Milhares de pessoas saíram às ruas das principais cidades do Zimbabué para exigir a renúncia do presidente, Robert Mugabe. O líder do ZANU-PF parece estar a viver os últimos dias no comando depois de 37 anos no poder.
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Numa concentração que até há dias teria sido imediatamente reprimida pela polícia, cidadãos do Zimbabué visivelmente alegres saíram às ruas este sábado (18.11) de braços levantados em triunfo, escreve a Associated Press. Alguns dos manifestantes empunhavam cartazes com a imagem do chefe das Forças Armadas, Constantine Chiwenga, que no início desta semana colocou Mugabe sob prisão domiciliária.
As manifestações, designadas "marchas da solidariedade", foram convocadas por mais de uma centena de organizações civis, a união sindical e a influente associação de veteranos de guerra, e contam com o apoio das forças armadas, que controlam este país da África Austral desde terça-feira (14.11).
Os manifestantes foram, no entanto, travados quando se dirigiam para o palácio presidencial para pedir a saída do chefe de Estado, segundo um jornalista da AFP no local. Em sinal de protesto, centenas de populares sentaram-se no chão, a cerca de 200 metros da residência oficial do líder.
Figuras próximas do regime exigem demissão de Mugabe
A discórdia política e o descontentamento atingiram o centro do partido de Robert Mugabe, a União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (ZANU-PF). Para além da oposição e de várias associações civis, figuras centrais do partido exigem agora o afastamento do líder há 37 anos no poder.
Pelo menos oito dos 10 líderes provinciais pediram a saída de Robert Mugabe da Presidência, segundo anunciou na sexta-feira (17.11) a televisão estatal ZBC, que está sob controlo militar desde quarta-feira (15.11).
O dia de ontem (17.11) ficou marcado por uma "mudança”, depois de três dias de crise, com o início das negociações entre os militares e o Presidente de 93 anos, escrevem as agências de notícias internacionais. Pela primeira vez desde a intervenção militar, Robert Mugabe apareceu em público numa cerimónia de graduação numa universidade de Harare.
Intervenção para remover "criminosos”
O Zimbabué vive pela primeira vez uma divergência aberta entre o Presidente, que dirige o país desde 1980, e o exército.
Três explosões fortes foram ouvidas na noite de terça-feira na capital do Zimbabué, com vários veículos militares a saírem para as ruas de Harare. Os militares tomaram diversos edifícios públicos, incluindo a televisão e a rádio estatais, e transmitiram mensagens a garantir que o Presidente e a sua família estavam seguros, mas sob custódia militar.
Numa mensagem transmitida ao país na televisão pública, o major-general Subusiso Moyo disse que os militares estavam "apenas à procura dos criminosos que estão à sua volta e que cometem crimes que causam grande sofrimento social e económico" ao país. "Queremos levá-los à justiça", acrescentou.
A tensão escalou na semana passada depois de Mugabe ter demitido o seu vice-Presidente e aliado de longa data, Emmerson Mnangagwa, de 75 anos, que tinha estreitas ligações com os militares.
Na segunda-feira (13.11), o chefe das Forças Armadas, o general Constantino Chiwenga, condenou a demissão do vice-presidente do país e avisou que o exército poderia "intervir" se não acabasse a "purga" dentro do ZANU-PF, partido no poder desde a independência do Zimbabué.
Robert Mugabe é o chefe de Estado mais velho em funções em todo o mundo.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.