Sem chuvas, agricultores da província da Zambézia não conseguem cultivar as lavouras, que desde o ano passado estão improdutivas. Governo diz que ajuda com a distribuição de alimentos na região.
Publicidade
A falta de chuva e o excesso de calor estão a ameaçar as lavouras na região central de Moçambique. A população já sofre com a escassez de alimentos. Na província da Zambézia, mais de 115 mil pessoas são afetadas pela seca, de acordo com o Governo. Caso esta situação continue, segundo dados oficiais, o número de carenciados naquela província poderá triplicar ainda no primeiro semestre deste ano.
A agricultora Marta Martinho diz que a situação é cada vez mais alarmante. "Estamos a passar mal, não houve chuva nestes últimos três anos. Está ficando cada vez pior. Sou idosa e nunca vi algo assim. Este ano está ainda pior cá em Quelimane", relata.
Com a ameaça de fome, devido à baixa produção agrícola, dezenas de pessoas, na região de Maquival, recorrem a médicos tradicionais para tentar que a chuva caia.
Os moradores contam que, além da seca, há falta de comida e muitos alunos já começaram a abandonar a escola em Maquival. "Estamos mal. Vivíamos de batata e mangas. As mangas já terminaram, não sabemos o que vamos fazer", conta à DW África Emílio Paulo, morador da região. "Não temos nada, mesmo!"
"Não temos nada para comer"
Com a seca, as lavouras estão improdutivas, segundo os agricultores. Juleca Arune diz que o mesmo problema ocorreu no ano passado.
10.02.17 Seca Zambézia - MP3-Mono
"Não há humidade nas machambas. Lançámos as sementes de arroz por duas vezes, mas mesmo assim não germinou. Não sabemos o que vamos fazer este ano. No ano passado também foi assim, não há nada que se possa esperar, a época da sementeira já passou, não temos nada para comer", relata.
No entanto, outro camponês, Laurindo Mpala, tem esperanças que a chuva volte a cair. "Vou continuar a cultivar, mesmo que a terra esteja seca. Não posso parar, a agricultura é minha única atividade. Caso abandone o cultivo da terra, não terei nada que fazer em casa. Prefiro estar cá para me divertir", pondera.
Ajuda às vítimas da seca
Segundo o Governo moçambicano, desde 2016, pelo menos 115,7 mil pessoas foram fortemente afetadas pela fome na província da Zambézia. Paulo Tomas, do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades da Zambézia, garante que as autoridades estão a trabalhar junto das comunidades.
"Estamos a apoiar estas vítimas que estão em situação muito difícil, dando arroz e feijão manteiga. Tenho informações de que nos próximos dias a cooperação chinesa vai doar mais arroz, que chegará também a essas pessoas carenciadas", assegura Tomas.
O cenário é completamente diferente de outras regiões do país. Nas províncias de Inhambane e Gaza, no sul, devido às cheias, centenas de pessoas estão desalojadas, habitações e campos agrícolas foram destruídos.
Seca em África
Não chove, as colheitas são más, pouco há para comer, há quem consuma ervas para saciar a fome: É a pior seca das últimas décadas. 14 milhões de pessoas estão em perigo. Angola e Moçambique são dois dos países afetados.
Foto: Reuters/T. Negeri
À espera de água
Os jerricans estão vazios, não há água à vista. A Etiópia atravessa a pior seca das últimas três décadas, sem chover durante meses a fio. Segundo as Nações Unidas, mais de dez milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência alimentar. Em breve, o número pode duplicar.
Foto: Reuters/T. Negeri
Sem fonte de sustento
Uma grande parte dos etíopes vive da agricultura e da criação de gado. Os animais são, muitas vezes, a fonte de sustento da família. "Vi as últimas gotas de chuva durante o Ramadão", conta um agricultor da região de Afar, no nordeste da Etiópia. O mês de jejum dos muçulmanos terminou em julho. "Desde essa altura, nunca mais choveu. Não há água, não há pasto. O nosso gado morreu".
Foto: Reuters/T. Negeri
Perigo para as crianças
Em 1984, mais de um milhão de pessoas morreu de fome na Etiópia. Pouco mais de três décadas depois, os etíopes voltam a correr perigo, sobretudo as crianças. Segundo o Governo etíope, mais de 400.000 rapazes e raparigas estão gravemente subnutridos e precisam de tratamento médico.
Foto: Reuters/T. Negeri
O El Niño
A colheita também foi magra no Zimbabué. Neste campo perto da capital, Harare, em vez de maçarocas de milho viçosas crescem apenas estes grãos secos. A seca foi agravada pelo El Niño. Noutros locais, o fenómeno meteorológico provocou chuvas fortes e inundações.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
No limite
Esta vaca está no limite das suas forças, mal consegue manter-se em pé. Os agricultores de Masvingo, no centro do Zimbabué, tentam movê-la. Em 2015, choveu metade do que havia chovido no ano anterior. Os campos ficaram completamente secos.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca em Moçambique
"Lá no nosso bairro já perdi trinta e cinco cabeças", conta um criador de gado do distrito de Moamba, a 80 quilómetros da capital moçambicana, Maputo. Milhares de famílias estão em situação de insegurança alimentar. A seca afeta principalmente o sul do país. O norte e centro têm sido fustigados por chuvas intensas.
Foto: DW/R. da Silva
Ervas para combater a fome
A província do Cunene, no sul de Angola, também tem sido afetada pela seca. À falta de outros alimentos, há populares que comem ervas para saciar a fome: "Muitos morreram, não há comida. Mas, depois, estas ervas causam diarreia", contou um morador do município do Curoca.
Foto: DW/A.Vieira
Rio seco
Seria impossível estar aqui, não fosse a seca. O rio Black Umfolozi, a nordeste da cidade sul-africana de Durban, ficou sem água à superfície. Só cavando os habitantes conseguem obter o líquido vital.
Foto: Reuters/R. Ward
Seca inflaciona os preços
O Malawi também atravessa um período de seca. E isso reflete-se aqui neste mercado perto da capital, Lilongwe. Os preços de produtos básicos como o milho aumentaram bastante, porque a colheita foi má e é necessário importá-los. Muitas vezes, os habitantes mal conseguem pagar os alimentos que precisam para sobreviver.