Desde o final de julho, não é conhecida atividade de campanha eleitoral do candidato do MPLA à vice-presidência do país. O partido no poder não comenta o estado de saúde de Sousa. Analista pede mais transparência.
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O candidato número dois da lista do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) às eleições gerais de 23 de agosto, Bornito de Sousa, foi dispensado por despacho presidencial de 26 de julho, por 30 dias, das funções de ministro da Administração do Território para se dedicar exclusivamente às tarefas inerentes à campanha eleitoral para as eleições gerais de 23 de agosto.
Contudo, desde 31 de julho, quando participou em atos de massas na província do Cuanza Norte, que deixou de ser conhecida a sua presença em qualquer atividade de campanha eleitoral.
Bornito de Sousa saiu do país há cerca de duas semanas, alegadamente para Espanha, devido a problemas de saúde. Oficialmente, nada mais foi divulgado a seu respeito.
À procura de esclarecimentos
A DW entrou em contacto com os responsáveis da campanha eleitoral do partido no poder, entre eles o secretário para a informação, Mário António, mas ninguém quis falar sobre o estado de saúde do candidato.
O politólogo Agostinho Sikato, afirma, no entanto, que o MPLA tem a obrigação de informar os cidadãos sobre o estado de saúde do seu candidato à vice-presidência, que tem um "compromisso público" com o país.
"Ele é a segunda pessoa na lista dos deputados, é o candidato a vice-Presidente de um partido concorrente e, por conta disso, os angolanos precisam de saber o que se passa com o doutor Bornito de Sousa. Acho que não há mal algum em os angolanos saberem o que se passa. O MPLA tem a obrigação de informar os angolanos. É nosso desejo que todos os candidatos estejam bem de saúde", opina.
10.08.17 Bornito de Sousa - MPLA - MP3-Stereo
Substituição à vista?
O silêncio do partido no poder gerou uma onda de especulações. No MPLA, já se terá aventado a possibilidade de substituir Bornito de Sousa na corrida eleitoral, caso o candidato não apresente melhorias nos próximos dias.
Fontes do partido no poder apontam o nome de Fernando da Piedade Dias dos Santos, Nandó, o atual presidente da Assembleia Nacional. Isaac Maria dos Anjos, ex-governador de Benguela, é outro nome que estará a ser cogitado para substituir Bornito de Sousa como candidato a vice-Presidente da República.
Agostinho Sikato diz que esse é um cenário bastante possível.
"Neste momento, estas pessoas são as mais próximas. São as pessoas que dominam muito bem o dossier do MPLA e que têm grandes responsabilidades dentro do próprio partido. Há pessoas, eventualmente, com mais aceitação em relação às outras. Eu acho que, se for Isaac dos Anjos, reunirá consenso", comenta.
"Talvez seja também Fernando da Piedade dos Santos, porque tem a arte de negociar, ou Paulo Kassoma, só que Paulo Kassoma tem uma desvatangem: Ele não faz parte da elite," avalia o politólogo.
José Filomeno dos Santos "Zenú", filho do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, é outro dos nomes especulados. Mas, para o analista Agostinho Sikato, isso já seria mais improvável: "Não acredito muito, porque é politicamente insensato, neste momento, Zenú dos Santos ser vice-Presidente da República. Poderá assistir-se a constestações elevadas - não só a nível da sociedade, mas a nível do próprio MPLA", considera.
José Eduardo dos Santos deixará saudades?
Dos Santos anunciou no início de 2017 que deixará o poder ao fim de 38 anos. Será que os angolanos terão saudades? Os comícios e as manifestações no país e fora de Angola nos últimos anos não deixam chegar a um consenso.
Foto: Getty Images/AFP/A. Pizzoli
Setembro de 2008 - Luanda
Este comício do MPLA em Kikolo, Luanda, foi assistido por milhares de pessoas durante a campanha para as eleições de 2008, as primeiras em 16 anos. O MPLA obteve 82% dos votos, tendo conquistado 191 dos 220 lugares da Assembleia Nacional de Angola.
Foto: picture-alliance/ dpa
Março de 2011 - Angola
No entanto, e apesar da maioria conseguida nas eleições de 2008, nos anos seguintes realizaram-se várias manifestações, em Angola, e não só, contra o Governo. A 7 de março de 2011, teve início no país uma onda de manifestações inspiradas na Primavera Árabe. Na organização destas manifestações estava o Movimento Revolucionário de Angola, também conhecido como "revús".
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011 - Londres
No mesmo dia (7 de março), cerca de 30 pessoas sairam às ruas em Londres para protestar contra o Presidente José Eduardo dos Santos. Os manifestantes exigiram a saída do pai de Isabel dos Santos gritando "Zédu fora!" e "Zé tira o pé".
Foto: Huck
Fevereiro de 2012 - Benguela
Em 2012, ano de eleições no país, o número de manifestações organizadas pelos não apoiantes de José Eduardo dos Santos continuou a crescer. O protesto retratado na fotografia teve lugar em Benguela, a 13 de fevereiro. "O povo não te quer", gritaram os manifestantes.
Foto: DW
Junho de 2012 - Luanda
A 23 de maio de 2012, o presidente angolano anuncia que as eleições legislativas se irão realizar a 31 de agosto. Sensivelmente um mês depois, a 23 de junho, o Estádio 11 de Novembro, em Luanda, encheu-se de militantes e simpatizantes do MPLA para aplaudir José Eduardo dos Santos e apoiar a sua candidatura.
Foto: Quintiliano dos Santos
Julho de 2012 - Viana
Cartazes a favor de dos Santos num comício da campanha para as eleições de 2012 em Viana, arredores de Luanda. A 31 de agosto, o MPLA vence as eleições com mais de dois terços dos votos. Depois de uma mudança da Constituição, o Presidente já não é eleito diretamente, mas sim indiretamente nas legislativas. Como cabeça de lista do MPLA, José Eduardo dos Santos é eleito Presidente de Angola.
Foto: Quintiliano dos Santos
Maio de 2015 - Benguela
Nos anos seguintes continuaram os protestos contra o Presidente. Foram-se somando episódios de violência e detenções. 2015 torna-se-ia um ano complicado no que às críticas a JES diz respeito. No aniversário do "27 de maio", em Benguela, por exemplo, 13 ativistas foram detidos minutos depois de começarem um protesto. No mesmo dia, também houve detenções em Luanda.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Junho de 2015 - Luanda
Em junho de 2015, tem início um dos episódios da governação de José Eduardo dos Santos mais criticados. 15 ativistas angolanos, entre eles Luaty Beirão, foram detidos sob acusação de planeaream um golpe de Estado. Para além de terem despoletado muitas manifestações, estas detenções tiveram mediatismo um pouco por todo o mundo devido às greves de fome levadas a cabo por muitos dos detidos.
Foto: DW/P. Borralho
Julho de 2015 - Lisboa
No dia 17 de julho realizou-se, em Lisboa, a primeira manifestação em Portugal a favor da libertação destes jovens. "Basta de repressão em Angola", ouviu-se na capital portuguesa. Dias mais tarde, em Luanda, a polícia reagiu violentamente contra algumas dezenas de manifestantes que protestaram no Largo da Independência.
Foto: DW/J. Carlos
Agosto de 2015 - Luanda
A 2 de agosto e sob o lema "liberdade já", cerca de 200 pessoas, entre as quais vários artistas angolanos - poetas, políticos, atores e artistas plásticos - juntaram-se, em Luanda, para pedir a libertação dos 15 ativistas angolanos detidos. Sanguinário, Flagelo Urbano, Toti, Jack Nkanga, Sábio Louco, Zwela Hungo, Mona Diakidi, Dinameni, Fat Soldie e MCK foram alguns dos artistas presentes.
Foto: DW
Agosto de 2015 - Luanda
Dias mais tarde foi a vez das mães dos ativistas se fazerem ouvir. Nas ruas de Luanda, pediram a libertação dos seus filhos, mesmo depois da manifestação ter sido proibida pelo Governo.
Foto: DW/P. Ndomba
Agosto de 2015 - Lisboa
Nem no dia do seu aniversário (28 de agosto), José Eduardo dos Santos teve "descanso". Cidadãos descontentes, quer em Lisboa, quer em Angola, voltaram às ruas. Na capital portuguesa, voltou a pedir-se liberdade para os ativistas. Exigiu-se ainda liberdade de movimento, de pensamento, de expressão e de imprensa em Angola.
Foto: DW/J. Carlos
Novembro de 2015 - Luanda
No dia em que se celebraram os 40 anos da independência de Angola, proclamada a 11 de novembro de 1975, pelo então Presidente António Agostinho Neto, vários jovens voltaram a fazer ouvir-se. 12 manifestantes foram detidos.
Foto: DW/M. Luamba
Março de 2017 - Cazenga
No início de 2017, José Eduardo dos Santos anunciou a saída da Presidência. O cabeça-de-lista do MPLA às eleições gerais deste ano será o atual ministro de Defesa João Lourenço. O candidato foi recebido por centenas de apoiantes naquele que foi o seu primeiro ato de massas da pré-campanha, no município do Cazenga, em Luanda, a 4 de março.