Níger: Eleições históricas rumo à transição democrática
AP | AFP | Bob Barry | Nafissa Amadou
27 de dezembro de 2020
Presidenciais e parlamentares deste domingo poderão marcar a primeira transferência democrática de poder na história do Níger.
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Uma boa afluência foi observada na capital Niamey ao longo deste domingo (27.12), disseram os observadores.
"O equipamento estava bem instalado e o primeiro eleitor pôde votar,'' pouco depois das oito horas da manhã na escola Diori em Niamey, de acordo com o chefe da mesa de voto de lá, Khadija Hassan.
Outros centros de votação na capital também relataram sucesso, apesar das restrições em vigor devido à Covid-19.
"Este é um dia especial para o Níger, que verá pela primeira vez na sua história uma transferência democrática de poder", disse o Presidente cessante Mahamadou Issoufou, após votar na capital Niamey.
"Esta primeira transferência de poder, espero, permitirá ao Níger consolidar o seu estatuto como modelo de democracia em África e no mundo. Acredito que estas eleições serão livres e transparentes, a Comissão Eleitoral fez tudo o que era necessário para garantir isso", acrescentou o Presidente.
O candidato nomeado pelo Presidente para a sucessão, Mohamed Bazoum, do Partido Nigerino para a Democracia e o Socialismo (PNDS), no poder, foi considerado o favorito nessas eleições. Também ele elogiou o trabalho da comissão eleitoral.
"É a primeira vez desde que participo em eleições que, mesmo nas áreas mais remotas, as mesas de voto foram estabelecidas no dia anterior e não no próprio dia da votação. Foram criadas também condições que permitem que todos os candidatos estejam igualmente representados. Estas são as condiçõs que garantem transparência e equidade nesta votação", avaliou Bazoum.
Votação no interior
Os jihadistas da zona do Sahel operam no sudoeste do país e o grupo terrorista Boko Haram está ativo no sudeste. Cerca de 460.000 pessoas já fugiram da violência.
Entretanto, também em regiões particularmente afetadas pelo terrorismo houve votação. De Diffa, o jornalista Marah Mahamadou relatou à DW África que uma explosão no vizinho Chade, espantou alguns eleitores.
"As mesas de voto abriram muito cedo. Mas depois, infelizmente, ouvimos duas grandes explosões e isso espalhou muito medo. As pessoas acalmaram-se mais tarde de novo", contou.
O correspondente da DW em Zinder Tidjani Mohamed disse que "não houve incidentes importantes que tenham afetado o processo eleitoral em Zinder, nem mesmo nas aldeias remotas nos arredores".
Candidatos presidenciais
Os antigos chefes de Estado Mahamane Ousmane e Salou Djibo também encontram-se entre os candidatos. O antigo chefe de governo Hama Amadou, há muito considerado o adversário mais promissor de Bazoum, foi desqualificado do escrutínio em novembro depois de ter sido condenado por tráfico de crianças em 2017.
Issoufou não se candidatou à reeleição após dois mandatos e um total de dez anos no cargo, respeitando a Constituição. Cerca de 7,4 milhões de pessoas foram registadas para votar e chamadas a escolher um novo Presidente. Os resultados são esperados na quarta (30.12) ou quinta-feira (31.12), de acordo com informações da Comissão Eleitoral.
O Níger está entre os países mais pobres do mundo, com um quinto da sua população de 23 milhões de habitantes dependentes da ajuda alimentar.
15 momentos que marcaram o "annus horribilis" de 2020
2020 ficará para sempre conhecido como o ano da pandemia de Covid-19. Entretanto, foi também marcado por momentos-chave a vários níveis - desde a morte de George Floyd, nos EUA, às manifestações em Angola.
Foto: Jacob King/REUTERS
Isabel dos Santos e o caso "Luanda Leaks"
Em janeiro, a empresária angolana foi constituída arguida por alegado desvio de fundos na petrolífera estatal Sonangol. Ao longo do ano, teve arrestadas as suas contas bancárias e participações da NOS em Portugal, testemunhou a nacionalização da sua parte na Efacec e, ainda, viu o hacker português Rui Pinto - fonte dos documentos que levaram ao "Luanda Leaks" - aguardar o julgamento em liberdade.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Metzel
Sissoco Embaló: Tomada de posse "simbólica"
Em fevereiro, Umaro Sissoco Embaló tomou posse como Presidente da Guiné-Bissau à revelia do Supremo Tribunal de Justiça. Estava ainda em curso um contencioso eleitoral interposto pelo opositor Domingos Simões Pereira, que apelidou a tomada de posse de "golpe de Estado". O novo Presidente demitiu o Governo liderado por Aristides Gomes, nomeando o novo Executivo do primeiro-ministro Nuno Nabiam.
Foto: DW/I. Dansó
OMS declara pandemia de Covid-19
Todos os PALOP entraram em estado de emergência depois da declaração da Organização Mundial da Saúde, em março. A pandemia levou ao adiamento de vários eventos mundiais, como os Jogos Olímpicos e o Campeonato Africano das Nações (CAN). Em abril, mais da metade da população mundial estava confinada em casa.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Gonchar
"I can't breathe": A morte de George Floyd
O afro-americano morreu em maio nos EUA, sufocado por um polícia que colocou o joelho sobre o seu pescoço durante durante 8 minutos e 46 segundos. A frase "I can't breathe" ("Não consigo respirar"), proferida por Floyd antes de morrer, tornou-se viral. A morte motivou protestos antirracismo em todo o mundo, levou à vandalização de estátuas coloniais e impulsionou o movimento Black Lives Matter.
