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Nhongo ameaça inviabilizar a realização das eleições gerais

26 de agosto de 2019

O líder da autoproclamada "Junta Militar da RENAMO” ameaça inviabilizar a realização das eleições de 15 de outubro, se o executivo não negociar com seu grupo a implementação do DDR, e acusa o Governo de enganar o povo.

RENAMO Guerillakämpfer in Gorongosa, Mosambik
Mariano Nhogo (à esquerda)Foto: DW/A. Sebastiao

Em entrevista exclusiva à DW África, esta segunda-feira (26.08), Nhongo voltou acusar o líder da RENAMO, Ossufo Momade de ser um homem infiltrado no seio do maior partido da oposição moçambicana, acrescentando que "a RENAMO são os militares. Nós nunca vamos aceitar Ossufo candidatar-se às eleições pela RENAMO”.

Por outro lado, o presidente da autoproclamada "Junta Militar da RENAMO”, garante que continua disposto a negociar com o Governo sobre o DDR [Desarmamento, Desmobilização e Reintegração].

DW África: O senhor Mariano Nhongo sempre disse que quer negociar com o Governo a implementação do DDR. Já iniciou os contactos para isso?

Mariano Nhongo (MN): Não. Ainda vou reunir-me com os deputados da RENAMO, no Parlamento moçambicano, para criarmos uma comissão que vai iniciar os contactos com o Governo.

DW África: Quando é que será esta reunião com os deputados? E quem são eles?

MN: Ainda hoje (26.08) falei com eles, mas não está definida a data. Você quer saber quem são os deputados? Não conhece os deputados da RENAMO no Parlamento? São estes mesmo com quem vou me reunir.

DW-África: Mas há dias, o porta-voz da "Junta Militar” disse à imprensa que os deputados da RENAMO não iriam votar a transformação do Acordo de Paz Definitiva e Reconciliação Nacional, assinado no dia 06 de agosto em lei no Parlamento. No entanto, vimo-los a votarem a favor. Quem são estes deputados que o sr. Mariano Nhongo fala?

Mariano Nhongo - líder da "Junta Militar da RENAMO"Foto: DW/A. Sebastiao

MN: Já disse, os deputados da RENAMO.DW África: Vocês ["Junta Militar], continuam a não reconhecer a liderança do sr. Ossufo Momade como presidente da RENAMO. E o partido diz que já começaram conversações convosco, como "família”. Confirma-se?

MN: Não. Nós não temos mais conversa com o Ossufo Momade. Queremos conversar com o Governo. Os militares elegeram-me como presidente. Ossufo foi rejeitado pelos militares. Não temos mais nenhum programa com ele, não nos forcem a aceitá-lo, senão vão arranjar guerra connosco.  

DW África: Você e seus homens são membros da RENAMO. Existe um diálogo interno para pôr fim a este impasse?

MN: Eu quero dizer a verdade, o Governo está a enganar a RENAMO e o povo moçambicano quando diz que esse é um problema interno. Se é problema interno porque assinou acordo com Ossufo Momade? Desde quando eu e os militares da RENAMO começamos a falar que não queríamos Ossufo? Mas o Governo assinou o acordo com ele. Isso é provocação e desprezo pelos militares da RENAMO. Nós vamos mostrar ao país quem somos.

DW África: Como?

MN: Como é que você começou a ouvir falar da RENAMO? Da forma que ela iniciou, vai voltar a fazer o mesmo [referindo-se aos ataques].

DW África: Existe uma previsão de quando isso pode acontecer?

MN: O Governo levou um indivíduo que não conhece nada da RENAMO e o colocou na liderança do partido. Mas nós estamos a par disso. Se o executivo não perceber isso, vou vos comunicar o dia em que vou iniciar a guerra. Agora, ainda não prefiro guerra.

DW África: Quer dizer que prefere um diálogo?

MN: Sim. Mas se o Governo pensar que vai nos dominar, está enganado. Vamos obrigá-lo a negociar connosco o DDR.

"Não haverá eleições se o Governo não quiser negociar connosco”, ameaça Mariano Nhongo

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DW África: Há dias circularam informações dando conta de um suposto ataque a uma ambulância na região da Gorongosa. O senhor está informado sobre este ataque?

