O Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, celebra esta terça-feira mais um aniversário, que pretende festejar com pompa e circunstância no sábado. Muitos zimbabueanos acham que o dinheiro devia ser gasto de outra forma.
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O aniversário não agrada a todos os zimbabueanos. Em vez da sumptuosa festa do próximo sábado (25.02), em Matobo, a cerca de 600 quilómetros da capital, Harare, muitos consideram que os mais de 2 milhões de dólares deviam ser gastos na resolução dos problemas do país.
Visão diferente tem Kudzai Chipanga, um membro sénior do partido no poder no Zimbabué, ZANU-PF. "O Presidente Mugabe é o salvador do nosso povo e do povo africano. Por isso, o seu nascimento foi importante, de tal forma que o vemos como um segundo Jesus Cristo", afirma Chipanga, que lidera o "Movimento 21 de Fevereiro", responsável por coordenar os preparativos para o aniversário de Robert Mugabe. "Queremos que o dia seja feriado nacional", diz.
Mugabe, o líder mais velho do continente africano, está no poder desde 1980, quando o país se tornou independente do Reino Unido. Desde então, o Zimbabué celebra religiosamente o aniversário do Presidente.
Sem motivos para festejar
Este ano, no entanto, uma coligação de organizações da sociedade civil chamada "21 dias de Ativismo Zimbabué" afirma que Mugabe não tem motivos para festejar.
"Não queremos estragar a festa de ninguém, mas sim mostrar ao Governo que há outras prioridades, em vez de gastar milhões de dólares em festas de aniversário, numa altura em que temos uma enorme crise financeira", diz Sam Farai.
21.02 Aniversário Mugabe - MP3-Stereo
O ativista do movimento "anti-aniversário" defende que o dinheiro deveria ser usado para melhorar os hospitais, distribuir livros às escolas ou pagar aos professores ".
O Governo do Zimbabué está falido. Desde o ano passado que tem vindo a falhar o pagamento de ordenados atempadamente aos seus funcionários. O Executivo ainda não anunciou quando é que vai pagar os bónus em falta desde novembro de 2016.
Cerca de 5 milhões de zimbabueanos dependem de ajuda internacional para combater a ameaça da fome, após a seca causada pelo fenómeno El-Niño.
Cem mil convidados
Mas nada disto impede Robert Mugabe de celebrar. "Devemos dar graças pelo seu aniversário", diz Garikai Chamalima, de 24 anos. Este licenciado em engenharia, desempregado, considera que "se não fosse Mugabe, o país estaria sub-desenvolvido".
Cem mil pessoas deverão participar nas celebrações do 93º aniversário do Presidente, segundo os meios de comunicação estatais.
O chefe de Estado já declarou que quer viver até aos 100 anos e governar enquanto for vivo. Na semana passada, a mulher do Presidente, Grace Mugabe, afirmou que o marido poderia concorrer às eleições do próximo ano mesmo "como cadáver", caso venha a morrer antes da votação.
Protestos no Zimbabué podem trazer mudanças?
Há cada vez mais zimbabueanos a protestar nas redes sociais e a ir para as ruas. Conhecido em tempos como o celeiro de África, o país enfrenta agora graves problemas económicos. Os manifestantes pedem uma nova liderança.
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
Contra a fome
Centenas de mulheres saíram às ruas de Bulawayo, a segunda maior cidade do Zimbabué, a 16 de julho. Levavam na mão tachos e panelas em que batiam com colheres de pau para denunciar as dificuldades económicas e fome no país. "Estamos a aquecer ainda mais a panela que já está a ferver. Vamos aquecer a panela até que Mugabe saia", cantavam as mulheres da campanha #BeatThePot (#BateOTacho).
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
O pastor e a bandeira
Em abril de 2016, o pastor Evan Mawarire lançou a campanha #ThisFlag (#EstaBandeira) nas redes sociais, exigindo ao Presidente Robert Mugabe que agisse contra a corrupção no Governo. Mawarire convocou para 6 de julho uma paralisação nacional contra as dificuldades económicas - a maioria dos zimbabueanos ficou em casa; na capital, a maior parte das empresas e os bancos estrangeiros não abriram.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T.Mukwazhi
Protestos dos taxistas
A 4 de julho, taxistas e condutores de transportes semi-coletivos de passageiros protestaram contra os abusos da polícia. Muitos jovens não conseguem encontrar emprego e, por isso, ganham a vida a transportar passageiros. Mas os motoristas queixam-se dos vários bloqueios policiais na estrada, que, segundo eles, servem para os agentes extorquirem dinheiro a quem por ali passa.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
"Mugabe tem de sair"
Sobe a pressão para o Presidente Mugabe abandonar o cargo, devido à grave crise económica que o país atravessa. Há cada vez mais zimbabueanos descontentes com a alta taxa de desemprego, a corrupção no Governo e a falta de dinheiro, que faz com que as pessoas tenham de esperar horas a fio nos bancos para fazer um levantamento - e só podem levantar 50 dólares por dia (45 euros) na caixa automática.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
Mugabe não quer sair
Robert Mugabe tem mandado as forças de segurança abafar as vozes críticas desde que está no poder, há 36 anos. E continua a não querer deixar a Presidência, apesar de aumentarem os pedidos para que se demita face à crise económica. Mugabe mantém tensas relações com o Ocidente, e os seus aliados asiáticos, como a China e Singapura, não estão dispostos a oferecer a ajuda que o país necessita.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Uma economia estilhaçada
Os cofres do Zimbabué estão virtualmente vazios. Os preços dos produtos aumentaram com a seca no país e a economia ficou ainda mais fragilizada. Do Ocidente chega pouca ajuda, depois das sanções à liderança política do país devido a fraude eleitoral e violações dos direitos humanos.
Foto: AFP/Getty Images
Instituições financeiras relutantes
O Zimbabué não consegue obter nenhum empréstimo no estrangeiro e tenta devolver os 1,8 mil milhões de dólares em atraso ao Fundo Monetário Internacional, Banco Africano de Desenvolvimento e Banco Mundial, para conseguir desbloquear novos financiamentos. Para isso, o Executivo de Mugabe terá de resolver os problemas relacionados com a governação e transparência e levar a cabo reformas económicas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Lo Scalzo
Sem fim à vista
Hoje em dia, o Zimbabué já não é o celeiro de África, como foi considerado em tempos. A seca prolongou-se e as colheitas foram más. Agora, são esperados novos protestos. Na última campanha eleitoral, Mugabe prometeu dois milhões de empregos aos jovens licenciados. A promessa continua por cumprir.