Foto: Getty Images/S. Maturen
"Perseguição política" na Guiné-Bissau
Em maio, o deputado Marciano Indi foi sequestrado após ter expressado opiniões que terão desagradado ao Presidente guineense. O ano ficou também marcado pelo rapto e sequestro de vários ativistas, alegadamente por seguranças de Sissoco Embaló. A agitação política levou o ex-primeiro-ministro Aristides Gomes (na foto) a refugiar-se na sede da ONU em Bissau. Gomes fala em "perseguição política".
Foto: DW/B. Darame
Cabo Verde processado por violação dos direitos humanos
O empresário Alex Saab foi detido na ilha do Sal, em junho, mediante mandado de captura dos EUA, que o consideram um testa-de-ferro do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Saab denunciou ter sido torturado na prisão a mando dos EUA. Pela primeira vez, Cabo Verde foi processado por violar direitos humanos no seu território. Em dezembro, a CEDEAO ordenou a prisão domiciliária do colombiano.
Foto: Governo de Cabo Verde
Moção de censura contra Governo de STP
Em julho, o principal partido da oposição são-tomense, a Ação Democrática Independente (ADI), apresentou uma moção de censura contra o Governo do primeiro-ministro Jorge Bom Jesus. A gestão dos fundos contra a Covid-19 foi um dos motivos apresentados pela ADI, que acusou ainda o Executivo de agir com "práticas sistemáticas de ilegalidades". A moção foi rejeitada pelo Parlamento são-tomense.
Foto: DW/R. Graça
Tragédia em Beirute
Em agosto, uma explosão no porto de Beirute, provocada por 2,7 toneladas de nitrato de amónio, devastou grande parte da capital libanesa, provocando mais de 200 mortos e 6.500 feridos. A carga de amónio era uma encomenda da Fábrica de Explosivos de Moçambique e tinha como destino o porto da Beira. Contudo, o navio ficou retido em Beirute por ordem das autoridades locais e a carga foi substituída.
Foto: Getty Images/AFP/STR
"Zenu" condenado no caso "500 milhões"
O filho dos ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, José Filomeno 'Zenu' dos Santos, foi condenado em agosto a cinco anos de prisão por crimes de burla e defraudação, peculato e tráfico de influências. Em causa está uma transferência irregular de 500 milhões de dólares do banco central angolano para a conta de uma empresa privada estrangeira sediada em Londres.
Foto: Grayling
Luta contra a corrupção continua em Angola
Ainda este ano, o empresário Carlos São Vicente ficou em prisão preventiva e o ex-ministro da Comunicação Social Manuel Rabelais (na foto) começou a ser julgado. Ambos são acusados de peculato e branqueamento de capitais. Por outro lado, Edeltrudes Costa, diretor de Gabinete do Presidente João Lourenço, não é alvo de qualquer processo, apesar de alegado envolvimento em escândalos de corrupção.
Foto: Imago/Xinhua
Incêndio na redação do Canal de Moçambique
O editor-executivo do semanário classificou o incêndio ocorrido em agosto nos escritórios do Canal de Moçambique como "atentado terrorista contra liberdade de expressão e de imprensa", acrescentando que "uns são raptados e outros são intimidados". Matias Guente refere-se, por exemplo, ao caso do jornalista Ibrahimo Mbaruco, desaparecido desde abril na província nortenha de Cabo Delgado.
Foto: Adriano Nuvunga/CDD
EI diz ter tomado porto de Mocímboa da Praia
A 11 de agosto, um grupo de homens armados anunciou a tomada do porto da vila de Mocímboa da Praia. O grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ataque. O número de deslocados da província nortenha de Cabo Delgado escalou exponenciamente. Em dezembro, o Governo moçambicano anunciou que pelo menos 560 mil cidadãos tiveram de fugir do conflito.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Biden vence eleições norte-americanas
Novembro foi o mês em que Donald Trump sofreu a derrota nas presidenciais dos EUA. Mas o republicano queixou-se sucessivamente de fraude eleitoral, sem apresentar provas. A Casa Branca terá novos ocupantes: Joe Biden e Kamala Harris, a primeira mulher eleita vice-Presidente dos EUA. Filha de pai jamaicano e de mãe indiana, Harris será também a primeira mulher negra a ocupar o posto.
Foto: Andrew Harnik/Getty Images
Dia da Independência em Angola marcado por manifestações
O dia 11 de novembro foi o mais intenso das manifestações por melhores condições de vida e pela realização das primeiras eleições autárquicas em Angola. A polícia reprimiu o protesto violentamente. A morte do jovem manifestante Inocêncio Matos gerou indignação. Várias pessoas ficaram feridas, incluindo o ativista Nito Alves. Luaty Beirão e outros ativistas foram detidos.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Covid-19: A corrida da vacina
O Reino Unido foi o primeiro país a aprovar a vacina da Pfizer/BioNTech, aplicada pela primeira vez em dezembro. A primeira pessoa a receber a vacina contra a Covid-19 foi uma mulher britânica de 90 anos (na foto). O dia do arranque do programa de imunização foi apelidado de Dia-V, numa clara alusão ao Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial.