Munique: alegado caso de racismo gera discussão no Facebook
Cláudia Pereira
11 de julho de 2017
Nigeriano terá recusado pagar viagem de comboio na Alemanha e foi retirado à força por seguranças. Estaremos perante um caso de racismo? As opiniões dos internautas na página de Facebook da DW África dividem-se.
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Racismo: Vídeo denuncia violência com nigeriano em Munique
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Um vídeo que denuncia violência contra um nigeriano num comboio em Munique no sul da Alemanha indignou os utilizadores do Facebook. O homem de 48 anos terá sido retirado do comboio à força por seguranças dos comboios depois de alegadamente não ter comprado o bilhete e de ter recusado apresentar a sua identidade. A jornalista Natalija Miletic registou o momento em vídeo.
Em resposta, a empresa ferroviária alemã Deutsche Bahn lamenta o sucedido, mas rejeita as acusações de discriminação. Vários internautas acreditam que o passageiro nigeriano foi obrigado a sair do comboio, não por motivos de racismo, mas num caso de justiça, por não ter comprado o bilhete de comboio nem apresentado a sua identidade. "Se, na verdade, o homem não pagou, é justo os seguranças tentarem tirá-lo do comboio”, defende Pedro Lisboa, de Luanda na página do Facebook da DW África. "Ele foi retirado por não ter bilhete, não por ser negro. E foi imobilizado, nem sofreu agressões”, acrescenta Leandro Correia, do Rio de Janeiro.
Já a internauta de Luanda Filomena Serrão discorda. Acredita que "por não ter pago o bilhete não lhes dá o direito de agir assim”, e, por isso, considera que os seguranças devem ser julgados. Maddy Domingos, da Noruega, escreve que estes casos dariam tribunal: "na Noruega já aconteceram muitos casos destes, mas a polícia só atua em último caso e não trata assim o ser humano, pois aqui isso daria tribunal”.
"Se não pagas, acontece pior que isso”
Fenias Chirindza de Moçambique diz que "se não pagas, acontece pior que isso”. Uma opinião também partilhada por José Figueiredo de Maputo, que acrescenta que, se alguém usasse um transporte público sem dinheiro, "pedir-lhe-iam para sair e, no caso de resistência, iam usar a força”. Relata: "Já vi alguém a ser empurrado dum chapa [táxi coletivo] em movimento porque não tinha dinheiro." Tonito Macia de Angoche, na província de Nampula no norte de Moçambique, escreveu: "Aqui o cobrador lhe educaria com chave de roda." Do mesmo jeito é o comentário de Raphael Cinicau de Luanda: "Se fosse aqui em Angola ia apanhar uma surra dos polícias até ficar irreconhecível."
Manhique André, natural de Maputo, reforça que ao viajar "sem bilhete no autocarro pagas multa e no caso de não se ter o dinheiro para pagar, o motorista leva a pessoa à oficina dos Transportes Públicos de Maputo” para obrigar a lavar um autocarro. Outros defendem que se deve respeitar a lei. "Acima de tudo, nós, africanos, temos de aprender a viver segundo a lei”, escreve José Figueiredo. E acrescenta que, neste caso, o passageiro "nem foi agredido, fizeram o mínimo que poderia ser feito para obrigar alguém a sair".
Métodos sem violência
"Sabemos todos que temos outros métodos para tirar alguém que não pagou bilhete”, comentou no Facebook Bipamda Bobo de Luanda.
O utilizador Alfredo Sofia escreveu que o passageiro não devia ser "tratado como se fosse um animal”. Opinião de que Squi Dvid discorda pois acredita ser "normal que os seguranças usem a força para o retirar do comboio”, desde que não seja excessiva, tendo em conta que o passageiro mostrou resistência.
A polícia alemã está a investigar o caso e os funcionários envolvidos foram suspensos. A jornalista que captou o momento partilhou-o no Facebook e tem sido ameaçada por grupos de extrema direita. "Gostaria que isso [esta situação] estimulasse a discussão sobre o número crescente de incidentes com imigrantes, negros e pessoas de outras religiões”, conclui a autora do vídeo.
Racista e cruel, a história colonial da Alemanha
A exposição no Museu Histórico Alemão, em Berlim, é a primeira grande exibição que explora os capítulos do domínio colonial da Alemanha. Uma história da ambição falhada de uma superpotência.
