David
Estrada Montepuez-Balama
As obras de reabilitação e asfaltagem de cerca de 130 km de estradas decorrem a todo gás para que este troço esteja pronto até fevereiro de 2020. Trata-se de uma via que liga a cidade de Montepeuez, em Cabo Delgado, até Balama, no Niassa. O objetivo é assegurar a ligação entre as duas províncias nortenhas, sobretudo do Niassa ao porto de Pemba, dinamizando as trocas comerciais.
Foto: DW/M. David
Limite entre o Niassa e Cabo Delgado
Marrupa é o distrito do Niassa que faz fronteira com a província de Cabo Delgado através do distrito de Balama, separadao pelo rio Ruança. Do lado do Niassa a estrada está totalmente asfaltada. Mas o mesmo não se pode dizer sobre a estrada em Balama, como mostra a foto.
Foto: DW/M. David
Vias alternativas com problemas
No intuito de acelerar as obras de reabilitação da estrada N13 sem criar grandes transtornos na mobilidade das pessoas e bens, as empresas encarregues do projeto de asfaltagem criaram desvios através de vias alternativas. Mas estas vias não estão em condições de transitabilidade e dificultam, principalmente, a circulação de viaturas de grande porte.
Foto: DW/M. David
Travessia mais segura
A ponte inaugurada em dezembro de 2018 pelo Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, sobre o rio Lunho, no distrito turístico do Lago Niassa, é um alívio para a população local. Antes todos atravessavam o rio através de pirogas com risco de serem atacados por crocodilos. A ponte liga as zonas de Chuanga e Messumba, no distrito do Lago.
Foto: DW/M. David
Estrada N14 reabilitada
Com 455 km, a N14 liga a província do Niassa com a vizinha Cabo Delgado. Trata-se de uma estrada totalmente asfaltada e sinalizada e já aliviou muitos niassenses que passam por aquela via diariamente. A estrada conta com duas faixas de rodagem.
Foto: DW/M. David
"Desenvolvimento acelerado"
A reabilitação das estradas no Niassa já anima a população local. Euclides Tavares, que mora na capital provincial, acredita que estas obras poderão trazer um "desenvolvimento acelerado" para a região. "Acho que o Niassa vai mudar, porque o a província só está mais atrasada devido à degradação das estradas", diz o residente, que comemora o fim das obras na N14 - que liga Lichinga a Cabo Delgado.
Foto: DW/M. David
Impacto no futuro
Maria Orlando, também residente no Niassa, também comemora a conclusão das obras em algumas estradas. Para ela, estas vias "estão a trazer uma nova cara ao Niassa" e os seus impactos poderão se refletir no futuro da vida dos niassenses.