Partido que governa Angola há mais de 40 anos pede a responsabilização dos autores do desvio de 4,1 milhões de Euros em fundos públicos.
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O MPLA considera um "saque aos cofres do Estado angolano” o desvio de 4,1 milhões de Euros em fundos públicos. O ato foi tornado público esta semana por intermédio de um relatório sobre os investimentos privados realizados com recurso a "avultados fundos públicos".
Em conferência de imprensa realizada nesta sexta-feira (15.03), a direcção do partido que governa Angola há mais de 40 anos pede a responsabilização dos autores do roubo que lesou o Estado, e reafirma o apoio incondicional ao Presidente da República, João Lourenço, que considerou "chocante e repugnante” o ato.
Na mesma conferência de imprensa, o porta-voz do MPLA, o secretário Paulo Pombolo, disse que o dinheiro desviado por um pequeno grupo de cidadãos deveria ser usado para financiar as políticas públicas que beneficiam o povo.
Ato condenável
Pombolo afirmou que nenhum angolano deve permitir que alguns cidadãos criem empresas pessoais com o dinheiro retirado ilicitamente dos cofres do Estado. O MPLA condena o ato, que ao longo dos anos prejudicou o país.
"Não podemos permitir que continue a surgir este tipo de problema numa sociedade em que todos nós somos beneficiários. Estamos a falar de quase 5 mil milhões para um grupinho de pessoas e não chegam a vinte ou trinta, num país com mais de 28 milhões de angolanos. Para a direcção do MPLA é um acto condenável que não podemos permitir que aconteça no país, em função dos graves prejuízos que provoca ao país e ao nosso povo”, afirmou o secretário.
O porta-voz do MPLA espera agora que os serviços de justiça investiguem o caso e que os autores sejam responsabilizados. Por outro lado, deixou claro que os processos judiciais que pesam sobre alguns membros do partido no poder em Angola não estão a causar mal-estar na organização.
"O MPLA concorda que o Estado angolano use todos os instrumentos a seu alcance, para que esses recursos, sejam em bens materiais ou património, sejam de facto devolvidos ao Estado angolano, para que os mesmos valores sejam aplicados no desenvolvimento da economia e criarmos assim as condições que visam melhorar a vida do nosso povo”, disse Paulo Pombolo.
"MPLA não pode ser bode expiatório"
Quanto aos relatos que circulam, nomeadamente nas redes sociais, de que a formação política no poder terá influenciado o conflito na CASA-CE e ditado a saída de Abel Chivukuvuku da liderança da coligação, o dirigente do MPLA disse que não se pode ver o partido a que pertence como bode expiatório em todo esse mal-estar no seio da terceira força de oposição em Angola.
MPLA: desvio milionário é "saque aos cofres do Estado angolano"
Paulo Pombolo garante que o seu partido não tem nada a ver com a confusão instalada na CASA-CE.
"A primeira preocupação para construir a casa é ter alicerce construído com materiais que possam garantir a sustentação da própria casa. Parece que alguns partidos esqueceram-se desta preocupação. As bases deveriam ser devidamente fortificadas para a constituição dos referidos partidos. Preferiram, primeiramente, combater o MPLA e esqueceram que estavam a construir a CASA com adobos, quando deveriam recorrer a blocos de cimento, e os resultados estão aí. E nós, o MPLA, não aceitamos este tipo de acusações”, declarou.
Queda de Abel Chivukuvuku
Recorde-se que, no último 28 de fevereiro, oito dos 16 deputados da CASA-CE demarcaram-se daquela bancada, alegando "um conjunto de vicissitudes" que têm "atrapalhado o normal desempenho" da coligação de partidos.
O anúncio surgiu na sequência da decisão tomada a 26 de fevereiro por cinco dos seis partidos da coligação, que indicaram ter exonerado Abel Chivukuvuku da liderança daquela força política, a terceira mais representativa no Parlamento angolano.
Na ocasião, esses cinco partidos indicaram para a liderança da coligação André Mendes de Carvalho "Miau", que é também líder do grupo parlamentar da CASA-CE.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".