Número de novos refugiados dispara em "ano de crises"
20 de junho de 2012 Pelo quinto ano consecutivo, o número de refugiados ultrapassou os 40 milhões em todo o mundo. De acordo com um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), intitulado "Um ano de crises", em 2011, 3 milhões e meio de pessoas tiveram de sair das suas casas, apesar de não terem atravessado a fronteira.
Somando este dado às cerca de 800 mil que se viram forçadas a abandonar os seus países, o ano passado viu surgir quase 4 milhões e meio de novos deslocados, devido a conflitos ou perseguições. Fatoumata Lejeune-Kaba, do ACNUR, afirma que “2011 foi um ano muito difícil na frente humanitária, com muitas crises.". E acrescenta: "consequentemente, tivemos 800 mil novos refugiados em apenas um ano. O que é muito, não tínhamos tantos novos refugiados desde 2000.”
No final do ano passado, o número global de refugiados, externos ou internos, situava-se nos 42,5 milhões, dos quais 25,9 milhões recebiam protecção e assistência do ACNUR.
Refugiados mantêm-se na região de origem
De acordo com o relatório do Alto Comissariado, os países em desenvolvimento acolhiam, no final de 2011, quatro quintos dos refugiados do mundo e mais de 2 milhões viviam nos 48 países menos desenvolvidos. A grande maioria dos refugiados, cerca de 80%, tende a manter-se na região do seu pais de origem.
Fatoumata Lejeune-Kaba exemplifica com as crises vividas em África: “Por exemplo, a situação da Somália. Ainda há muita insegurança, o ano passado foi particularmente difícil para a população, por causa da fome. E isso colocou muita pressão no Quénia, o país vizinho". Mas este não é o único caso, segundo a responsável: "A outra situação em África foi a Costa do Marfim. Consequentemente, havia 200 mil marfinenses a viver em 13 países da África Ocidental. Felizmente, a maioria já voltou para casa".
Fim do estatuto de refugiados leva angolanos a regressar
O mesmo está a acontecer com os refugiados angolanos. Recentemente, o ACNUR anunciou que quase 14 mil já foram repatriados desde Novembro de 2011, acelerando o processo de retorno para antes da cessação do estatuto de refugiado. Fatoumata Lejeune-Kaba falou à DW África do fenómeno: “A 30 de Junho, o estatuto de refugiado, para a maioria deles, vai terminar. A certo ponto, esse estatuto tem que chegar ao fim, quando as circunstâncias que levaram as pessoas a fugir em massa já não existem".
Mas o regresso dos 600 mil angolanos que fugiram do país durante a guerra da independência de Portugal não é um processo simples. De acordo com a responsável do ACNUR, “implica uma grande coordenação entre os países de acolhimento e o país de origem, neste caso, Angola". E os próprios refugiados são também chamados a participar no processo: "É-lhes dado a escolher entre a repatriação ou ficar permanentemente onde estão. Mas, recentemente, temos visto muitos angolanos a decidir ir para casa antes mesmo do limite de 30 de Junho e isso é muito encorajador, porque significa que não são mais refugiados e que poderão continuar a viver as suas vidas normalmente.”
Actualmente, cerca de 120 mil angolanos permanecem refugiados, a maior parte na República Democrática do Congo e na Zâmbia. Em parceria com os governos locais, o Alto Comissariado está a trabalhar para considerar a integração local como opção para os refugiados que escolherem não voltar, especialmente para aqueles que possuem fortes laços com o país de refúgio.
Esta quarta-feira, Dia Mundial do Refugiado, o ACNUR está a apelar à comunidade internacional para fazer mais no que diz respeito à integração dos deslocados, entendendo a diversidade como uma riqueza.
Autora: Maria João Pinto
Edição: António Rocha