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PolíticaEstados Unidos

Iminente derrota de Trump pode entristecer líderes africanos

5 de novembro de 2020

Para o guineense Anízio Indamini, radicado nos Estados Unidos há vários anos, a grande afluência às urnas norte-americanas mostra ânsia de mudança. O jovem considera que em África há quem tema o fim da era Trump.

US Wahl 2020 | Wahlen in Kalifornien
Foto: Mike Blake/REUTERS

A contagem de votos das eleições da última terça-feira (04.11) nos Estados Unidos continua esta quinta-feira (05.11), quando ainda faltam cinco Estados por apurar. No entanto, o candidato democrata, Joe Biden, está quase com um pé na Casa Branca, com 264 dos 270 delegados que precisa para ser eleito.

A DW África entrevistou Anízio Indamini, um guineense a residir nos Estados Unidos há mais de 10 anos, para quem o resultado desta eleição mostra a forma como os norte-americanos avaliam a Presidência de Donald Trump.

Anízio IndaminiFoto: Privat

DW África: O que é que o aparente avanço de Joe Biden na corrida à Casa Branca representa para a política norte-americana?

Anízio Indamini (AI): Os números traduzem um recorde [na afluência às urnas] e representam muita responsabilidade e a ansiedade de mudança perante o que passámos nos últimos quatro anos. Temos que escolher entre continuar com o discurso agressivo do Trump ou arriscar um pouco apesar de muitos não verem no Biden o candidato certo.

DW África: Acredita que a tendência de voto para Joe Biden é uma espécie de um julgamento à governação de Trump?

AI: Sem dúvida. É o resultado daquilo que Donald Trump plantou nos últimos quatro anos. Nunca houve tanta afluência dos negros às urnas, nem mesmo comparado com a eleição de Barack Obama. Nunca houve tantas mulheres a votar na história dos Estados Unidos. Biden entrou para a história como o candidato que teve mais votos em termos numéricos na história dos Estados Unidos.

DW África: O que explica a maior afluência das mulheres às urnas nestas eleições?

AI: O Presidente Donald Trump usou termos não eticamente corretos e em alguns casos tratou as mulheres como se fossem um objeto. Isso não caiu bem num país onde se espera que o Presidente tenha o conceito de família. Para as mulheres, ele não respeita a própria esposa. Ele veio substituir aquilo que toda a gente viu como um casal modelo, que foi Barack Obama e Michele Obama.  

DW África: Quais são os piores pecados de Donald Trump nos últimos quatro anos?

AI: Donald Trump pecou bastante quando não se soube posicionar claramente em questões raciais. Em relação à Covid-19, ele não a levou tão a sério como devia, até ao ponto de desafiar a ciência e a própria equipa. Deu no que deu, porque depois acabou infetado.

Os norte-americanos voltaram a acordar esta quinta-feira sem um vencedor das eleições norte-americanas de 2020Foto: Chandan Khanna/AFP/Getty Images

DW África: Por causa da Covid-19, temia-se uma fraca afluência às eleições. Será esta uma demonstração dos norte-americanos de que mais vale participar no processo de construção do país do que ficar em casa?

AI: Sem dúvida. Aqui as pessoas acreditam nas instituições. O povo sabe que no final do dia é dono do poder, ao contrário de outros países. Ninguém teve dúvida de que no final de quatro anos serão os cidadãos a decidir o próprio destino. Chegou o momento e as pessoas não pensaram duas vezes, independentemente da pandemia. As pessoas acreditam que este é o momento de reivindicar ou apoiar a América que querem escolher.

DW África: Ganhando Donald Trump ou Joe Biden, quais são as lições que se podem tirar destas eleições?

AI: Não há margem de erro quando se trata de um alto cargo. Não é um lugar de ensaio. Acho que o povo arriscou, deu um passo atrás e mudou isso. A lição é essa: vamos permitir aos carpinteiros fazerem camas, aos mecânicos consertarem carros e deixar quem realmente entende da política pública na política.

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DW África: Olhando para África, o que se pode aprender? 

AI: Muitas lideranças africanas podem estar a chorar neste momento por Trump estar a perder por incrível que pareça. Trump não tem uma política clara em relação a África. Isto deixou alguns dos nossos líderes confortáveis, porque não teve pressões dos Estados Unidos em termos de democracia e estabilidade em África. Para quem apoia a ditadura, para quem é antidemocrático, para aquele Presidente africano que se quer manter no poder, [a Presidência de Trump] era boa. 

DW África: Há ou não há a possibilidade de Biden ganhar?

AI: Para quem está de fora parece que praticamente Biden é Presidente, mas ainda há possibilidade de Trump ganhar. Ainda há cinco estados por apurar. Nevada e Georgia podem definir a eleição. Se Trump conseguir virar os resultados, e ganhar em todos os outros Estados, pode ser reeleito. Mas acredito que está mais para Biden do que para Trump.

DW África: Donald Trump veio dizer que houve muitas irregularidades neste processo. Acredita neste posicionamento? 

AI: Esse foi o momento mais triste da Presidência de Donald Trump: questionar a autoridade da democracia americana.

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