Muxungué transformada numa vila fantasma
5 de abril de 2013 Na noite de quinta-feira (4.04), o Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, reagiu aos confrontos entre polícia e a RENAMO afirmando que "o povo não pode viver assustado". Contudo, a população de Muxungué continua em debandada, face ao clima de tensão que ali se vive.
Decorridos mais de 20 anos sobre o fim da guerra civil moçambicana, o país volta a reviver as memórias do conflito, após a morte de quatro membros da polícia e o ferimento de outros 10, em confrontos com antigos guerrilheiros da Resistência Nacional de Moçambique, o principal partido da oposição.
Para Silvério Runguane, analista político moçambicano, a hipótese de uma nova guerra civil é real. " Esta hipótese está em aberto. Não apenas em Moçambique, mas em qualquer país africano. Estamos a assistir em África ao ressurgimento de guerrilhas vitoriosas. Isso é uma grande tentação para qualquer grupo que tenha um exército. A existência em Moçambique de muita gente com capacidade militar contém todos os elementos para o surgimento de uma guerra civil".
Crise de consolidação do Estado ?
Os confrontos desta quinta-feira (4.04) terão sido provocados pela tentativa de desalojar ex-guerrilheiros da RENAMO, reunidos na sede de Muxungué, na preparação do boicote às eleições gerais e autárquicas, alegando que serão fraudulentas. Mas, Silvério Runguane tem uma perspectiva mais geral sobre esta tensão. "Neste momento estamos a viver uma crise de consolidação do Estado".
A contribuir para aumentar a possibilidade de uma guerra civil, explica o analista, estão também os interesses particulares pelas riquezas naturais moçambicanas, conjugados com a desigualdade social do país. "Acredito que a existência de grandes recursos e a desigualdade social tem um papel importante. É preciso perceber que em Moçambique a pobreza é um problema sério".
Para Raul Domingos, que chefiou a delegação do ex-movimento guerrilheiro nas negociações com o Governo conducentes à paz em 1992, os interesses à volta dos recursos naturais que estão a ser descobertos no país podem capitalizar a tensão e empurrar o país para uma nova guerra. "Há quem pense que desestabilizar o país pode facilitar o saque dos recursos naturais e estar por isso interessado na guerra", disse à agência LUSA. O facto de o país poder pagar com os recursos naturais um esforço de guerra também pode atiçar a cobiça dos vendedores de armas para fornecer material bélico às duas partes", afirmou o agora presidente do extraparlamentar Partido para a Democracia e Desenvolvimento (PDD).
FRELIMO mostra-se disposta ao diálogo
A RENAMO já se afirmou "preparada para a guerra" e, esta sexta-feira (5.04), o clima continua tenso. Em declarações à agência Lusa, o porta-voz da FRELIMO, Damião José, afirma que o seu partido "repudia a ameaça de retorno à violência", manifestando-se aberto ao diálogo.
Um diálogo que, por si só, não é suficiente, tal como sublinha Silvério Runguane. " Mais do que diálogo é importante a cedência e a criação de uma sociedade pluralista".
Uma série de conversações levadas a cabo pelo Governo da FRELIMO e pela RENAMO para ultrapassar os litígios em torno das exigências do principal partido da oposição, mas a força de Afonso Dhlakama retirou-se do processo. Ainda assim, para o partido no poder, os diferendos políticos devem ser resolvidos através do diálogo.