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Cultura

Alemanha: Moreira Chonguiça no Afrika Festival

Aude Gensbittel
1 de junho de 2018

Parceria musical com Manu Dibango serve para por fim a preconceitos sobre conflitos de gerações no mundo da música, diz Moreira Chonguiça. E o moçambicano acredita ainda que é possível sonhar África com outros músicos.

Músicos Manu Dibango (esq.) e Moreïra Chonguiça no Afrika Festival, AlemanhaFoto: DW/A. Gensbittel

Decorre de 31 de maio a 3 de junho a 30ª edição do Afrika Festival em Würzburg, aqui na Alemanha. Nomes sonantes da música africana estão a fazer a alegria dos alemães, e não só, no festival que é considerado um dos maiores do mundo no que se refere à música africana. E uma das estrelas é o saxofonista camaronês Manu Dibango que se faz acompanhar do saxofonista moçambicano Moreira Chonguiça. Para além de músico, o jovem moçambicano é compositor, produtor, etnomusicologista e empreendedor e já venceu vários prémios no seu continente. A DW África conversou com Chonguiça, principalmente sobre a sua relação profissional com o "homem do soul makossa".

DW: Como vocês, Manu Dibango e Moreira Chonguiça se conheceram?

Moreira Chonguiça (MC): Para mim conhecer o Manu Dibango foi quase um sonho que se materializou, uma coisa inacreditável, porque é uma daqueles artistas que só vemos nas revistas, nos LPs em Moçambique. Tive a oportunidade de o conhecer na Ilha de Robbin, Robbin Island em inglês, no ano 2000 aquando de concerto alusivo à passagem do milénio acho que proporcionado por Nelson Mandela. Para mim, como jovem africano, foi um sonho conhecer um astro africano da música mundial, sinto-me muito honrado.

DW África: Vocês os dois produziram um álbum conjunto, o M & M. Quer contar-nos como foi produzir esse álbum?

MC: O que gostei mais na cooperação com o papa Manu neste disco foi desmistificar [a ideia] de que os africanos não podem trabalhar juntos, neste disco também quebramos o preconceito da existência de conflitos de gerações, visto que o Manu Dibango hoje com 84 anos de idade e eu muito mais novo, com 41 anos, afinal podemos trabalhar em conjunto. Acho que de alguma maneira este disco é um espelho do que é o nosso sonho para o continente africano de que podemos viver, trabalhar e sonhar juntos. No que concerne à música tecnicamente, foi a coisa mais bonita em que já participei. Estamos a falar do "leão de África", o "homem do soul makossa" que atravessou vários oceanos através da sua música e trabalhou com os melhores do mundo e dar uma oportunidade a um jovem como eu vindo de Moçambique, eu venho da lusofonia e ele da francofonia... Isso mostra mais uma vez que como africanos somos unidos e usamos a música como uma plataforma para contribuir, de alguma maneira, para [quebrar] com os estereótipos negativos relacionados connosco, africanos. Então, foi para além da música.

Moreira Chonguiça, saxofonista moçambicanoFoto: Getty Images for The Africa-America Institute

DW: O que te levou ao mundo da música? E porque escolheu especialmente o saxofone?

MC: Tenho quase a certeza de que o que me levou a música foi a influência familiar, muito em particular do meu falecido pai e do meu tio, por causa da qualidade de música que ouvíamos em casa, que passava pelo jazz, bossa-nova... E depois mais tarde entrei na Escola Nacional de Música em Maputo, hoje sou músico e vivo de música. No que concerne ao saxofone, eu nunca pensei que um dia seria saxofonista, costumo dizer que a música e o saxofone é que me escolheram. E de alguma forma a influência familiar é muito forte, porque o meu pai era um grande apaixonado pela música e no que concerne ao jazz, se a memória não me falha, ouvia mais saxofonistas e trompetistas, talvez por aí acabei por tocar saxofone.

DW África: Gravaram este álbum em Paris. O que acha que se pode fazer para se desenvolver mais infraestruturas musicais, estúdios de gravação em África? Porque faltam estúdios em muitos países...

Alemanha: Moreira Chonguiça no Afrika Festival

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MC: É necessário, sim senhora, criarmos plataformas tipo estúdios em África para aquilo que se chama documentação com qualidade internacional para expôr o que África tem de melhor, que é a sua música neste caso em particular. É verdade, gravámos em Paris, sim, mas seria bom se tivéssemos mais estruturas  como as que usamos em Paris em Moçambique, porque no fim do dia o talento que existe em África e agora com a plataforma de educação que está a ser criada é importante que exista uma estrutura para se expôr e os estúdios são uma componente muito importante para disso.

DW África: Como se sente por participar na 30ª edição do Afrika Festival em Würzburg?

MC: Primeiro é importante estar no festival, mas é mais importante estar na 30ª edição, mais importante também é estar na edição de homenagem a Manu Dibango, que é patrono do Festival há 30 anos, já sei que é homenageado de cinco em cinco anos. Estão a homenagear o papa Manu e temos um disco juntos, então é muito especial este momento. Para além de estar no festival, é um cocktail de muitas emoções. O papa Manu deu-me uma oportunidade, fizemos o disco, que lançamos na Cidade do Cabo no ano passado e foi um sucesso na Cape Town International... hoje estamos aqui e o papa Manu hoje vai ser homenageado, é a 30ª edição e eu estou na boleia, agarrado a ele, e é o maior festival de música africana do mundo. Estou muito emocionado, muito nervoso, mas sinto-me muito, muito honrado em poder estar aqui.

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