Foto: public domain
A cara do colonialismo
Com o chanceler Otto von Bismarck, o Império Colonial Alemão estabeleceu-se nos territórios da atual Namíbia, Camarões, Togo e em algumas partes da Tanzânia e do Quénia. O imperador Guilherme II, coroado em 1888, tentou expandir os domínios coloniais. O imperador alemão queria um "lugar ao sol", como disse mais tarde, em 1897, o chanceler Bernhard von Bülow.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DW
Colónias alemãs
Foram conquistados territórios no Pacífico (Nova Guiné, Arquipélago de Bismarck, Ilhas Marshall e Salomão e Samoa) e na China (Tsingtao). A Conferência de Bruxelas em 1890 determinou que o imperador germânico iria obter os reinos do Ruanda e Burundi, ligando-os à África Oriental Alemã. No final do século XIX, as conquistas coloniais alemãs estavam praticamente completas.
Foto: picture-alliance / akg-images
Um sistema de desigualdades
A população branca nas colónias era uma minoria, raramente representava mais de 1% da população. Uma minoria privilegiada, contudo. Em 1914, cerca de 25 mil alemães viviam nas colónias, menos de metade no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia). Os 13 milhões de nativos das colónias alemãs eram vistos como subordinados, sem recurso ao sistema legal.
Foto: picture-alliance/dpa/arkivi
O primeiro genocídio do século XX
O genocídio contra os povos Herero e Nama no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia) é o mais grave crime na história colonial da Alemanha. Durante a Batalha de Waterberg, em 1904, a maioria dos rebeldes Herero fugiram para o deserto, onde as tropas alemãs bloquearam sistematicamente o acesso à água. Estima-se que morreram mais de 60 mil Hereros.
Foto: public domain
A culpa alemã
Apenas cerca de 16 mil Hereros sobreviveram ao extermínio. Foram depois detidos em campos de concentração, onde muitos acabaram por falecer. O número exato de vítimas continua por apurar e é ponto de controvérsia. Quanto tempo terão sobrevivido os Hereros depois de fugirem para o deserto? Eles perderam todos os seus bens, os seus meios de subsistência e as perspetivas de futuro.
Foto: public domain
Reformas em 1907
Depois das guerras coloniais, a administração das colónias alemãs foi reestruturada com o objetivo de melhorar as condições de vida. Bernhard Dernburg, um empreendedor de sucesso (na imagem, transportado na África Oriental Alemã), foi nomeado secretário de Estado dos Assuntos Coloniais em 1907 e introduziu reformas nas políticas coloniais da Alemanha.
Foto: picture alliance/akg-images
A ciência e as colónias
Com as reformas de Dernburg foram criadas instituições científicas e técnicas para lidarem com assuntos coloniais. Assim estabeleceram-se faculdades nas atuais universidades de Hamburgo e Kassel. Em 1906, Robert Koch dirigiu uma longa expedição à África Oriental para investigar a transmissão da doença do sono. A imagem demonstra amostras coletadas nessa expedição.
Foto: Deutsches Historisches Museum/T. Bruns
Uma das maiores guerras coloniais
De 1905 a 1907, uma ampla aliança de grupos étnicos rebelaram-se contra o poder na África Oriental Alemã. Cerca de 100 mil locais morreram na Revolta de Maji-Maji. Apesar de raramente discutido, este continua a ser um importante capítulo da história da Tanzânia.
Foto: Downluke
A perda das colónias
Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha assinou o tratado de paz de Versalhes, em 1919, que previa que o país renunciava a soberania sobre as colónias. Cartazes como este demonstram o medo dos alemães de, como consequência, perderem poder económico e viverem na pobreza e na miséria no seu país.
Foto: DW/J. Hitz
Ambições coloniais do "Terceiro Reich"
As aspirações coloniais voltaram a surgir com o nazismo e não apenas em relação à colonização da Europa Central e Oriental, através do genocídio e limpeza étnica. O regime nazi pretendia também recuperar as colónias perdidas em África, como demonstra este mapa escolar de 1938. Os territórios eram vistos como fonte de recursos para a Alemanha.
Foto: DW/J. Hitz
Processo espinhoso
As negociações para uma declaração conjunta do genocídio dos povos Herero e Nama entraram numa fase difícil. Enquanto a Alemanha trava quanto a compensações financeiras, há também deficiências nas estruturas políticas internas da Namíbia. Representantes Herero apresentaram, recentemente, uma queixa à ONU contra a sua exclusão nas negociações em curso.