MN: Eu já apelei ao Governo, não nos obriguem a termos Ossufo como nosso presidente e nos forçou. Então, assim eu já não tenho voz para controlar os militares. Esses guerrilheiros que estão a atacar, eu já perdi o controlo deles. Estão espalhados. Cada qual onde está, faz o que quer. Nós nunca vamos aceitar Ossufo candidatar-se como Presidente da Resistência Nacional Moçambicana [RENAMO]. Se é guerra que querem vamos a isso. 

DW África: No dia 31 de agosto começa a campanha eleitoral e vocês ainda estão desavindos com a liderança do partido. Qual é o próximo passo?

Foto: DW/L. da Conceição

MN: Nós rejeitamos Ossufo. O Governo deve negociar connosco para que tudo corra bem. Que haja eleições e campanha eleitoral sem problemas. Senão conversar connosco, não haverá campanha e nem eleições. Nós vamos lutar convosco [Governo]. Queremos ver quem é esse (…) que vai andar por aí a gritar vote em mim (…), vamos matar. Vou colocar armas em todos os distritos e vamos emboscar os que vão fazer campanha porque deixaram a RENAMO de fora. Levaram um individuo qualquer e colocaram na frente do partido. Não gostamos disso. Não há campanha e não há votação, afirmo eu Mariano Nhongo - presidente da Junta Militar e estou disposto a lutar com o Governo. Não podem gozar connosco, saímos de longe. Não gostamos destas brincadeiras. Ossufo não é presidente da RENAMO, deixaram-nos de lado e foram negociar com alguém que não sabe nada do partido. Se é luta armada que estão a procura vamos a isso até quando quiserem conversar connosco.   DW África: Já apresentaram uma proposta concreta ao Governo para tal adiamento das eleições de que tanto falam?

MN: Não há eleições e não há campanha eleitoral. Primeiro devem sentar e falar com os donos do partido RENAMO. Ossufo não é dono do partido. Nós somos a RENAMO.

DW África: Qual RENAMO de que diz serem donos? RENAMO militar ou civil?

MN: Não existe RENAMO civil. Desde muito tempo há uma RENAMO militar. As forças militares é que são o partido. Se o Governo quer trabalhar com a RENAMO civil pode, e nos deixe como estamos, mas um dia vai procurar por nós. A RENAMO somos nós os militares. Levamos civis colocamos como membros, mas o partido somos nós. 

DW África: Como é que a RENAMO pretende governar o país, se continua militarizada?

MN: A intenção da RENAMO é negociar com o Governo, para sermos enquadrados nas forças de Defesa e Segurança, Polícia da República de Moçambique (PRM), Unidade de Intervenção Rápida (UIR), Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE), e os que não tiverem capacidade física serem desmobilizados.

DW África: E é essa a vossa maior reclamação?

MN: Sim. Primeiro haver enquadramento, o resto vai no acantonamento e entrega das armas e já está.

Foto: DW/A. Sebastião

DW África: Mas este processo já está acontecer no quadro do acordo de cessão das hostilidades militares assinado na Gorongosa?

MN: Não, viste quem que já entregou as armas? Já estamos a ser enquadrados. A arma é última coisa a ser entregue. No dia 22 de agosto (quinta-feira) passou uma equipa a dizer que temos que entregar as armas, era para nos enquadrar? Era apenas para nos arrancar as armas e depois nos abandonar.

DW África: Mas o Acordo de Paz Definitiva e Reconciliação Nacional, assinado no Maputo no dia 06 de agosto, prevê isso?

MN: Não há acordo que foi assinado. Se o Governo quer acabar com a guerra deve assinar estes acordos com a RENAMO. Já disse, Ossufo não é a RENAMO. Procure considerar os militares da RENAMO, dai haverá acantonamento e depois o cumprimento do DDR. Mas o Governo não quer entender isso e insiste no Ossufo.  

Foto: DW/A. Sebastiao

DW África: Mas o sr. Ossufo foi eleito em Congresso da RENAMO, realizado na Serra da Gorongosa. Como é que diz que ele não é presidente do partido?

MN: Ele foi eleito por amigos dele de Maputo. Não há militar que elegeu Ossufo Momade como presidente do partido. Nós vimos que ele é uma pessoa comprada e quer estragar o nosso partido. E rejeitamos entregar os nossos homens. E os militares escolheram o seu presidente. E é este que vai levar todos os militares da RENAMO ao enquadramento e desmobilização e não haverá guerra.  

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