1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Níger e Benim precisam um do outro, mas prejudicam-se

António Cascais
15 de maio de 2024

O Benim bloqueia a exportação de petróleo bruto do Níger para a China. O Níger recusa-se a abrir as suas fronteiras terrestres às mercadorias provenientes do Benim. O que está por trás da guerra comercial?

Foto de arquivo: Plataforma de petróleo na Nigéria
Foto: PIUS UTOMI EKPEI/AFP

O Benim bloqueou a exportação de petróleo bruto do Níger para a China, uma medida que tem profundas implicações económicas e políticas. Tudo começou com o golpe militar no Níger em julho de 2023, que resultou na detenção do Presidente Mohamed Bazoum.

As consequências desse ato foram rápidas, com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) a condenar o golpe e a impor sanções ao novo regime militar do Níger, liderado pelo general Abdourahamane Tiani. Em resposta, e temendo uma intervenção, o Níger fechou as suas fronteiras com o Benim.

Ulf Laessing, diretor do Programa Regional do Sahel da Fundação Konrad Adenauer, que visitou o Níger recentemente, descreve a situação na região fronteiriça com o Benim: "O Níger ainda não abriu a fronteira com o Benim. Há também várias unidades do Exército nigerino na fronteira com o Benim".

Laessing diz que "o Governo nigerino continua a recear que a CEDEAO ou a França tentem reintegrar o Presidente deposto através de uma intervenção militar. Mesmo que isso seja completamente irrealista. Mas há uma certa paranóia no Níger. O Benim está agora a exercer pressão e diz que as exportações de petróleo através do oleoduto para o porto de Cotonou só podem começar quando a fronteira for reaberta."

Fronteira entre o Benim e Níger, em MalanvilleFoto: AFP/Getty Images

Economia do Benim prejudicada

Com as fronteiras fechadas, o comércio entre os dois países praticamente parou, afetando severamente a economia do Benim que, antes do golpe, era uma rota crucial para as importações do Níger.

Em retaliação, o Benim bloqueou as exportações de petróleo do Níger para a China, prejudicando um negócio lucrativo e minando a única alternativa económica viável para a junta militar do Níger.

A decisão do Benim de bloquear, para já, a exportação de crude nigerino para a China através dos portos beninenses é, "pelo menos compreensível", na opinião de David Morgan, analista político do Benim.

"Isto poderia inserir-se numa lógica de reciprocidade que visa levar a parte nigeriana a abrir as suas fronteiras para que as populações dos dois lados possam reencontrar a dinâmica comercial que existe há muito tempo", diz.

Ulf Laessing, diretor do Programa Regional do Sahel da Fundação Konrad AdenauerFoto: Privat

China como mediador?

A situação no Níger é particularmente desesperadora, destaca Ulf Laessing: "O Níger tem estado em dificuldades financeiras desde o golpe militar de julho de 2023. Os países ocidentais suspenderam a cooperação para o desenvolvimento e vários programas, com excepção da ajuda humanitária."

"É por isso que as exportações de petróleo, que devem começar agora, são tão importantes para o regime nigerino", acrescenta.

Entretanto, o papel da China neste conflito poderá ser central, já que é um comprador importante do petróleo do Níger.

"A China tem boas relações com ambos os países", comenta Laessing. "Provavelmente, vai tentar mediar o conflito. Afinal de contas, foi a China que construiu o oleoduto. E são também as empresas chinesas que compram o petróleo do Níger."

Derramamento de petróleo no Delta do Níger

05:52

This browser does not support the video element.

Saltar a secção Mais sobre este tema